Casamento às Cegas: Reality shows serão nova aposta da Netflix?

    Serviços de streaming podem começar a apostar cada vez mais em reality shows para atrair novos públicos.

    Imdb

    Se você ainda não assistiu, provavelmente está ouvindo muitas opiniões sobre Casamento às Cegas, o novo reality show da Netflix. Nele, as pessoas conversam por alguns dias, sem enxergar uns aos outros. O intuito é que casais se formem por afinidade, e não aparências. Após dez dias de interação, os participantes podem se encontrar, e até se casar, caso queiram.

    Outra produção que também poderá se tornar um fenômeno é The Circle, que terá uma versão brasileira estreando no dia 11 de março. O programa irá girar em torno de indivíduos confinados em um prédio, que precisarão disputar para saber quem é o mais popular. No final do jogo, o vencedor recebe R$ 300 mil.

    Com estes dois reality shows, a Netflix (e possivelmente outras companhias), caminham em direção à uma possível ruptura revolucionária, ao desviar a atenção exclusiva de filmes e séries, e focar em conteúdos não roteirizados, que até então, são predominantes nos meios televisivos.

    Mas por que isso está acontecendo agora? Estariam os serviços de streaming prestes a roubar umas das últimas receitas de sucesso da televisão? Veja a seguir:

    O comportamento do público está mudando

    Com as redes sociais, o público ganhou o poder de determinar o que fará sucesso, e quais produções não terão futuro. Por isso, quando alguma obra atinge as plataformas de streaming, elas são ferozmente consumidas por seus espectadores, que colocam o assunto em alta, e criam conteúdos derivados, como memes e GIF’s.

    Porém, essa empolgação é momentânea. Caso o produto final não seja um marco cultural, como Sex Education ou Stranger Things, ele é esquecido entre as centenas de novos lançamentos diários. Sense 8, por exemplo, teve uma estreia impactante, mas foi cancelada após o fim de seu hype. Destacar-se em um mercado saturado, e criar uma conexão com seus consumidores, é uma tarefa que requer reinvenção e adaptação.

    E é neste cenário que os reality shows se encaixam perfeitamente: Ao invés de serem um evento único, garantindo debates pontuais, eles transgridem a cultura imediatista, pois oferecem novidades por um longo período. Semana após semana, novos dramas são apresentados ao público, que acompanha tudo com comprometimento.

    Em tempos acelerados, onde muita informação é perdida, criar uma narrativa prolongada parece ser uma receita perfeita para conseguir fixar produções na cabeça das pessoas, garantindo longevidade e lucro. Por este motivo, programas como o Big Brother Brasil e Masterchef ainda movimentam altos níveis de interação, mesmo sendo exibidos em meios televisivos, que estão menos atraentes em uma era que podemos escolher o que iremos assistir, no momento que acharmos mais conveniente.

    Agora imagine este modelo de negócio sendo acoplado à uma plataforma que está alinhada com o comportamento atual do público: A probabilidade de sucesso é inegável. 

    Reality shows são acessíveis à todos

    O desejo de estar conectado à outros é uma característica inerente ao ser humano. Em reality shows, podemos nos identificar com pessoas reais, e suas respectivas questões internas. Por mais que o cinema possa proporcionar tais reflexões, nada gera tanta identificação como um produto sem cortes, que captura o cotidiano de maneira crua, sem artifícios hollywoodianos.

    Experts da indústria: O que eles pensam sobre o assunto?

    James Nadler, especialista em indústria do entretenimento, afirmou em entrevista à CNBC que programas como o The Voice e Survivor fazem todos sentarem em frente à televisão. E para ele, a Netflix e outros serviços de streaming precisam desses tipos de conteúdo.

    “De certa forma, os estúdios modernos estão sendo tradicionais. O objetivo deles é colocar todos olhando para à tela. Mas uma produção como Boneca Russa não vai fazer isso. Eles terão uma audiência nichada (e volumosa), mas não irão ter um fenômeno”, afirmou.

    Para Nadler, o público se inspira ao ver pessoas superando a si mesmas, e sendo capazes de atingir objetivos em situações de alto estresse, já que muitos passam pelo mesmo. 

    Reality shows são mais baratos

    Além de gerarem identificação e engajamento à longo prazo, não é necessário investir grandes quantias em um reality show. Basta instalar câmeras fixas, e pagar uma equipe para fazer o monitoramento do produto. Não há uma grande complexidade, já que não existe roteiro, ou demandas cinematográficas ambiciosas.

    Um exemplo: Segundo a Variety, cada episódio de Game of Thrones custou $15 milhões. Em contrapartida, o canal E! Channel afirmou que um reality gasta de 100 a 500 mil dólares por capítulo. 

    Contudo, gigantes como a Netflix e Amazon precisam ajustar a maneira em que irão explorar este novo território. Lançar todos episódios de uma vez pode impedir uma faísca de virar um incêndio. As pessoas precisam de tempo para processar os acontecimentos. Isso lhes dá motivação para ver o que virá em seguida.

    Porém, Casamento às Cegas já adaptou, mesmo que não completamente, um modelo de divulgação periódico. Agora, é uma questão de tempo para que grandes companhias de streaming percebam o custo-benefício desta forma de entretenimento, e abracem completamente uma nova era que pode afastar mais pessoas dos meios tradicionais.

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