Tim Burton é daqueles cineastas que causa alvoroço a cada lançamento de um novo filme. Uma horda de fãs cativos, sempre com expectativas nas alturas, vai às salas de cinema mundo afora para apreciar o estilo único, soturno, estranho e inigualável do diretor. Porém já faz um bom tempo que ele não brinda esses mesmos fãs com um filme à altura de seu talento. Não que seus últimos filmes sejam execráveis, mas estão longe do brilhantismo de outrora, e definitivamente não foi desta vez que as grandes expectativas foram alcançadas. Li o livro de Ramson Riggs que deu origem ao filme, e na contracapa há a citação do diretor, que se pergunta se não foi ele quem teria escrito o livro, já que parece algo que ele teria feito. E é verdade. Quem lê o livro automaticamente remete ao estilo do diretor de contar estórias. Um texto muito bem desenvolvido, com toques bizarros, humor, romance e ar sombrio. A comparação é sempre injusta, mas o desenvolvimento do livro é infinitamente mais abrangente e interessante. No filme, não há tempo para esmiuçar as densidades e nuances dos personagens. É muita informação que tem que ser resumida a duas horas de filme, e o roteiro não consegue projetar nenhum grau de profundidade nos excêntricos e carismáticos personagens. Aliás, Asa Butterfield não foi a melhor escolha para viver o protagonista Jacob, pois o que mais falta ao ator é carisma. É estranho ver o rapaz já crescido (lembro-me claramente de seus dois trabalhos mais marcantes, ainda pequeno, como o garoto Bruno de O Menino do Pijama Listrado e como o protagonista do superestimado A Invenção de Hugo Cabret), mas mesmo depois de anos de experiência, falta expressividade ao jovem ator. A blasé Ella Purnell faz o par romântico de Jake (num papel cujas características no livro eram divididas em duas personagens), e os dois não tem química alguma. Do elenco, o destaque mesmo vai para a avassaladora Eva Green, que foi a melhor coisa de Sombras da Noite (também dirigido por Burton), e aqui também demonstra ser o melhor que o filme tem a oferecer. É um imenso prazer ver a atriz francesa na telona, já que seus maneirismos roubam a cena. É a melhor personagem desta obra, sem sombra de dúvida. Os excepcionais Samuel L. Jackson, Terence Stamp e Dame Judi Dench dão muito bem a conta do recado também. Os efeitos visuais são bem interessantes, e a parte técnica é bem realizada, mas o problema do filme é que falta vigor e intensidade. Grande parte do que vemos soa frio e insosso. Aliás, não há como não comentar que o primeiro e segundo atos do filme são até bem fieis ao livro, mas no ato final, além de se distanciar bastante da narração do livro, o filme se torna uma correria superficial e tipicamente americana, numa grandiloquência forçada. A impressão é que vemos um filme de aventura infanto-juvenil sem alma, sem força, sem brilho e, consequentemente, sem graça. Acabou que ficou faltando justamente as peculiaridades do cineasta para abrilhantar a narrativa. Vale a conferida, por ter uma história interessante e cativante, e pelos grandes nomes do elenco, mas é muito pouco para as possibilidades que Burton tinha em mãos. Filme mediano, com aquele gostinho meio amargo de desapontamento.