Beleza Americana é uma obra multifacetada, existem vários pontos relevantes envolvendo o longa que gostaria de externar aqui, então vou a principio expressar meu ponto de vista acerca de alguns fatos relacionados ao longa. PRIMEIRO: De fato, o filme apesar de ter seus méritos, foi absurdamente supervalorizado tanto pela crítica, quanto por boa parte do público na época de seu lançamento, no já distante ano de 1999. Foi certamente um dos melhores filmes daquele ano, mas com certeza não o melhor como bradaram vários críticos norte-americanos na época. SEGUNDO: Também é certo que seu sucesso nas premiações foi fruto principalmente do lobby de seus realizadores(Spielberg, produtor executivo, quer mais?), não há como negar o corporativismo que existe nessas temporadas de premiação. Irmãos Weinstein, Spielberg e vários outros quase todo ano emplacam filmes dirigidos ou escritos/produzidos por eles. É aquela velha máxima, quando o show business deixa de ser show e passa a ser só ''business'', você já sabe o que vem em diante...TERCEIRO: Não é um filme artisticamente lá muito relevante mesmo, pode até ter alguns recursos inovadores, ideias originais e tal, mas nada excepcional ou que se destaque mesmo. Óbvio, está muito longe de ser dispensável, surpreende com sua estética sofisticada e visual belo(sobretudo a fotografia, linda, uma coisa rara em filmes com essa temática). Enfim, uma obra com muitos méritos, realmente não é de se jogar fora, mas também não é a obra-prima bradada por muitos. Beleza Americana é um filme sensível sobre paixão, redenção, e principalmente, hipocrisia. Várias parábolas sobre o estilo de vida da sociedade estadunidense estão presentes no filme, elaboradas com extrema sensibilidade e perspicácia por Allan Bell. Mas a força do filme está mesmo no elenco afiado, se Annette Bening entrega uma de suas melhores performances em décadas como a desnaturada Carolyn, Kevin Spacey arrebenta de vez na pele do já icônico Lester Burnham, sem dúvida um de seus melhores trabalhos. O cast coadjuvante também não decepciona, Tora Birch segue a linha crescente de começo de carreira promissor, que se confirmaria mais tarde em Mundo Cão. E não me esqueci de Mena Suvari, a bela atriz apesar de limitada consegue convencer no papel de gostosona insegura. Outro aspecto positivo do filme é a direção contida, mas eficiente de Sam Mendes, o então jovem diretor não arriscou muito, apostou em planos simples e cenas rápidas, não quis inventar muito, principal mal dos diretores de filmes deste gênero. Mas justamente pelo fato de seu trabalho ser contido e sem inspiração (embora bem eficiente), torna-se ainda mais absurda sua vitória(ainda mais diante de um então brilhante M. Night Shyamalan), uma vitória claro, fruto do lobby mercadológico. É um filme muito bom, mas que poderia ser excelente se não tivesse algumas falhas que chegam até a irritar bastante o público, como por exemplo, a narração em off que marca principalmente a primeira metade do longa, um recurso narrativo que no meu ponto de vista não cabe em um filme com esta temática, além de ser usado de forma absolutamente dispensável para fins principalmente cômicos(sem sucesso). O dispensável recurso de narração em off também é muito mal utilizado no final, que aliás, é um dos poucos pontos fracos do roteiro, era pra ter sido emocionante(confesso que me emocionei da primeira vez que vi), mas depois de repetidas vezes assistido acaba soando forçado e até meio piegas. Enfim, é um filme que está longe de ser uma obra-prima, que contém sim algumas falhas bem irritantes, mas que não afetam o resultado geral, e não tem como terminar o filme não pensando nos personagens e em seus dilemas morais. Muito bom!