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Muito se falou da atmosfera juvenil envolvendo a terceira releitura do Homem-Aranha nos cinemas, que marca também a estreia do terceiro ator a protagonizar um filme do tão popular personagem em um período de quinze anos. O Aranha da vez, agora muito mais online, tem como grande diferencial estar devidamente inserido no MCU, graças ao acordo firmado entre a Sony e a Marvel Studios (que ano passado já causou tremenda euforia nos fãs ao proporcionar uma rápida e ótima participação do "pirralho" em Capitão América: Guerra Civil). Desde então, a imagem do herói no cinema tem sido vinculada à daquele estudante nerd visto em suas primeiras histórias em quadrinhos, lá nos idos dos anos 1960. Essa associação é ótima, pois grande parte da trama do novo filme se passa mesmo no colégio, com o óbvio upgrade em relação às clássicas HQs de que agora os alunos estão devidamente inseridos na era digital, permeada por youtubers e redes sociais, o que nos remete às aventuras quadrinisticas de um outro Homem-Aranha! As situações acadêmicas vividas por Peter Parker e seus colegas no filme são até divertidas, resgatando aquele gostinho de nostalgia a lá Sessão da Tarde dos anos 1980. A estratégia de marketing do filme, contudo, que tanta questão fez de salientar essa ambientação jovem e antenada, corre o risco de, com isso, afastar uma parcela do público que pode ficar com receio de ir ao cinema e se decepcionar ao dar de cara com uma versão “supereroica” de Malhação, e não é o caso. Homem-Aranha: De Volta ao Lar tem mais a oferecer.
Um dos maiores acertos do longa, sem dúvida, foi a abordagem coesa dada ao vilão Abutre, interpretado com honestidade por Michael Keaton, que volta a trabalhar em um filme de super-heróis 25 após ter sido o Homem-Morcego “burtoniano” pela segunda e última vez em Batman – O Retorno (1992), e dois anos após ter sido indicado ao Oscar de Melhor Ator por Birdman (2014), filme que acabou ganhando quatro estatuetas, inclusive as de Melhor Filme e Melhor Diretor para o mexicano Alejandro González Iñárritu, cineasta que ganhou de novo no ano seguinte com O Regresso (2015). Mas voltando ao filme do Aranha, o Adrian Toomes vivido por Keaton é um trabalhador comum como eu e você, um engenheiro pai de família que, logo após o ataque alienígena ocorrido na ilha de Manhatthan e visto em Os Vingadores (2012), se vê vitimado pelo sistema capitalista e corporativista do governo norte-americano. Dos destroços de suas desilusões é que surgem suas motivações e, à medida que a trama avança, vamos compreendendo melhor o que se passa pela mente deste tão bem-escrito personagem.
Enquanto isso, no Queens, Peter Parker vive com sua tia May (Marisa Tomey) e administra o tempo (ou pelo menos tenta) entre os deveres escolares e as suas atividades “extracurriculares” ao vestir seu traje tecnológico que ganhou de presente e agir como o entusiasmado – embora ainda um pouco inseguro – Amigão da Vizinhança, devidamente apadrinhado por quem construiu a vestimenta, o seu “tutor” Homem de Ferro. Ao contrário do que a (mais uma vez) exagerada campanha de marketing sugeriu, e aliviando os temores dos fãs do Aracnídeo, o Tony Stark de Robert Downey Jr. aparece sem exageros no filme, e não compromete o protagonismo do herói-título, encarnado com extremo carisma por Tom Holland (atualmente com 21 anos), que corresponde às expectativas.
O jovem diretor Jon Watts já tinha deixado evidente em suas declarações que uma de suas inspirações para a realização deste novo Aranha seriam as comédias oitentistas dirigidas por John Hughes. O Capitão América perceberia facilmente as referências, incluindo uma rápida e bem bolada citação à Curtindo a Vida Adoidado (1986) que, afinal, tem muito a ver com o estilo “Aranha” de ser. Porém, em relação ao núcleo colegial, especificamente, apenas o amigo inseparável de Peter, o geek superantenado Ned Leeds (Jacob Batalon) se destaca. Até a misteriosa Michelle vivida por Zendaya parece mais interessante do que o suposto par romântico da vez de Peter, a Liz de Laura Harrier. Em contrapartida, essa opção pela diversidade étnica no elenco de um filme de grande apelo comercial como é o caso deste se mostra uma escolha bem-vinda em meio a um cenário mundial que tem lutado e começado a conquistar a igualdade em vários segmentos, inclusive no cinema.
As difíceis escolhas da juventude que Peter tem que tomar, somadas ao desenvolvimento do vilão Abutre vão se cruzando até culminarem em um surpreendente plot twist ainda no segundo ato que redefine completamente o andamento da história. A partir daí, tudo se torna mais sério. Fazem-se presentes ainda os dilemas de Parker envolvendo responsabilidade (sem Tio Ben) e o senso de compromisso que o faz querer ser mais adulto do que é (no filme, Peter tem apenas 15 anos) e se mostrar digno da confiança que Stark depositou nele. São emoções que, somadas, não tumultuam a narrativa, ao contrário, a enriquecem.
Embora Homem-Aranha 2 (2004) provavelmente ainda permaneça na mente dos fãs como o melhor filme do Escalador de Paredes até o momento, essa sua “volta ao lar” vale o ingresso, muito mais pelo roteiro e pela ambientação – diferente de todas as anteriores – do que pela ação propriamente dita. O subtítulo do filme ganha ainda mais relevância quando, desde os primeiros segundos da projeção, o espectador se dá conta de que está vendo mais uma história do Universo Cinematográfico Marvel, cujas citações transbordam na tela de tal forma que nos fazem acreditar que, por trás daquela porta irá sair certo personagem, vivido por um ator ou atriz que já vimos de outros filmes e cuja aparição inesperada nos permitirá ter uma surpresa a mais. Jon Watts, contudo, também cita outros filmes do gênero, alguns discretamente, outros de forma escancarada. Há uma alucinante sequência neste novo longa ambientada no obelisco de Washington que inevitavelmente nos remete ao trágico destino de Gwen Stacy em O Espetacular Homem-Aranha 2: A Ameaça de Electro (2014). Já quanto ao hilário interrogatório que o ainda iniciante Cabeça de Teia perpetra a um capanga, fica difícil não associá-lo ao ameaçador Batman de Cristian Bale e aquele seu sinistro timbre de voz!
Se as novas sequências de ação não são tão empolgantes quanto algumas de outrora (que tal um novo Dr. Octopus?), elas não decepcionam. Ao fim da projeção o espectador terá visto um filme que conseguiu dosar na medida certa vários ingredientes, e o resultado foi uma bela mistura de ação com aventura juvenil bem-humorada e permeada por dilemas adolescentes e discussões (ainda que rasas) sobre capitalismo, responsabilidade, confiança e até mesmo umas liçõezinhas de moral com um certo patriota. Ah! Desta vez temos duas cenas pós-créditos, a primeira é muito, muito séria. Quanto à segunda, eu diria que... fica por sua própria conta e risco... depois não diga que não avisei! É muito bom o Homem-Aranha ter voltado ao seu lar, pois a Marvel Studios está cuidando muito bem do Teioso. Vamos acompanhar os futuros desdobramentos dessa parceria Sony/Marvel e ver até quando ela pode durar. Se depender dos fãs, já podem anunciar: Homem-Aranha: Continuado no Lar.
Um dos maiores acertos do longa, sem dúvida, foi a abordagem coesa dada ao vilão Abutre, interpretado com honestidade por Michael Keaton, que volta a trabalhar em um filme de super-heróis 25 após ter sido o Homem-Morcego “burtoniano” pela segunda e última vez em Batman – O Retorno (1992), e dois anos após ter sido indicado ao Oscar de Melhor Ator por Birdman (2014), filme que acabou ganhando quatro estatuetas, inclusive as de Melhor Filme e Melhor Diretor para o mexicano Alejandro González Iñárritu, cineasta que ganhou de novo no ano seguinte com O Regresso (2015). Mas voltando ao filme do Aranha, o Adrian Toomes vivido por Keaton é um trabalhador comum como eu e você, um engenheiro pai de família que, logo após o ataque alienígena ocorrido na ilha de Manhatthan e visto em Os Vingadores (2012), se vê vitimado pelo sistema capitalista e corporativista do governo norte-americano. Dos destroços de suas desilusões é que surgem suas motivações e, à medida que a trama avança, vamos compreendendo melhor o que se passa pela mente deste tão bem-escrito personagem.
Enquanto isso, no Queens, Peter Parker vive com sua tia May (Marisa Tomey) e administra o tempo (ou pelo menos tenta) entre os deveres escolares e as suas atividades “extracurriculares” ao vestir seu traje tecnológico que ganhou de presente e agir como o entusiasmado – embora ainda um pouco inseguro – Amigão da Vizinhança, devidamente apadrinhado por quem construiu a vestimenta, o seu “tutor” Homem de Ferro. Ao contrário do que a (mais uma vez) exagerada campanha de marketing sugeriu, e aliviando os temores dos fãs do Aracnídeo, o Tony Stark de Robert Downey Jr. aparece sem exageros no filme, e não compromete o protagonismo do herói-título, encarnado com extremo carisma por Tom Holland (atualmente com 21 anos), que corresponde às expectativas.
O jovem diretor Jon Watts já tinha deixado evidente em suas declarações que uma de suas inspirações para a realização deste novo Aranha seriam as comédias oitentistas dirigidas por John Hughes. O Capitão América perceberia facilmente as referências, incluindo uma rápida e bem bolada citação à Curtindo a Vida Adoidado (1986) que, afinal, tem muito a ver com o estilo “Aranha” de ser. Porém, em relação ao núcleo colegial, especificamente, apenas o amigo inseparável de Peter, o geek superantenado Ned Leeds (Jacob Batalon) se destaca. Até a misteriosa Michelle vivida por Zendaya parece mais interessante do que o suposto par romântico da vez de Peter, a Liz de Laura Harrier. Em contrapartida, essa opção pela diversidade étnica no elenco de um filme de grande apelo comercial como é o caso deste se mostra uma escolha bem-vinda em meio a um cenário mundial que tem lutado e começado a conquistar a igualdade em vários segmentos, inclusive no cinema.
As difíceis escolhas da juventude que Peter tem que tomar, somadas ao desenvolvimento do vilão Abutre vão se cruzando até culminarem em um surpreendente plot twist ainda no segundo ato que redefine completamente o andamento da história. A partir daí, tudo se torna mais sério. Fazem-se presentes ainda os dilemas de Parker envolvendo responsabilidade (sem Tio Ben) e o senso de compromisso que o faz querer ser mais adulto do que é (no filme, Peter tem apenas 15 anos) e se mostrar digno da confiança que Stark depositou nele. São emoções que, somadas, não tumultuam a narrativa, ao contrário, a enriquecem.
Embora Homem-Aranha 2 (2004) provavelmente ainda permaneça na mente dos fãs como o melhor filme do Escalador de Paredes até o momento, essa sua “volta ao lar” vale o ingresso, muito mais pelo roteiro e pela ambientação – diferente de todas as anteriores – do que pela ação propriamente dita. O subtítulo do filme ganha ainda mais relevância quando, desde os primeiros segundos da projeção, o espectador se dá conta de que está vendo mais uma história do Universo Cinematográfico Marvel, cujas citações transbordam na tela de tal forma que nos fazem acreditar que, por trás daquela porta irá sair certo personagem, vivido por um ator ou atriz que já vimos de outros filmes e cuja aparição inesperada nos permitirá ter uma surpresa a mais. Jon Watts, contudo, também cita outros filmes do gênero, alguns discretamente, outros de forma escancarada. Há uma alucinante sequência neste novo longa ambientada no obelisco de Washington que inevitavelmente nos remete ao trágico destino de Gwen Stacy em O Espetacular Homem-Aranha 2: A Ameaça de Electro (2014). Já quanto ao hilário interrogatório que o ainda iniciante Cabeça de Teia perpetra a um capanga, fica difícil não associá-lo ao ameaçador Batman de Cristian Bale e aquele seu sinistro timbre de voz!
Se as novas sequências de ação não são tão empolgantes quanto algumas de outrora (que tal um novo Dr. Octopus?), elas não decepcionam. Ao fim da projeção o espectador terá visto um filme que conseguiu dosar na medida certa vários ingredientes, e o resultado foi uma bela mistura de ação com aventura juvenil bem-humorada e permeada por dilemas adolescentes e discussões (ainda que rasas) sobre capitalismo, responsabilidade, confiança e até mesmo umas liçõezinhas de moral com um certo patriota. Ah! Desta vez temos duas cenas pós-créditos, a primeira é muito, muito séria. Quanto à segunda, eu diria que... fica por sua própria conta e risco... depois não diga que não avisei! É muito bom o Homem-Aranha ter voltado ao seu lar, pois a Marvel Studios está cuidando muito bem do Teioso. Vamos acompanhar os futuros desdobramentos dessa parceria Sony/Marvel e ver até quando ela pode durar. Se depender dos fãs, já podem anunciar: Homem-Aranha: Continuado no Lar.