ElPoke
Filmes
Séries
Programas
Voltar
4,5
Enviada em 6 de dezembro de 2013
Eu já havia postado em outro blog o quanto eu odeio o Bullying, prática de brincadeiras maldosas que tendem a, literalmente, quebrar o espírito da ofendida. Vemos casos por aí de pessoas que realmente tiram a própria vida porque simplesmente não aguentam mais a pressão de ser sempre alvo das piores brincadeiras na instituição de ensino. E quanto à “Instituição de Ensino”, eu não quero me referir somente à faculdade, mas sim em um âmbito geral, seja escola primária, secundária, etc.

As coisas pioram ainda mais quando temos a questão Bullying X Fanatismo Religioso. Não sou contra (algumas) crenças religiosas, tenho meu ponto-de-vista e os defendo dentro dos meus limites. Mas quando a religião vira fanatismo, uma pessoa vira vítima duas vezes: em casa e na escola.

Carrie é um filme que eu presenciei, literalmente, pessoas abandonando a sala de cinema consternadas. E por causa disso, atiçou ainda mais meu gosto por esse que eu considerei o filme de terror do ano.

Quero deixar claro que, tal qual o título da postagem, Carrie não é para todo mundo. E eu vou (tentar) explicar por que.

O filme é cuidadoso, em partes, ao mostrar a situação emocional de Carrie White, uma menina criada pela mãe esquizofrênica com um entendimento todo próprio da bíblia, que enfrenta toda a antipatia da escola, que a consideram uma aberração.

CARRIE-3089_r-580x385

O crescimento do filme não é aquela coisa repentina. Ele te prepara dos três lados possíveis: a questão de vingança de Chris Hargensen, impedida de ir á festa de formatura por conta de bullying praticado contra Carrie; a busca de redenção de Sue Snell, que se sente culpada por ter participado da brincadeira; e o da própria Carrie, no confronto com sua mãe e na tentativa de entender seus poderes.

Com todo esse banquete de informação bem montada, temos o tão aguardado clímax, em um evento diabólico, que leva Carrie ao total desequilíbrio. E é AQUI que a coisa engrossa. Depois eu explico o motivo.

Carrie não é um “remake” do filme de 1976, com Sissy Spacek e John Travolta. Ele é mais condizente com a história do livro de Stephen King, o que me deixou extremamente confortável. A atuação de Chloë Grace Moretz ainda não é a melhor, mas ela está se esforçando ao máximo. Juliane Moore é uma das minhas atrizes prediletas, e mais uma vez ela entrega uma representação majestosa.

O time das “amiguinhas” do colégio é composto por verdadeiras beldades, como as gêmeas Karisse e Katie Strain, cada uma mais linda que a outra, Portia Doubleday e a super insossa Gabriela Wilde. Podiam ter escolhido uma atriz melhor para interpretar Sue Snell, a personagem com maior projeção na história. O filme é dirigido por Kimberly Peirce, de Stop-Loss e Meninos Não Choram, mostrando que ela também manda bem num 2

Agora vem a parte pessoal…

Eu fiquei espantado ao ver que, enquanto Carrie White sofria todo tipo de humilhação, a sala permanecia quieta. Na hora que a menina “quebra” e enlouquece, todo mundo começou a sair. Sério mesmo, quando o filme acabou, só havia 3 pessoas na sala!

E eu lá, na penúltima fileira, pensando: “É exatamente isso que acontece! As pessoas acostumaram-se a ver o ponto de vista das pessoas que praticam bullying. Eles esperam que alguma coisa seja feita, mas não querem VER o que será feito. Um exemplo? Amanda Todd. Rebecca Sadwick. Casey Heynes (o famoso “Zangief Kid”). Quando eles reagiram, provocou indignação de todo mundo. Duas delas, coitadas, tiraram a própria vida!

Porque é mais fácil ver a pessoa sofrendo agressões constantes, e é tão difícil ser conivente com a reação? É mais simples falar “Carrie era louca!”, “Ela sempre foi estranha mesmo…”, mas é extremamente difícil tentar entender todo o tormento psicológico sofrido, tendo como o ápice a humilhação pública, numa noite que ela imaginou como “perfeita”. Muitas pessoas ainda seguem a premissa de “cada um com seu cada qual”, cuidando dos seus problemas, sem notar que essas pessoas que sofrem precisam de ajuda. Quando não encontram, eles não tem outra alternativa a não ser resolver do seu próprio modo, seja aplicando um balão no ofensor, seja engolindo litros de alvejante.

Enfim, Carrie, a Estranha NÃO é um filme para todas as pessoas. Os temas abordados são fortes, a vingança de Carrie foi retratada com uma riqueza incrível de detalhes, com efeitos especiais magníficos. Mesmo assim, a película tem todo o tom sépia, como se mostrasse que até os momentos felizes daquela menininha sofrida era uma ilusão.

Recomendado com reservas.