Em “Quero Matar Meu Chefe” (2011) três amigos, Nick (Jason Bateman), Kurt (Jason Sudeikis) e Dale (Charlie Day), deram um basta para os abusos que sofriam no local de trabalho e decidiram que era hora de se vingar contra seus horríveis e maldosos chefes (Kevin Spacey, Jennifer Anniston e Colin Farrell), chegando ao absurdo de bolarem um plano e executá-lo na tentativa de mata-los. Inclusive, aquela não foi a primeira vez que Kevin Spacey interpretou um chefe “do mal”. Em 1994, como Buddy Ackerman (no filme “O Preço da Ambição”), Spacey era um grande produtor que tratava muito mal seus funcionários. Porém, naquela oportunidade, um jovem subordinado decidiu sequestra-lo, para revidar as humilhações sofridas. E, na verdade, isso não chega a ser tão absurdo, pois na vida real sabemos que há patrões tão abusivos e cruéis como o(s) personagem(ns) de Kevin Spacey. Alguns outros exemplos de chefes maldosos na história da comédia recente no cinema podem ser Frank Cross (Bill Murray), um executivo de televisão mesquinho e cafajeste que infernizava a vida de seus empregados em “Os Fantasmas Conta Atacam” (1988); John Ammer (David Hasselhoff), um chefe que trata Michael Newman (Adam Sandler), como seu escravo pessoal em “Click” (2006); Miranda Priestly (Meryl Streep) em “O Diabo Veste Prada” (2007) e Bill Lumbergh (Gary Cole), talvez o mais irritante exemplo de chefe abusivo, no ótimo “Como Enlouquecer Seu Chefe” (1999).
Então a continuação chega aos cinemas reunindo um grande elenco, e um novo diretor assume o trabalho, o roteirista Sean Anders (“Família do Bagulho”, 2013). Desta vez, os três amigos decidem se tornar seus próprios “chefes”, buscando investimento para uma invenção que chamaram de “Amigo de Banho”, uma espécie de chuveiro que mistura automaticamente o shampoo na cabeça de quem usa, facilitando ainda mais a tarefa e o dia a dia das pessoas. Só que, com um misto de ingenuidade e falta de experiência, acabam caindo em um golpe de um investidor milionário e precisam urgentemente conseguir arcar com todos os custos da produção do seu produto, “míseros” meio milhão de dólares.
“Quero Matar Meu Chefe 2” é bastante engraçado em alguns momentos, sendo que vale a pena exaltar que se trata de uma comédia adulta, com situações, diálogos e piadas bastante relacionado a sexo – nos EUA recebeu a classificação “R-rated”, ou seja, para maiores de 18. Aqui no Brasil o filme foi classificado para maiores de 14 anos. Bom, a vantagem de se fazer uma comédia, é que – ao contrário do drama, que busca se aproximar da realidade – os personagens frequentemente se envolvem em situações absurdas e não importa o quão ridículas elas sejam, sempre há uma forma de se consertar tudo. Mas, mesmo sendo filmes mais despretensiosos com relação ao mundo real, existem algumas “regras” que precisam ser observadas, e que infelizmente, nem todos os filmes conseguem satisfatoriamente atingi-las. Por exemplo, que tipo de comédia é essa? Não é uma comédia intelectual, como as do brilhante Woody Allen, mas também não chega a ser uma comédia pastelão básica, com apenas trapalhadas e piadas visuais (pancadas, tombos, explosões, etc.).
Como quem procura um “meio termo” para agradar a todos, o filme busca se encaixar em um tipo de comédia situacional, onde o que realmente nos faz rir é a situação em que os personagens se encontram, traçando um tipo de empatia do público com nossos “heróis”. Não deve ser difícil imaginar que o público-alvo são pessoas adultas, que trabalham e que provavelmente tenham um chefe. E isso é o que torna o filme atrativo, a chance de se sentir na “pele” daqueles trabalhadores frequentemente passados para trás e saborear nossa vingança contra o chefe antagonista. O interessante nesta história era rir do vilão, e não apenas de nossas trapalhadas. E é exatamente aí que o diretor Sean Anders não consegue atingir o alvo certo.
Apoiado por boas participações, como Jamie Foxx, Jennifer Anniston e o melhor de todos, Kevin Spacey (verdade, mesmo com pouquíssimo tempo na tela ele se sobressai novamente), embora faça boas referências a filmes consagrados do gênero como “Ausin Powers”, na engraçada cena de abertura do filme, que lembra a icônica cena da barraca entre Mike Myers e Heather Graham, ou no “auto-espancamento” de Chris Pine, que é seguido de um comentário como: “Xi, baixou o Clube da Luta nele!”, “Quero Matar Meu Chefe 2” é um filme que realmente irá arrancar algumas gargalhadas de quem for fã do filme original, e com certeza tem potencial para atrair novos seguidores caso exista uma outra sequência, mas um elenco de tanta qualidade, me pareceu desperdiçado, talvez pelo fato de que seus chefes já haviam sido derrotados no primeiro filme, então não havia um real objetivo para tal sequência, a não ser se aproveitar de temas atuais como economia e empreendedorismo.
Com um olhar mais crítico, fica a impressão que o resultado poderia ser melhor. A ótima química do trio principal é o que sustenta o interesse, com o atrapalhado e inseguro Charlie Day, o tarado e “tapado” Jason Sudeikis e o desconfiado mas também ingênuo Jason Bateman. Uma espécie de Três Patetas moderno que realmente faz rir, mas como eu disse, neste caso seria muito mais engraçado poder rir da desgraça do vilão e não apenas das trapalhadas dos heróis, só que infelizmente não é o que acontece.