Christopher Nolan é dono de uma filmografia invejável (e memorável), com obras inesquecíveis como Amnésia, Cavaleiro das Trevas, O Grande Truque e A Origem. Todos os filmes são racionais, cerebrais, com conceitos complexos; característica do diretor. Afinal, esse é o principal fator que difere Nolan de outros grandes diretores: ele pouco fala sobre assuntos como amor e família em suas obras, negligenciando o “coração”, ao contrário de Spielberg, por exemplo.
Spielberg, inclusive, deveria ser o diretor deste Interstellar, mas acabou não assumindo o longa. Nolan, então, usando toda sua influência, agarrou o projeto para si. O curioso é que, apesar de não estar envolvido no projeto, o filme tem muito de Spielberg, principalmente o primeiro ato, quando vemos cenas, e até a fotografia, que lembram E.T. e Contatos Imediatos de Terceiro Grau. Mas o que realmente lembra o diretor destes e tantos outros filmes é, quem diria, o amor, a família. Nolan envereda pela primeira vez em conceitos tão trabalhados pelo companheiro de profissão, e o resultado final dessa nova empreitada é memorável e, ao mesmo tempo, frustrante.
Logo no primeiro ato, aliás, vemos algo incomum em filmes de Nolan, pois o principal foco é a relação do personagem de McConaughey e de sua filha, sem falar na cena de caça ao drone. Podem parecer apenas coincidências, mas são apenas o início de um tema pertinente em todo o filme.
Ainda no primeiro ato, somos introduzidos à família de McConaughey e a situação atual da Terra. E aqui Nolan merece aplausos, pois não inventou nada exagerado, ele mostra que a Terra se encontra em tamanha decadência e degradação devido à superpopulação e à forma como ela esbanjava os recursos naturais, algo sutil, mas que nos faz pensar e temer pelo nosso próprio futuro. Estes problemas levam o personagem a uma viagem interstelar, através de um buraco-de-minhoca, para procurar algum outro planeta habitável para essa população. Nesse momento, Nolan mais uma vez enfatiza a relação familiar mostrando o impacto que a filha teve com a partida do pai.
A partir daí, Nolan parece levar a ciência ainda mais a sério, explicando cada conceito para não deixar nada vazio, e o filme decola, pois o segundo ato é grandioso e intenso. Os atores, assim como a direção de Nolan e a excelente trilha de Hans Zimmer, são magníficos ao mostrar o peso de cada escolha, as consequências de cada erro e tudo que está em jogo, mesclando perfeitamente tudo que fazia até ali o filme ser uma experiência fantástica.
Porém, no terceiro ato, Nolan assume de vez o lado “coração” de sua obra, e, ao mostrar certa imaturidade no conceito, acaba diminuindo muito o crédito do longa que vinha caminhando bem até o momento. Usado constantemente no filme, o termo amor era justificado para gerar questionamentos morais e impactantes cenas dramáticas. No entanto, neste terceiro ato, o “amor” surge como uma solução preguiçosa para o que vinha sendo construído até ali, prejudicando o longa.
Ao fim, a sensação é de que Interstellar é uma experiência marcante e decepcionante ao mesmo tempo e, infelizmente, a respeito das comparações, Interstellar não consegue ser tão intenso quanto Gravidade nem tão contemplativo quanto 2001.