Allen, como é fácil de perceber por seus filmes, é nova-iorquino e apaixonado pela Big Apple. Nascido em 1935, esse velhinho já contabiliza nada menos que 43 filmes dirigidos (todos também escritos por ele), 23 nomeações da Academia e quatro Oscars (incluindo um de melhor diretor). O último deles, por sinal, foi conquistado no último domingo – a estatueta de melhor roteiro original por Meia-Noite em Paris (Midnight in Paris), outro filme de que certamente falarei em um post futuro. A produção que vou recomendar hoje, contudo, não se popularizou tanto quanto esse e outros filmes de Allen, e talvez até nem seja mesmo uma de suas melhores obras, mas certamente vale pela boa atuação, pelas risadas garantidas e pela excelente “moral da história”, abertamente explícita no final do filme.
Produzido em 2009 e com Larry David e Evan Rachel Wood como protagonistas, Tudo pode dar certo (Whatever Works) relata a história de Boris Yelnikoff, um professor aposentado da Universidade Columbia e hoje um professor de xadrez dos mais rabugentos e intolerantes. Divorciado, ele evita se relacionar com outras pessoas, tendo contato apenas com seus alunos de xadrez (que humilha e menospreza constantemente) e com seus velhos amigos (que critica por não se equipararem intelectualmente a ele). Sua vida muda completamente quando, um dia, ao voltar para casa, Boris encontra uma jovem de 21 anos – Melodie – dormindo na porta de sua casa. Relutantemente, ele a deixa entrar para comer alguma coisa e contar sua história. Papo vai, papo vem, Boris acaba permitindo que ela fique em sua casa até encontrar um emprego.
Surpreendentemente, a jovem acaba se interessando pelo velho rabugento e ele, após muita insistência por parte dela, acaba cedendo e os dois se casam após alguns meses de convivência. Pouco depois, a mãe de Melodie aparece, dizendo que a esteve procurando durante todo esse tempo. Ela, obviamente, não fica nada feliz em ver que a filha está casada com um senhor mal-humorado e faz de tudo para “ajeitar” a filha com um rapaz que se mostrou interessado por ela um dia em um restaurante. Isso enquanto ela própria se “ajeita” com um amigo de Boris e passa a viver e trabalhar com ele, como fotógrafa. Não bastasse toda essa confusão, o pai de Melodie também surge na história. Apesar de sua intenção inicial ser procurar a esposa e a filha, ele acaba fazendo uma descoberta absolutamente inusitada, e o rumo de sua vida também é completamente modificado.
Após muitas idas, vindas e reviravoltas divertidíssimas, o filme termina em uma festa de ano novo na casa de Boris, completamente diferente do que começou. Pessoas que você jamais imaginaria convivendo em harmonia estão conversando e rindo juntas e casais que você jamais imaginaria possíveis estão trocando juras de amor eterno. E é nesse momento que o próprio Boris explica o título do filme (cuja tradução, cá entre nós, mais uma vez perdeu boa parte do sentido) e nos dá aquela “moral da história” tão preciosa que só quem viu/vir o filme vai saber!