Depois de "Voo 93", Paul Greengrass volta a retratar o uso da violência, pelas sociedades subjugadas e miseráveis, contra o imperialismo norte-americano ("Vocês doam comida para a África porque vêm aqui, roubam nossos peixes e não deixam nada para a gente", desabafa o pirata somali para Phillips). Greengrass, portanto, escapa da armadilha hollywoodiana que costumeiramente enaltece o ufanismo e a xenofobia da América, o que faz bem para a concepção política do filme. Acima de tudo, o enredo busca questionar as diferentes formas de dominação existentes entre as pessoas e as sociedades, estabelecendo que o dominador de uma relação pode figurar como dominado de outra (perceba-se que, na segunda metade do filme, Phillips deixa de ser o capitão - o somali é quem está no comando). A ação se passa, no início, no portentoso navio Alabama, e, no fim, no tímido barco salva-vidas, o que termina sendo uma interessante metáfora da disparidade econômica existente entre os EUA e a África. A propósito, deslocar a trama para o minúsculo barco faz muito bem para o desenvolvimento da tensão, pois obriga Greengrass a filmar em close (acentuando os olhares e expressões nervosas dos personagens) num cenário de insuportável claustrofobia. Desse modo, quem procura apenas um bom divertimento terá aqui um suspense extremamente competente.