Depois de assistir a esse filme, demorei um pouquinho para digerir o impacto que ele me causou. Afinal, não é só o amor que é estranho neste filme. A vida é estranha. As pessoas são estranhas. Tudo na verdade é estranho, basta olhar com atenção. O filme narra a história de George (Alfred Molina) e Ben (John Lithgow), um casal gay que tem uma relação duradoura por 39 anos, até decidirem se casar. Logo depois do casamento, George é demitido e os dois são forçados a conviver com seus familiares temporariamente, já que eles não têm mais como manter o apartamento onde vivem com essa nova realidade financeira. George vai morar com um casal de amigos policiais (também gays), que curtem recepcionar pessoas em sua casa para festas e afins. Ben vai morar com o sobrinho, que é casado com Kate (Marisa Tomei) e tem um filho adolescente. O filme tem como um dos pontos fortes a interpretação magnífica de seus protagonistas. Molina e Lithgow dão um banho de emoção e sensibilidade, em papeis difíceis e complexos, e uma cumplicidade em cena ímpar. Marisa Tomei, como de costume, também está ótima. O mesmo não se pode falar de Charlie Tahan, que faz o filho adolescente do sobrinho de Ben, e cujo personagem cresce de importância na trama. O rapaz é muito fraco, e nas cenas emotivas destoa completamente do resto dos atores mais tarimbados. Mas isso é o de menos. O filme tem um roteiro bastante linear, que mostra o cotidiano de maneira bem realista, e diria até mesmo dura. A sensação de incômodo que George e Ben carregam por dependerem dos amigos próximos, como se fossem fardos a serem carregados, tirando a tranquilidade e privacidade aos quais estavam acostumados tanto eles quanto aos que os hospedam. Há momentos de bom humor, falas muito bem boladas, mas o filme carrega consigo um tom dramático crescente, que chega a quase sufocar. Algumas cenas são prolongadas por demais, buscando uma beleza triste que em determinado momento causa aflição. É um filme bastante bonito, com um final que me surpreendeu, mais por ser inesperado do que mirabolante. Uma obra que causa reflexão em como o amor enfrenta as adversidades, e principalmente como a vida prega peças e pessoas mudam de perspectiva quando o calo aperta. Uma fala do personagem de Lithgow resume muito bem o espírito do filme: “Quando convivemos com as pessoas, as conhecemos melhor do que queríamos”. Vale bastante a pena assistir, mas prepare-se para uma boa dose de melancolia.