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    Que Horas Ela Volta?
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    Kamila A.
    Kamila A.

    7.508 seguidores 802 críticas Seguir usuário

    5,0
    Enviada em 2 de setembro de 2015
    Meus pais, quando se casaram, ainda jovens, tiveram que deixar para trás a sua cidade (Campina Grande-PB), para firmar residência em Natal-RN, onde eles poderiam ter mais oportunidades nas suas recém-iniciadas trajetórias profissionais. Na viagem, foram acompanhados por Nina, empregada doméstica da família, também paraibana, analfabeta, e que, ao decidir seguir meus pais, deixou também para trás a sua família (mãe, irmãos, um filho). Em Natal, meus pais constituíram família, tiveram três filhas, as quais foram cuidadas e criadas com muito amor e carinho por Nina. Minha mãe, que era bancária e tinha uma rotina de trabalho muito atribulada, não conseguia, muitas vezes, acompanhar tarefas escolares, preparar a farda do colégio, brincar com a gente, conversar... Nina é parte de nossa família. Mas, ao mesmo tempo, Nina sabia que existia um limite que ela nunca deveria ultrapassar.

    A história que contei rapidamente aqui é a de Nina. Mas a trajetória dela e a de muitas outras empregadas domésticas anônimas foi retratada de uma maneira emocionante e singela pela diretora e roteirista Anna Muylaert no filme “Que Horas Ela Volta?”. Na estrutura narrativa do filme, é importante ressaltar o paralelismo que existe entre as figuras das mães do filme. Bárbara (Karine Teles), uma profissional de sucesso, que fez da profissão a sua prioridade e que não consegue se aproximar do filho Fabinho (Michel Joelsas); não é muito diferente de Val (Regina Casé), que deixou o Estado de Pernambuco para se mudar para São Paulo, com o objetivo de poder proporcionar melhores condições de vida para sua filha Jéssica (Camila Márdila), o que, obviamente, acabou fazendo com que ela se distanciasse da menina.

    Val, assim como Nina, morava integralmente na casa de seus patrões. Por estar sempre ali, presente, acabou se transformando na referência de Fabinho. Por estar sempre ali, presente, provavelmente Val acabou transferindo todo o amor que daria para Jéssica para o filho de seus patrões. Inconscientemente, talvez, mas por amor à sua filha, para se manter fiel ao propósito que a levou à São Paulo, Val aguentava todo e qualquer sacrifício (o quarto minúsculo, apertado, quente, a rotina puxada de trabalho).

    Nesse sentido, “Que Horas Ela Volta?” é um filme sobre a mudança cultural e social vista no nosso país em anos recentes. Val é o produto de um Brasil patriarcal, dominado por relações injustas de trabalho, por papeis sociais pré-determinados, por diferenças exacerbadas entre as classes sociais. Isso fica nitidamente explícito quando, treze anos após deixar Pernambuco, Val recebe a notícia de que Jéssica quer vir à São Paulo, assim como ela, em busca de melhores oportunidades, da chance de poder prestar vestibular em uma boa universidade.

    Aí está a principal e notável diferença. Se, no Brasil patriarcal, a mudança vinha por meio do esforço físico, do trabalho duro e dedicado; hoje, o motor principal para a transformação social vem da educação, da instrução, das oportunidades iguais de acesso ao ensino. Jéssica revoluciona, não só o mundo da sua mãe, como também o mundo hipócrita dos patrões dela. Para Jéssica, que teve a sua mente expandida por meio do contato com professores que incutiram nela a necessidade da reflexão do mundo que se encontra à nossa volta, todos somos iguais e somos donos dos nossos próprios destinos.

    Entender as nuances desse conflito é compreender a beleza que existe por trás de “Que Horas Ela Volta?”. O longa é um tributo aos avanços sociais vistos nos últimos anos, mas, além disso, é uma homenagem às Val e às Nina desse nosso país que, com seus sacrifícios, abriram as portas para que as Jéssicas do Brasil pudessem ter as oportunidades que têm hoje em dia. O que chama a atenção no trabalho de Anna Muylaert, nesse filme, além de trazer dignidade a essas personagens (que saem do mundo de invisibilidade para o de visibilidade), é que a diretora faz um retrato cultural e social muito particular do nosso país, de uma maneira universal – o que explica o grande sucesso que a obra tem obtido no mundo inteiro.
    Felipi V.
    Felipi V.

    9 seguidores 20 críticas Seguir usuário

    5,0
    Enviada em 24 de agosto de 2015
    “Que Horas Ela Volta?” (2015) vem impressionando com sua repercussão internacional de forma a empolgar todos que torcem para que um dia algum de nossos longas-metragens seja reconhecido com um Oscar de Melhor Filme Estrangeiro ou até de Melhor Atriz. Prova disso é que foi mencionado, como forte candidato ao prêmio da academia norte-americana, pelo blog Indiewire, um dos mais conceituados veículos independentes sobre cinema dos Estados Unidos. Desde “Central do Brasil” (1998) que nosso cinema não tinha um candidato tão forte e unânime entre a crítica internacional, recebendo aplausos a cada exibição. Tanto que Regina Casé e Camila Márdila ganharam o Prêmio Especial do Júri na categoria de Interpretação de Cinema Mundial no Festival de Sundance e o Prêmio de Melhor Filme para o público no Festival de Berlim, ambos em 2015.
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    Anna Muylaert demonstra toda sua experiência adquirida com trabalhos anteriores, que já impressionavam por sua qualidade e diversidade de gêneros. Em “Durval Discos” (2002) apresentou uma narrativa cômica e nostálgica, com os cativantes Ary França e Etty Fraser nos papéis principais e com uma trilha sonora marcante. Com “É Proibido Fumar” (2009) se arriscou satisfatoriamente no suspense, um tipo de narrativa pouco explorado na cinematografia nacional, extraindo ótimas atuações de Glória Pires e Paulo Miklos. “Chamada à Cobrar” (2012) foi um thriller, que apesar de soar caricato em alguns momentos, não deixa de ser inovador e corajoso se destacando por sua narrativa pouco comum no cinema brasileiro e que já abordava um conflito de classes, mesmo que de maneira específica.
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    Ela tem ainda no currículo filmes para TV, como “E Além de Tudo Me Deixou Mudo o Violão” (2013/TVE) e o seriado “Preamar” (2012/HBO). Além disso já era conhecida como roteirista de obras audiovisuais que atestam sua qualidade como contadora de histórias. Geralmente em parceria com o diretor Cao Hamburger, começou nos anos noventa com o saudoso “Castelo Rá-tim-bum” (1999), passando por longas-metragens como “O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias” (2006), “Xingu” (2012) e “Irmã Dulce” (2013).
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    ‘Que Horas Ela Volta?’ é uma produção tecnicamente impecável, que explora temas historicamente relevantes para a sociedade brasileira, representados de forma sintonizada com nosso tempo. O pós-eleições de 2014 e as discussões e embates entre as classes sociais estão presentes de forma didática e realista, remetendo as mais diversas camadas da sociedade. Temos a empregada retirante que convive em uma simbiose artificial com os patrões da classe média alta, mas deixando claro as diferenças de cotidiano. Uma relação que só desperta conflito, devido a evolução geracional presente na mudança de pensamento que a personagem da filha dela encarna. Posicionamento esse que só se tornou possível com a recente possibilidade de acesso das classes mais pobres a uma educação básica e superior.
    Seu ponto mais forte está na construção da interpretação da personagem Val (Regina Casé), que consegue se expressar tanto de maneira contida, quanto engraçada, nunca parecendo exagerada e nos fazendo relembrar de trabalhos anteriores como o excelente “Eu Tu Eles” (2000). Qualquer um que já tenha convivido com as incontáveis domésticas do nosso país, vai reconhecer a verdade dos seus trejeitos e diálogos. Principalmente nos momentos em que contracena com a filha Jéssica (Camila Márdila), ambas conseguem transmitir verdade na relação mãe e filha presente em todas as famílias.
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    E quando as duas se juntam à patroa Barbara (Karine Teles) - atriz premiada por “Riscado” (2010) – são os momentos em que o filme atinge seu ápice como instrumento de reflexão. As cenas que envolvem as “brigas sociais domésticas” deixam o espectador desconfortável, logo após os recompensando com inteligentes alívios cômicos, de forma que que o público não consiga se sentir indiferente ao que vê, efeito que só obras de excelência narrativa conseguem obter. E quando entramos no quarto em que a empregada dorme é que fica evidente que ainda temos diferenças na forma superior e inferior que cada pessoa é tratada em nossa sociedade. A doméstica que é considerada como “quase da família”, não senta na mesma mesa para as refeições com a família e nunca desfrutou da piscina da casa ou do quarto de hóspedes onde ficaria mais humanamente acomodada.
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    O conceito social eternizado por Gilberto Freyre, “Casa Grande e Senzala”, ainda não foi totalmente posto em desuso em nossas cidades. Ainda restam fronteiras sociais, étnicas e financeiras, de forma muito evidente, dentro dos nossos lares. Muitas casas ainda mantém o “quartinho da empregada nos fundos”, quase como uma senzala moderna e em muitos casos com jornadas de trabalho análogos ao de escravos. E essa não é uma prática contemporânea, que ainda não tivemos tempo de modificar, vide “O Primo Basílio” lá no longínquo ano de 1878, mas parece que ainda restam rastros do comportamento da família burguesa urbana do século XIX. Barreiras que só são quebradas nos momentos em que o filho dos empregadores troca o conforto de seu quarto, pelos carinhos maternos da empregada que o criou e o trata com mais compreensão.
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    Essa temática já havia sido abordada em longas anteriores, como em “Domésticas: O Filme” (2001), de Fernando Meireles, no documentário “Doméstica” (2012), nas adaptações de ‘O Primo Basílio’ (1988 e 2007) e até mesmo em outro excelente destaque de 2015 “Casa Grande”. Até em produções estrangeiras, como “La Nana / A Criada” (2009/Chile) e “The Help / Histórias Cruzadas” (2011/EUA). Mas, sem sombra de dúvidas ‘Que Horas Ela Volta? ’ é mais efetivo em comunicar seu discurso e provavelmente vai conseguir unir a profundidade do roteiro, com um sucesso de público que só as repetitivas comédias nacionais têm obtido nos últimos anos. Entretanto, nele o humor é só um recurso a mais, dentre todos que a obra oferece, por isso tem sido reconhecido fora do Brasil e com certeza vai deixar sua marca na história como um dos melhores de 2015 e das últimas décadas do cinema brasileiro.
    Ricardo L.
    Ricardo L.

    59.333 seguidores 2.750 críticas Seguir usuário

    3,5
    Enviada em 10 de março de 2016
    Bom filme nacional com a boa atriz Regina Casé, mas não digo o mesmo como apresentadora, esse filme apresenta um roteiro bem feito, com algimas falhas no desenvolvimento, mas termina bem, atuações bacana, principalmente de Regina Casé!
    Melissa V
    Melissa V

    43 seguidores 12 críticas Seguir usuário

    3,0
    Enviada em 12 de outubro de 2015
    Legalzinho. Não achei bom a ponto de concorrer ao Oscar de melhor filme estrangeiro.
    Sidnei C.
    Sidnei C.

    120 seguidores 101 críticas Seguir usuário

    4,5
    Enviada em 21 de setembro de 2015
    A primeira vez que ouvi falar no filme foi com a notícia que a dupla principal de atrizes, Regina Casé e Camila Márdila, haviam ganho o prêmio de interpretação feminina no Festival de Sundance, nos Estados Unidos. Ninguém duvida do talento de Regina Casé (embora mais conhecida pela veia cômica que dramática), que tem neste filme provavelmente o ponto alto de sua carreira como intérprete. Mas é também uma grata surpresa descobrir o talento da jovem Camila Márdila, que no filme interpreta sua filha, cuja chegada vai representar uma sacudida na vida da mãe.

    Que Horas Ela Volta? é o terceiro filme da diretora Muylaert, que já havia demonstrado grande sensibilidade nos anteriores Durval Discos e É Proibido Fumar. Mas nada neles podia antever o nivel de qualidade de roteiro e direção que ela demonstra no filme. É a própria Muylaert que revela o segredo: o roteiro levou 4 anos para ser escrito, revisado várias vezes, e discutido com os atores envolvidos. Não há receita mágica para os bons filmes, e estudando a história por trás dos grandes clássicos do cinema, vamos encontrar métodos parecidos. Um bom roteiro, um excelente roteiro, é a base de qualquer bom filme. Que Horas Ela Volta? tem uma história aparentemente simples, mas é desenvolvido de forma que flui com perfeição, com ótimos diálogos e atenção aos detalhes: pequenas cenas e observações dentro da história que fazem toda a diferença.

    Muylaert também é muito econômica e inteligente no uso das ferramentas do cinema. Não por acaso, o filme tem poucos movimentos de câmera, estruturado mais em cortes de planos/contra-planos, como se a diretora quisesse acentuar que a casa é como uma prisão para Val, impedindo sua mobilidade, que vai além da simplesmente física. A forma como a diretora constrói visualmente as cenas também é muito interessante, como na cena em que Val resolve usar o presente que deu à patroa para servir os convidados. Depois que ela fecha a porta, a câmera se mantém no mesmo enquadramento, fazendo a cena se construir apenas na nossa imaginação.

    Com um excelente elenco de apoio, um roteiro enxuto e bem trabalhado, mesclando na dose certa o drama de observação social e a comédia, o filme aponta para uma nova possibilidade para o cinema brasileiro. Que horas Ela Volta? tem o grande mérito de dar voz aos seus personagens, não os transformando em clichês ou caricaturas. Na verdade, o filme vai além disso. Invertendo a lógica comum do cinema brasileiro, feito com o olhar do diretor classe média sobre a periferia da sociedade brasileira, no filme a empregada doméstica e sua filha ajudam a enxergarmos o ócio, a vida de aparências e falta de afeto entre seus patrões. Apesar de suas observações tão específicas sobre um Brasil que ainda não deixou totalmente pra trás os tempos de Casagrande & Senzala, sua história consegue ser simples, singela e tocante, o que justifica o enorme sucesso que vem tendo no exterior. Fale de sua aldeia, fale para o mundo.
    Eduardo D
    Eduardo D

    24 seguidores 62 críticas Seguir usuário

    2,5
    Enviada em 12 de janeiro de 2016
    Esse é o caso de quando um artista leva o filme nas costas. Regina Casé está excelente. O filme vale por ela. Mas infelizmente há cenas e relações pessoais trabalhadas de forma ridícula como a filha de Val (Casé) com Carlos. Quando ele faz um pedido a ela então. ... Mas pior ainda é o lugar comum do filho da patroa que tem mais carinho pela empregada. Se ainda fosse algo bem construído e não tão raso tentaria - se construir melhor os personagens e valorizá-los além da firme Casé.
    Sandra Gracieti
    Sandra Gracieti

    2 críticas Seguir usuário

    5,0
    Enviada em 25 de setembro de 2015
    O filme é tocante, na Val reconheci a simplicidade, os trejeitos e a naturalidade da pessoa q presta serviço de diarista em minha casa, lembrou-me também minha mãe quando exercia esta função.
    A Jéssica remeteu-me a minha adolescência e os questionamentos q fazia sobre o tratamento dado a minha mãe pelos patrões dela e cada um deles contribuiu pra q eu quisesse estudar, trabalhar e tirá-la daquela "vida" assim como aconteceu no filme.
    Gostei muito do q vi, a carência afetiva daquele menino suprida pela empregada, a arrogância e a falta de noção da patroa pra tratar com as situações, dando importância ao q não tinha e deixando de dar ao q realmente importava, o marido infeliz, deprimido buscando a alternativa errada como tábua de salvação, enfim, vários temas tão atuais em nossa sociedade q estão gritando nos nossos ouvidos todos os dias mas q preferimos ignorá-los e fingir q está tudo bem.
    Daqui um tempo vou assisti-lo novamente, pra não esquecer o passado e acordar para o futuro caso esteja dormindo.
    Renato E
    Renato E

    1 seguidor 18 críticas Seguir usuário

    1,0
    Enviada em 23 de novembro de 2021
    Brinco até hoje com meus amigos de como alguém pode gostar de atuações péssimas, menina forcada demais, se você e daqueles que não assiste filme pra ver mensagens e sim pela qualidade, nunca perca seu tempo.
    Sandrinha L.
    Sandrinha L.

    1 seguidor 10 críticas Seguir usuário

    1,5
    Enviada em 12 de janeiro de 2016
    Filme em que a única que realmente se destaca é a Regina Casé. História comum do cotidiano de quem vem de longe para se instalar nas grandes cidades. Não gostei, não prendeu a minha atenção, texto chato.
    Adriano Silva
    Adriano Silva

    1.510 seguidores 463 críticas Seguir usuário

    4,0
    Enviada em 22 de abril de 2018
    "Onde já se viu a filha da empregada sentar na mesa dos patrões? Você perdeu o juízo?"
    QUE HORAS ELA VOLTA? (fora do país o filme ganhou o título de "The Second Mother"

    O longa escrito e dirigido por Anna Muylaert (não conhecia seus trabalhos) coloca o dedo na ferida de vários problemas brasileiros. Anna Muylaert dá uma verdadeira aula com seu roteiro que expõe a dura realidade que muitos nordestinos enfrentam quando deixam a sua terra natal pra tentar a vida em São Paulo. Uma verdadeira crítica ácida, um verdadeiro soco no estômago, uma verdadeira escancarada nas grandes diferenças sociais que o Brasil sempre enfrentou, ainda enfrenta e continuará enfrentando por muitos anos.

    Esta é a dura realidade de Val (Regina Casé). Uma pernambucana que se mudou para São Paulo há mais de 10 anos na tentativa de conseguir um emprego e uma vida melhor para ajudar na criação (mesmo de longe) de Jéssica (Camila Márdila). Uma filha que ela deixou no Pernambuco, e agora ela está vindo para São Paulo tentar o vestibular. O que de certa forma parecia como uma vida normal na realidade de Val, poderá estar mudando drasticamente.

    O roteiro de "QUE HORAS ELA VOLTA?" é o verdadeiro ponto em questão, o que faz toda a diferença no longa. É muito inteligente e genial a forma como o roteiro nos leva até a vida de Val, nos apresentando uma empregada doméstica que trabalha para uma família de classe média alta no bairro do Morumbi. Todas as frases que as empregadas estão acostumadas a ouvirem de seus patrões como, "ela é praticamente da família", "essa casa também é dela", por ter se doado durante anos na criação dos filhos dos patrões. Tudo não passa de uma grande fachada, até porque a empregada tem que viver nos quartinhos dos fundos e fazer as suas refeições em locais separados e, jamais cogitar a possibilidade de utilizar os objetos e locais de seus patrões (como no caso da piscina que Val nunca tocou).

    Essa é a realidade que se instalou na cabeça de Val, porém tudo começará a mudar com a chegada de Jéssica. A filha de Val é o oposto da mãe, uma garota que chega pra mudar a rotina da casa, pra expor os problemas que a própria Val acostumou a aceitar durante todos esses anos. É interessante notar como a chegada de Jéssica começa a incomodar a patroa de Val, que se dizia sua amiga e a considerava da família. A garota por outro lado é a grande causadora de toda turbulência, por não aceitar as condições imposta pela mãe e as condições que a mãe se acostumou a aceitar de seus patrões (exatamente a realidade das domésticas quando decidem trazerem os seus filhos pra passar um tempo no quartinho dos fundos da casa dos seus patrões).

    É interessante notar o verdadeiro caráter de cada membro da família. Como no caso de Bárbara (Karine Teles), a patroa de Val, que se mostra de uma forma e exibe a sua máscara de ser humano bondoso, que aceita a pobre da empregada como alguém de sua família unicamente por ter passado anos de sua vida em sua presença. Mas essa máscara cai quando ela começa a ser confrontada pela filha da empregada, mostrando o seu verdadeiro lado prepotente e preconceituoso, que aceita (como uma obrigação de bom ser humano) um mero presente de aniversário da empregada, mas se recusa a utilizá-lo em uma ocasião especial, como ela mesmo disse (porque a ocasião requer objetos comprados na Suécia e não presentes da empregada).

    José Carlos (Lourenço Mutarelli) é o chefe da família que também carrega os seus desejos e suas frustrações, a própria atitude dele com a Jéssica mostra isso. Em querer logo estabelecer uma boa relação com ela, em querer tratá-la igualmente como um membro de sua família, em querer conquistá-la com sua atenção de boa pessoa (a cena do abraço já define essa parte com bastante curiosidade, e até a cena engraçada do abrupto pedido de casamento). Por outro lado temos Fabinho (Michel Joelsas), que se mostra uma pessoa perdida tentando se descobrir em meio a sua difícil família. Ele tenta buscar uma namorada, ele tenta passar no vestibular, ou até mesmo perder a sua virgindade, mas no fundo ele se mostra uma pessoa bastante frustrada. Ele mostra um grande apego por Val, até por uma falta de carinho e atenção de mãe, o que se encaixa perfeitamente no título do filme fora do país "The Second Mother".

    Regina Casé nos surpreende (positivamente) e nos mostra um trabalho completamente fantástico. Com uma atuação grandiosa, ela soube nos passar a sua realidade de vida e nos imergir em seu mundo - aplausos! Camila Márdila também entrega um trabalho muito bem apresentável e muito bem atuado, ela souber encaixar a sua personagem direitinho na trama. Ela é a grande responsável pelas grandes reviravoltas na família, conseguindo fazer a sua mãe enxergar o seu verdadeiro local na sociedade. Karine Teles e Lourenço Mutarelli completam muito bem com o casal de classe média alta.

    O longa ainda possui uma bela direção, com um belo trabalho de câmeras, onde os focos mais fechados em ângulos menores me surpreendeu (como nas cenas que a câmera foca em um único local, muitas das vezes mostrando algo, ou alguma coisa que vai acontecer, ou somente as diversas reações de Val - fantástico). O trabalho de fotografia também é bem notável! Assim como "Bingo: O Rei das Manhãs" estava cotado pra receber uma indicação ao Oscar desse ano na categoria de Filme Estrangeiro, o trabalho de Anna Muylaert também esteve cotado pra receber uma indicação no Oscar de 2016, mas infelizmente nenhum dos dois conseguiu a indicação. Porém, o longa foi muito bem lembrado e aclamado em outras premiações.

    QUE HORAS ELA VOLTA? nos entrega mais um belo trabalho do cinema nacional. Vale muito a pena conferir [22/04/2018]
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