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3,0
Enviada em 22 de novembro de 2021
Sem dúvidas, Wes Anderson é um realizador com características únicas. Sua forma de fazer filme é sempre trazer o inovador, o inesperado e o nunca antes visto. Sua principal aliada nesse propósito é a fotografia. Seus filmes são belos esteticamente, fazendo de cada take um vislumbre. E não é só beleza, a preocupação com o que está sendo mostrado em tela também é cirurgica em contar detalhes da história que não precisam ser ditas por um narrador ou pelos personagens.

Aqui em "The French Dispatch", essas características estão presentes e bem representadas. O filme tem a missão de ser uma versão filmada de um jornal fictício. No caso, a última edição desse jornal. E como o jornal, traz três histórias diferentes entre si, contada por um jornalista diferente que trabalham nessa redação. A decisão de estruturar um filme dessa forma, por si só, já é um desafio inovador. Mas além dessa ideia original, a fotografia aqui é um verdadeiro espetáculo. Anderson usa intermináveis recursos para expor as facetas do jornalismo e da crônica, como inserir no meio da história uma sequência de desenho animado para ilustrar a mentira contida na crônica contada.

Então, se as duas características principais do diretor estão presentes no filme, porque "The French Dispatch" não é uma obra-prima, como o "Grande Hotel Budapeste"? Eu culpo o roteiro. Não por ser mal escrito, pelo contrário, Anderson está com o estilo em dia, tanto nas câmeras, quanto na caneta. A linguagem é rápida, rebuscada, ácida e bem-humorada. Quem não gosta de um sarcasmo?
O problema aqui é a intenção. Talvez Wes Anderson não pensou no público ao querer homenagear o jornalismo dessa forma, digamos, modesta. Ele se contentou em apenas contar essas crônicas e falar dessa cidade fictícia, o que pra mim foi uma oportunidade perdida de falar sobre o jornalismo nos dias atuais que anda tão desmoralizado com o advento da imprensa livre que está na internet. Pode ser que a crítica esteja ali, mas de forma ínfima, quase nula. E além de não trazer essa visão paradoxa do jornalismo antigo e atual, o roteiro peca na transição das histórias, sendo cortes muito secos e com finais não tão bem estabelecidos. A falta de conectividade com os personagens e com o lugar que essas crônicas acontecem faz com que o espectador tenha pouca identificação com o que está sendo contado, e, devido ao ritmo ágil do roteiro, pode causar confusão aos menos atentos.

Para terminar, The French Dispatch é um ótimo filme, mas assistir ele é como beber refrigerante sem gás. É até gostosinho, mas poderia ser muito melhor.