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O HOMEM DE AÇO ESTÁ DE VOLTA (DE NOVO), E DESTA VEZ É PRA FICAR
Os tempos são outros, e o cenário atual que vivemos pede por uma reformulação de seus heróis. Daniel Craig deu novo vigor à série 007 com seu James Bond cheio de vitalidade, Chris Pine por sua vez deu jovialidade e dinamismo ao papel do comandante Kirk da Enterprise na nova franquia de Star Trek. E depois de “Superman - O Retorno”, do diretor Bryan Singer, uma tentativa fracassada de trazer o herói de volta, focada demais na nostalgia, chegou a vez do maior dos super-heróis também se adequar a esses novos tempos, na pele de Henry Cavill, e pelas mãos do diretor Zack Snyder, o mesmo de "300".
HOMEM DE AÇO traz, portanto, uma versão revisada do herói da DC Comics surgido há 75 anos, contando, com muito mais detalhes (e efeitos), a história de origem que todos já conhecemos. No Planeta Krypton, Jor-El (Russell Crowe), envia seu filho, Kal-El, que acabara de nascer, ao espaço em direção à Terra, isso porque seu planeta natal está condenado à destruição, o que inevitavelmente acontece. Já adulto, o alienígena infiltrado entre nós, ciente da estranheza de suas habilidades aos olhos dos humanos, não se poupa em fazer uso delas quando necessário para salvar vidas, mas faz o possível para encobrir seus rastros, se tornando um andarilho sem rumo e sem destino.
Esta inadequação foi abordada com eficiência, muito ajudada pela escolha acertada do elenco. Diane Lane e Kevin Costner conferem humanidade e vulnerabilidade aos pais adotivos de Clark Kent (como o garoto foi batizado por eles), e em todo o período de sua formação de caráter, desde sua infância no campo até a fase adulta (o que é mostrado em incontáveis flash-backs), é notória a dedicação e o cuidado com que eles o educaram, ajudando-o a lidar com a sua condição de ser diferente. A metáfora da rejeição está plenamente inserida no filme, e se encaixa perfeitamente no seu contexto contemporâneo (nunca se falou tanto em bulling como se tem falado atualmente). Afinal, como seria a infância do Superman na Terra se ele realmente existisse? Certamente seria muito similar ao que vemos no filme.
No decorrer do longa conhecemos uma Lois Lane com muita iniciativa, vivida pela linda Amy Adams, e Lawrence Fishburne confere credibilidade ao diretor do jornal Planeta Diário, no qual Lois trabalha. Em pouco tempo ela já estará envolvida de tal forma com esse misterioso superser de outro planeta que, em determinado momento da trama, ela é ‘convidada’, juntamente com o herói, a adentrar a nave do vilão, um recurso narrativo um tanto quanto exagerado para firmar essa cumplicidade da dupla. Por mais que o clima realista predomine no filme, não há como não perceber situações incoerentes e improváveis que enfraquecem a trama, como o simples fato de Lois aparecer em quase todos os lugares em que a história se desenvolve, como se ela tivesse o superpoder da onipresença.
O vilão, General Zod, que acompanhamos desde o início do filme, ainda em Krypton, e que é vivido com muita intensidade por Michael Shannon, proporciona, juntamente com seus asseclas, quando luta com o herói, um espetáculo pirotécnico compatível com o que se poderia esperar de batalhas entre superseres, causando em Metrópolis uma destruição similar àquela vista no final de “Os Vingadores”, da concorrente Marvel. Ao vilão, o que não falta é motivação, muitíssimo bem explicada pelo roteiro que tem o dedo criativo de Cristopher Nolan, diretor responsável pela trilogia Cavaleiro das Trevas (e que aqui atua como produtor), famoso por sua obsessão em querer explicar o porquê de tudo em seus filmes. Assim temos um filme de Zack Snyder, com cara de filme de Christopher Nolan.
Outro ponto que merece destaque é a trilha sonora do alemão Hanz Zimmer, que também compôs para a trilogia do Batman de Nolan. Quando se fala em Superman, imediatamente vem à nossa mente o memorável tema criado por John Williams e imortalizado no longa de 1978 com Christopher Reeve. Como este filme traz uma nova abordagem, em um novo contexto, e reflete, repito, a nossa época, é coerente e até compreensível a criação de uma nova trilha. E ainda que em nenhum momento ecoe o tema clássico, essa nova trilha, mais discreta, é eficaz no sentido de acompanhar os diversos rumos da nova trajetória do herói, em um filme menos romântico e muito mais visceral em suas cenas de ação.
Resta ainda falar da autenticidade que Henry Cavill confere ao papel principal, que em nada lembra as interpretações de seus predecessores. Sua visão do personagem é extremamente séria, de alguém que tem plena consciência da responsabilidade que carrega com os poderes que possui. Já o público feminino vai gostar de saber que o diretor não poupou closes do físico do herói, cheio de virilidade, perceptível mesmo quando ele está usando seu heróico traje. Quem assistir ao filme vai saber do que estou falando. Interessante mesmo é notar as soluções encontradas pelo roteiro para mostrar as aparições públicas do herói, e as implicações que isso traz para o Exército, o Governo e a população em geral pois, antes da aceitação de um alienígena amigo entre nós, vem a desconfiança. Novamente o filme reflete os nossos tempos, em que fantasias são contadas embasadas em sentimentos.
Na trama também há espaço para metáforas divinas e filosóficas, ainda que superficiais, mas que enriquecem o personagem Kal-El/Clark Kent no sentido de entendermos melhor suas dúvidas, angústias e incertezas, diante de seu papel no mundo. Ao final de suas duas horas e vinte minutos de duração, sentimos a satisfação de termos visto o ressurgimento de um personagem que muitos tinham como antiquado. Uma boa direção, um bom elenco e, fundamentalmente, um bom roteiro, provaram o contrário. E para os fãs do bom e velho Clark Kent, aquele repórter atrapalhado que se esconde atrás de seus óculos e com isso consegue enganar (quase) todo mundo acerca de sua verdadeira identidade, e que sempre que necessário troca de roupa em uma cabine telefônica para salvar os cidadãos de Metrópolis, este novo filme traz, sim, uma referência, mais do que isso, uma homenagem, da qual não vou falar aqui para não estragar a surpresa. A julgar pela excelente aceitação nas bilheterias mundo afora, uma coisa é certa: Superman - O Homem de Aço está de volta, e desta vez, devidamente adaptado aos nossos tempos, o que é fundamental para garantir sua permanência nas telas por muito tempo!
ROBERTO OLIVEIRA
Os tempos são outros, e o cenário atual que vivemos pede por uma reformulação de seus heróis. Daniel Craig deu novo vigor à série 007 com seu James Bond cheio de vitalidade, Chris Pine por sua vez deu jovialidade e dinamismo ao papel do comandante Kirk da Enterprise na nova franquia de Star Trek. E depois de “Superman - O Retorno”, do diretor Bryan Singer, uma tentativa fracassada de trazer o herói de volta, focada demais na nostalgia, chegou a vez do maior dos super-heróis também se adequar a esses novos tempos, na pele de Henry Cavill, e pelas mãos do diretor Zack Snyder, o mesmo de "300".
HOMEM DE AÇO traz, portanto, uma versão revisada do herói da DC Comics surgido há 75 anos, contando, com muito mais detalhes (e efeitos), a história de origem que todos já conhecemos. No Planeta Krypton, Jor-El (Russell Crowe), envia seu filho, Kal-El, que acabara de nascer, ao espaço em direção à Terra, isso porque seu planeta natal está condenado à destruição, o que inevitavelmente acontece. Já adulto, o alienígena infiltrado entre nós, ciente da estranheza de suas habilidades aos olhos dos humanos, não se poupa em fazer uso delas quando necessário para salvar vidas, mas faz o possível para encobrir seus rastros, se tornando um andarilho sem rumo e sem destino.
Esta inadequação foi abordada com eficiência, muito ajudada pela escolha acertada do elenco. Diane Lane e Kevin Costner conferem humanidade e vulnerabilidade aos pais adotivos de Clark Kent (como o garoto foi batizado por eles), e em todo o período de sua formação de caráter, desde sua infância no campo até a fase adulta (o que é mostrado em incontáveis flash-backs), é notória a dedicação e o cuidado com que eles o educaram, ajudando-o a lidar com a sua condição de ser diferente. A metáfora da rejeição está plenamente inserida no filme, e se encaixa perfeitamente no seu contexto contemporâneo (nunca se falou tanto em bulling como se tem falado atualmente). Afinal, como seria a infância do Superman na Terra se ele realmente existisse? Certamente seria muito similar ao que vemos no filme.
No decorrer do longa conhecemos uma Lois Lane com muita iniciativa, vivida pela linda Amy Adams, e Lawrence Fishburne confere credibilidade ao diretor do jornal Planeta Diário, no qual Lois trabalha. Em pouco tempo ela já estará envolvida de tal forma com esse misterioso superser de outro planeta que, em determinado momento da trama, ela é ‘convidada’, juntamente com o herói, a adentrar a nave do vilão, um recurso narrativo um tanto quanto exagerado para firmar essa cumplicidade da dupla. Por mais que o clima realista predomine no filme, não há como não perceber situações incoerentes e improváveis que enfraquecem a trama, como o simples fato de Lois aparecer em quase todos os lugares em que a história se desenvolve, como se ela tivesse o superpoder da onipresença.
O vilão, General Zod, que acompanhamos desde o início do filme, ainda em Krypton, e que é vivido com muita intensidade por Michael Shannon, proporciona, juntamente com seus asseclas, quando luta com o herói, um espetáculo pirotécnico compatível com o que se poderia esperar de batalhas entre superseres, causando em Metrópolis uma destruição similar àquela vista no final de “Os Vingadores”, da concorrente Marvel. Ao vilão, o que não falta é motivação, muitíssimo bem explicada pelo roteiro que tem o dedo criativo de Cristopher Nolan, diretor responsável pela trilogia Cavaleiro das Trevas (e que aqui atua como produtor), famoso por sua obsessão em querer explicar o porquê de tudo em seus filmes. Assim temos um filme de Zack Snyder, com cara de filme de Christopher Nolan.
Outro ponto que merece destaque é a trilha sonora do alemão Hanz Zimmer, que também compôs para a trilogia do Batman de Nolan. Quando se fala em Superman, imediatamente vem à nossa mente o memorável tema criado por John Williams e imortalizado no longa de 1978 com Christopher Reeve. Como este filme traz uma nova abordagem, em um novo contexto, e reflete, repito, a nossa época, é coerente e até compreensível a criação de uma nova trilha. E ainda que em nenhum momento ecoe o tema clássico, essa nova trilha, mais discreta, é eficaz no sentido de acompanhar os diversos rumos da nova trajetória do herói, em um filme menos romântico e muito mais visceral em suas cenas de ação.
Resta ainda falar da autenticidade que Henry Cavill confere ao papel principal, que em nada lembra as interpretações de seus predecessores. Sua visão do personagem é extremamente séria, de alguém que tem plena consciência da responsabilidade que carrega com os poderes que possui. Já o público feminino vai gostar de saber que o diretor não poupou closes do físico do herói, cheio de virilidade, perceptível mesmo quando ele está usando seu heróico traje. Quem assistir ao filme vai saber do que estou falando. Interessante mesmo é notar as soluções encontradas pelo roteiro para mostrar as aparições públicas do herói, e as implicações que isso traz para o Exército, o Governo e a população em geral pois, antes da aceitação de um alienígena amigo entre nós, vem a desconfiança. Novamente o filme reflete os nossos tempos, em que fantasias são contadas embasadas em sentimentos.
Na trama também há espaço para metáforas divinas e filosóficas, ainda que superficiais, mas que enriquecem o personagem Kal-El/Clark Kent no sentido de entendermos melhor suas dúvidas, angústias e incertezas, diante de seu papel no mundo. Ao final de suas duas horas e vinte minutos de duração, sentimos a satisfação de termos visto o ressurgimento de um personagem que muitos tinham como antiquado. Uma boa direção, um bom elenco e, fundamentalmente, um bom roteiro, provaram o contrário. E para os fãs do bom e velho Clark Kent, aquele repórter atrapalhado que se esconde atrás de seus óculos e com isso consegue enganar (quase) todo mundo acerca de sua verdadeira identidade, e que sempre que necessário troca de roupa em uma cabine telefônica para salvar os cidadãos de Metrópolis, este novo filme traz, sim, uma referência, mais do que isso, uma homenagem, da qual não vou falar aqui para não estragar a surpresa. A julgar pela excelente aceitação nas bilheterias mundo afora, uma coisa é certa: Superman - O Homem de Aço está de volta, e desta vez, devidamente adaptado aos nossos tempos, o que é fundamental para garantir sua permanência nas telas por muito tempo!
ROBERTO OLIVEIRA