Roberto O.
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5,0
Enviada em 7 de janeiro de 2016
Nunca foi tão prazeroso ver um filme sem saber nada sobre seu roteiro
(esta crítica NÃO contem spoilers

Quando foi anunciada a compra da Lucasfilm pela Disney em 2012, o mundo Pop ficou pasmo. Aquilo tinha sido bom ou ruim? Qual seria o futuro das duas maiores criações de George Lucas, Indiana Jones (sempre dirigido pelo amigo Steven Spielberg) e Star Wars? A franquia do arqueólogo de chapéu e chicote ainda permanece envolta em incertezas. Quanto à saga galáctica, seus novos proprietários acharam que deveriam começar a trabalhar nela imediatamente. No ano seguinte após a compra, foi anunciado que, sim, seria filmado um Episódio VII, impulsionando mais uma trilogia e deflagrando nova febre mundial em torno dos clássicos personagens, somados a novos rostos. E o diretor escolhido para encarar esse desafio nada fácil de tocar em algo tão sagrado para os fãs, é um nerd assumido, que criou um dos seriados mais cult dos últimos anos na TV, Lost, além de já ter revigorado na telona outra série ambientada no espaço cujos admiradores são tão fanáticos (ou até mais) quanto os de Star Wars. Ao dirigir Star Trek em 2009, J.J. Abrams confirmou o que muitos já sabiam, que tem personalidade, pulso firme e talento de sobra para transformar algo, adicionando novos conceitos, mas mantendo sua essência, e respeitando o material original. Com isso, agradou a velha guarda e conquistou novos fãs para Kirk, Spock, McCoy & Cia. à bordo da USS Enterprise. Não poderia haver escolha mais apropriada para conduzir o novo Star Wars.
Mesmo assim, o tempo apertado que Abrams recebeu da Disney para realizar todo o projeto, sem ter ao menos um roteiro pronto, fez com que muitos ficassem receosos e apreensivos, inclusive ele próprio. Seriam apenas dois anos para realizar um Star Wars... Essa pressa da Disney em lucrar não poderia comprometer o resultado final? A estréia do filme, porém, acabou sendo adiada, de Maio para Dezembro de 2015, um respiro e tanto para todos os envolvidos. A versão final do roteiro – baseado em escritos do 'pai' George Lucas, que participou do filme como consultor – foi concluída no início de 2014, por J.J. em parceria com Lawrence Kasdan, muito familiarizado com o material, tendo roteirizado também os episódios V e VI. Pouco a pouco os nomes do elenco iam sendo confirmados, as primeiras fotos das filmagens eram divulgadas, e a empolgação foi tomando conta dos fãs. Afinal, com J.J. na direção, O Despertar da Força estaria em boas mãos.
Os temores não se confirmaram, e sim as altas expectativas. Abrams conseguiu de novo! Este seu novo trabalho (re)confirmou sua competência. O roteiro, uma verdadeira declaração de amor à obra original, transborda referências, mas sem deixar de lado o estilo J.J. Se até em Lost o diretor colocou um personagem dizendo a frase: “Estou com um mau pressentimento sobre isso”, dita em todos os episódios de Star Wars, é claro que a fala se repetiria neste. Outros diálogos também remetem imediatamente a filmes anteriores, não necessariamente o de 1977. Contudo, se a estrutura básica deste roteiro lembra muito situações já vistas principalmente no Episódio IV, seus desdobramentos são surpreendentes. Há muitos mistérios, como o que envolve o surgimento das novas forças do mal. São inquietações dignas da mitologia da saga, em que sabemos que pode haver forte envolvimento entre parentescos. E são esses conflitos familiares, desta vez numa escala, digamos, diferente, que proporcionam a tensão e a dramaticidade que os fãs já se habituaram a sentir. E fica o alerta, a probabilidade das lágrimas descerem sobre seu rosto em determinado momento do filme é muito, muito grande.
Todos os sentimentos que este novo longa evoca são mostrados sob a batuta precisa de um John Williams tão inspirado quanto em seus primórdios. Ele tem o mérito de ter feito as partituras para todos os episódios da série, e criado um novo tema musical para cada um deles, como a Marcha Imperial que, ao contrário do que muita gente pensa, não está no filme de 1977, só foi ouvida pela primeira vez no longa seguinte, O Império Contra-Ataca, de 1980. Para O Despertar da Força, novos temas se unem aos clássicos, numa sinfonia perfeita para se admirar as imagens arrebatadoras que J.J. criou, sejam terrestres ou aéreas. A beleza da saga permanece intacta na também conhecida diversidade de cenários que compõem os planetas visitados, sejam eles verdejantes, cobertos pela neve ou até mesmo empoeirados. E a tão famosa obsessão do cineasta por feixes de luz encontra aqui sua melhor expressão até agora, pois este vasto universo lhe permite explorar os mais variados e criativos planos para mostrá-los, como aquele em que um raio laser é 'pausado' no meio de sua trajetória para, só depois de ser filmado em close, continuar seu caminho até atingir o alvo. E o 3D voltou a fazer a diferença, nessa e em tantas outras cenas, principalmente as ambientadas no espaço. Repare como os colossais cruzadores espaciais parecem estar sobrevoando a sala de cinema. O Despertar da Força, é bom lembrar, foi realizado com menos computação gráfica, e mais efeitos práticos (maquetes), tornando as sequências de ação muito mais 'palpáveis', em resposta aos episódios I, II e III, dirigidos por Lucas, em que o exagero de CGI deixou tudo excessivamente superficial, na opinião de muitos...
As decisões acertadas de J.J. Abrams, desde a pré até a pós-produção, de nada valeriam se o público não se importasse com os novos personagens apresentados. Mas Daisy Ridley e John Boyega ganharam a nossa simpatia. Quanto ao veterano Harrison Ford, quando ele diz: “Chewie, estamos em casa!”, parece deixar transparecer com essa fala o imenso prazer que deve ter sentido ao voltar a interpretar o personagem que o ascendeu ao estrelato. Há muito tempo não o víamos tão à vontade em um papel, ele até voltou a apontar o dedo (indicador)! Carrie Fisher, a eterna Princesa Léia, Anthony Daniels com sua performance e sua voz inconfundíveis dando vida à C-3PO, que alegria rever todos vocês! E como não amar esse novo dróide rodopiante que atende pelo adorável nome de BB-8?
Em respeito a você que está lendo esta crítica, não vou falar mais nada sobre o elenco, assim como não fiz a sinopse. E se você ainda não viu o filme, CUIDADO, MAS MUITO CUIDADO MESMO com o que for ler por aí. Nunca foi tão prazeroso assistir a um filme sem saber nada sobre seu roteiro. Não estrague esse prazer com o festival de spoilers que estão soltando por aí. Eu sei que é difícil nessa geração smartphone em que vivemos, mas a emoção de sentir as surpresas do filme no momento em que se assiste, não tem preço. Bom, na verdade tem, é o ingresso do cinema, mas... Ah, você entendeu.
George Lucas foi, sim, muito esperto ao vender seu legado para um conglomerado que, apesar de ser comumente associado ao entretenimento infantil, 'amadureceu' muito nos últimos anos. Basta lembrarmos que a Disney também comprou a Marvel! Piratas do Caribe, outra cinessérie muitíssimo bem sucedida – e cujo público-alvo não são exatamente as crianças, embora elas adorem o Capitão Jack Sparrow – também é do estúdio. Lucas queria garantir longevidade e tratamento respeitoso à obra que criou e na qual trabalhou por cerca de 40 anos, e conseguiu. J.J. Abrams fez muito bem a sua parte e repavimentou o caminho, com o talento que se esperava dele. E o episódio VIII deve chegar às telonas em 2017. A franquia que deu origem ao termo blockbuster está de volta aos cinemas, quer recuperar seu lugar no trono, e se manter no seleto grupo que arrecada mais de um bilhão de dólares por filme. Peço licença a uma outra franquia para usar seu slogan: Vida longa e próspera à Star Wars porque, definitivamente, a Força está com esta saga!