Pense bem: quantos dramas você já viu em 3D? Filmes sem explosões, sem aventura, sem super-heróis, apenas com pessoas comuns em situações comuns? Os casos são raros, mas o festival de Berlim 2015 apresentou à imprensa nesta terça-feira o drama Tudo Vai Dar Certo, que exigia o uso dos óculos em três dimensões.
O diretor Wim Wenders (que já tinha experimentado o 3D em Pina) conta a história de um escritor (James Franco) traumatizado após ter acidentalmente atropelado e matado uma criança. A trama segue as dores deste personagem, de sua esposa (Rachel McAdams) e da mãe da vítima (Charlotte Gainsbourg). Mas para quê o 3D? Wenders explora a neve caindo em três dimensões, além da sujeira nos vidros da casa e dos personagens em diferentes cômodos. Talvez seja menos espetacular do que Os Vingadores, mas ainda chama a atenção.
O problema de Tudo Vai Dar Certo está na história fria, condensada demais e sem tempo para os personagens desenvolverem seus conflitos. No papel, James Franco tem uma atuação lamentável, parecendo anestesiado, ou sob efeito de algum medicamento pesado. O público saiu da sessão em silêncio total. Talvez agora se compreenda porque o filme do famoso diretor alemão não foi escolhido para a competição oficial...
Rússia S/A
Mais cedo, a Berlinale trouxe ao público a inusitada comédia dramática Under Electric Clouds, que combina sete histórias de personagens perdidos ou em dificuldades nas grandes cidades russas. Existe o arquiteto arrogante, o imigrante que não fala russo, a herdeira que defende as obras controversas de seu pai... A estrutura surreal e desconexa lembra outro filme recente, o brasileiro Brasil S/A, que também buscava sintetizar seu país através de esquetes lúdicas.
Algumas piadas podem despertar o riso, mas de maneira geral, estas histórias desconexas também não apresentam um contexto, nem tentam desenvolver alguma ideia precisa. As diversas referências a ícones da cultura russa podem ficar clara para alguns espectadores cultos, mas é difícil pensar que uma história tão hermética possa conquistar o público fora de seu país.