O filme é uma grande mistura de ciência, relações humanas, sentimentos e, principalmente, uma lição de fé em nós mesmos. Nolan mistura nos personagens facetas diferentes de nós próprios, seja quando queremos apagar aquilo que não convêm, ou mesmo tornarmo-nos pessoas diferentes a depender da situação em que vivemos, mesmo que isso signifique recuar a uma posição de teimosia tamanha quanto a cegueira que leva à ignorância.
Mas, mais do que isso, o filme demonstra que cada ser humano pode misturar a frieza e a racionalidade de um cientista com o calor emocional de qualquer um de nós. Assim, a ciência é usada para criar situações e saídas impossíveis de se buscar num filme “não sci-fi”, ao trazer à tela momentos teoricamente intocáveis de uma mesma civilização, que ao fim das contas, tem o tecido rasgado através do olhar da “quinta dimensão”, e assim começam a se comunicar e fazer parte uns dos outros.
Com isso, o filme consegue comprovar sua fé indefectível na própria humanidade, ainda que muitos de nós ainda não se canse de tentar jogarmos para o ceticismo, o revisionismo, e mesmo para o simples egoísmo, não importa quão sábio presumimos ser.
Ainda se pode ousar dizer que a coragem, o senso de humor e até a parcial sinceridade de TARS e CASE, e que inclusive causam o espectador certo apego aos robôs, traduzem bem como qualquer um pode ser bem quisto, muito útil, mas ainda assim, dispensável, ainda que muito bem programável. A metáfora é ambiciosa e profunda quando pensamos que isso acontece todos os dias na sociedade, mas que, se não fossem robôs, talvez não aceitassem seu próprio sacrifício, e assim resolvessem lutar por sua própria sobrevivência como lutou Dr. Mann.
Ao tocar no ponto do que nos leva à evolução como seres humanos, a película é brilhante a apontar que, ao final, aquele sentimento de Brand ainda no começo da trama que julgamos um mero sinal de desespero e fraqueza é, na verdade, a própria evolução intangível do ser humano: o amor.
Assim, temos uma mensagem belíssima e profunda: que a crença na humanidade não deve morrer, ainda que muitas vezes a resposta não esteja diante de nossos olhos – e esta é, no fim das contas, a razão de não se desistir da jornada – pois sempre se faz possível buscarmos a constante melhora, mesmo que aprendamos com erros passados. Uma bela obra, que deve ser analisada para muito além de sua (muito bem criada) produção e efeitos.