O Homem Elefante é um filme de David Linch, baseado na história real de Joseph Merrick (retratado como John Merrick), um homem desfigurado fisicamente, mas cuja beleza interna o tornou encantador até aos mais assustados olhos. O filme foi lançado em 1980 e recebeu inúmeras indicações ao Oscar, além de vencer outros vários prêmios, como o BAFTA de Melhor Filme, em 1981. Além do renomado diretor, conta com um elenco recheado de grandes nomes da época, como Anthony Hopkins, John Hurt, John Gielgud e Anne Bancroft.
A história se inicia com a mãe de Merrick sendo atacada por elefantes, fato que supostamente explicaria a má formação do filho. Na sequência, a obra avança para um Merrick já crescido e sendo atração em um “freak show” ou “show de horrores” nos arredores de Londres.
Em uma dessas apresentações, o médico Frederick Treves, interpretado por Anthony Hopkins, surge interessado em conhecer mais à fundo a “aberração”. Para tanto, ele apresenta-se à Barry, o homem de certa forma responsável por John e explorador da sua deficiência. Tendo o mesmo como uma fonte de renda, Barry mostra-se desde o início um aproveitador nato, e enxerga o interesse do médico como oportunidade de ganhar uma renda extra, apresentando mais intimamente a sua “atração” a ele.
Após ver o rapaz pela primeira vez, Treves reage com uma mescla de espanto e admiração, entendendo estar à frente de algo inédito para ele e para a ciência médica, como um todo. Assim, pede a Barry que leve-o até o hospital no dia seguinte, para poder examiná-lo. Barry assim o faz, mas a visita acaba durando mais tempo que o previsto, o que o deixa enfurecido e o leva a espancar Merrick quando este finalmente reaparece. A surra deixa Merrick mal de saúde e torna-se um pretexto para que o médico o leve novamente ao hospital, para tratá-lo por uns dias. A partir daí, inicia-se uma relação de médico e paciente entre os dois, que posteriormente evolui para amizade.
Os primeiros contatos entre Treves e Merrick são difíceis, pois o primeiro não tem qualquer informação sobre seu paciente, que dá a entender não saber falar, além de ter algum tipo de deficiência intelectual. Com o passar do tempo, porém, Merrick vai sentindo confiança e demonstrando que não só sabe falar, como é dotado de muita inteligência. Com o apoio da direção do Hospital, o doutor Treves consegue livrar Merrick de seu explorador, criando um lar para ele no próprio hospital.
A notícia do “homem elefante” começa a se espalhar por toda a cidade, e pessoas da alta classe concorrem para conhecer o astro improvável. Merrick se mostra uma pessoa doce, gentil, inteligente e digna de todo o respeito. Em nenhum momento a dor, o preconceito, e as deformidades físicas são tratadas por ele como motivo para se vitimizar ou culpar o mundo. Pelo contrário, sua postura de grandeza como ser humano o faz conquistar até a mais alta sociedade britânica, incluindo a Princesa de Gales e estrelas do teatro.
Como nem tudo são flores, os holofotes também trazem novos aproveitadores. Um dos funcionários do hospital passa a levar, em segredo, curiosos para conhecer a “atração”, em troca de alguns bons trocados. Em uma dessas visitas, Merrick acaba sendo raptado pelo seu eterno carrasco, Barry. Este o leva até a França, para recomeçar sua carreira no freak show. Felizmente, após algum tempo, com a ajuda de colegas do meio, o homem elefante consegue escapar e voltar até Londres. Na volta, ele recebe um grande assédio de curiosos que, espantados com a “aberração” quase o lincham em praça pública. Por sorte, a situação acaba chamando a atenção da polícia, que o leva ao reencontro de seu médico e amigo.
Voltando à vida digna de antes, Merrick se sente novamente bem e feliz. A felicidade, no entanto, faz com que ele resolva experimentar, pela primeira vez, a sensação de deitar-se em uma cama, como uma pessoa normal e realizada. Devido ao risco causado por suas deformidades, ele nunca pôde se dar ao luxo dessa experiência, de forma que dormia sempre sentado. Contudo, em plena consciência, Merrick retira os inúmeros travesseiros que apoiam sua coluna na cama, e deita-se, finalmente, para a morte.
Esta excelente produção merecia muito mais prêmios que os efetivamente conquistados. Algumas curiosidades reforçam a alta qualidade em reproduzir tão bela história: a maquiagem do homem elefante levava cerca de 8 horas para ser concluída e ficou extremamente semelhante ao caso real, tomando por base as fotos da época; essa mesma maquiagem levava cerca de 12 horas para ser completamente removida do ator John Hurt. Ator este que merece todas as honrarias pela dificílima e tão bem executada interpretação, valendo-lhe o BAFTA de melhor ator em 1981.
O Homem Elefante trata-se de uma história incrivelmente triste, mas que consegue retratar a beleza na sua mais assustadora forma. Uma história que expõe a fragilidade do ser humano, a intolerância e preconceito da sociedade e o conflito ético mesmo quando se faz o bem (Dr. Treves por vezes se vê como um explorador de Merrick, tal qual seu carrasco Barry, por tê-lo exposto ao mundo na tentativa de ampará-lo). Por fim, nos mostra que não culpar o mundo por nossas próprias mazelas e rejeitar o vitimismo, pode tornar digno, o mais aparente indigno dos homens.