Carlos Henrique S.
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4,5
Enviada em 4 de agosto de 2020
aborto é sem dúvidas um dos pontos de grandes discussões nos tempos de hoje,ainda mais em uma sociedade onde cada vez mais é comum presenciar adolescentes grávidas.Em Never Rarely Sometimes Always esse tema é trabalhado pela ótica feminina da diretora Eliza Hittman que entrega uma trama minimalista e sem ser expositiva.

A protagonista aqui vivida pela Sidney Flanigan - É bom anotar esse nome - É uma jovem de 17 anos reprimida pelo machismo e pela violência sofrida durante a sua vida.A diretora frisa esse repressão da personagem com alguns planos longos e planos fechados no rosto da atriz que sempre parece distante,dispersa do mundo.É uma atuação poderosa simplesmente por ela demonstrar toda esse sentimento a base dos seus expressivos olhares e na sua personalidade fechada que não fala muito.

Há pelo menos duas cenas onde podemos perceber o peso em cima de uma jovem de 17 anos,a primeira delas é a cena onde ela recebe a notícia de que está grávida.Nela a personagem quase chora ao receber a notícia,por ter certeza de que talvez sua vida esteja se desmoronando,e a segunda é justamente onde ela desmorona em lágrimas quando perguntada pela médica se já sofreu algum tipo de agressão.É uma cena verdadeiramente poderosa por ser nítido o desespero no olhar da Autumm que durante todo o filme falava pouco e demonstrava ser extremamente reclusa graças ao machismo escancarado.

Gostei bastante também da manipulação que a diretora entrega aqui,nada é explícito,em nenhum momento nem o roteiro - Que é escrito pela Eliza - e nem a direção propõe diálogos expositivos,é voltado mais pela representação das imagens,ela falam por sí só nesse filme,momentos como o do pai da garota com a cachorrinha já mostra bem o tipo de machismo vivido pela protagonista.

A figura masculina aqui é completamente oposta à feminina,todos os homens que aparecem aqui são seres repugnantes,o pai da Autumm,o homem no metrô e até o cara que ajuda as duas garotas são aproveitadores ordinários,isso por um lado é bastante positivo por expor essa repressão machista mas acaba por trazer uma visão generalizada demais (O Que não é necessariamente um grande problema aqui).

Never Rarely Sometimes Always é o melhor filme lançado este ano até aqui,a diretora Eliza Hittman aposta em uma narrativa minimalista sem ser óbvia demais para nos mostrar uma difícil jornada de uma jovem reprimida pelo machismo,a atuação da Sidney Flanigan enriquece ainda mais a personagem que de fato parece uma adolescente perdida num limbo.