O Assassinato de Gianni Versace: Conheça o caso e os personagens da segunda temporada de American Crime Story

15 de julho de 1997. O estilista italiano Gianni Versace foi morto a tiros na escadaria de sua mansão em Miami Beach em plena luz do dia. O responsável pelo crime, Andrew Cunanan, fazia então sua quinta e última vítima. Uma caçada histórica o colocou no topo da lista dos mais procurados pelo FBI, e, quase 21 anos depois, se transforma em obra de ficção pelas mãos premiadas de Ryan Murphy.

A segunda temporada de American Crime Story tem um subtítulo grande (“The Assassination of Gianni Versace”) e uma responsabilidade maior ainda: fazer jus a uma história que abalou a comunidade gay e tomou a mídia de supetão, mantendo a reputação que a série construiu com a primeira temporada, “The People v. O.J. Simpson”, que recebeu nove prêmios Emmy, dois Globos de Ouro e cinco prêmios da crítica. Mas a perspectiva é boa, já que material suficiente para sustentar o legado ela tem: trata-se de uma história e um assassino em série que preenchem juntos vários clichês, de sexo a infâncias conturbadas, famílias ricas, consumo de drogas e obsessão midiática. Prato cheio para dez episódios e tanto.

A temporada é inspirada no livro-reportagem “Vulgar Favors: The Assassination of Gianni Versace”, escrito pela jornalista Maureen Orth e publicado em 1999, e traz para retratar a história Darren Criss (que vem arrancando elogios prévios da crítica norte-americana por sua atuação como Cunanan), Penélope Cruz (em seu primeiro papel na TV), Édgar Ramirez (como o próprio Versace) e até Ricky Martin, que interpreta Antonio D'Amico (então namorado de Gianni).

Kevin Winter/Getty Images

ANDREW CUNANAN

Em ‘Vulgar Favors’, Orth descreve Cunanan como “sempre a vida da festa, o garoto mais inteligente à mesa. Mas aos 27 ele também era um pesadelo narcisista de vaidosa autoabsorção, um mentiroso patológico com prática que criava realidades alternativas de si mesmo e era inteligente o bastante para dar conta das próprias fraudes.”

A autora explica que Cunanan é o produto de fanatismos: a mãe era uma católica fervorosa, e o pai igualmente fanático pelo materialismo. Sua publicação favorita era a revista Vanity Fair, em que vinha ganhando destaque dois meses antes do assassinato de Versace, já procurado pelo FBI em virtude das quatro vítimas que fizera antes. Quem estava cobrindo os casos e o colocando em evidência para a revista era justamente Maureen Orth, com quem ele até chegou a tentar fazer contato, como ela mesma pontua no livro.

Neilson Barnard/Getty Images

Pouco se sabe, no entanto, dos verdadeiros motivos que o levaram a cometer os crimes, que não tinham nem mesmo um modus operandi específico, embora apresentassem algumas conexões pessoais. A missão de Criss na trama é torná-lo o personagem fascinante e misterioso que parece ser, uma vez que o centro da história não é necessariamente Versace, mas sim o assassinato. E, naturalmente, o assassino.

GIANNI VERSACE

Interpretando o próprio estilista, Édgar Ramírez já impressiona de imediato pela caracterização assustadoramente semelhante (confira na galeria de imagens acima). Nascido Giovanni Maria Versace, o italiano foi o fundador da famosa grife que leva seu sobrenome, e foi morto aos 50 anos, com dois tiros na nuca, quando voltava de uma caminhada matinal em que comprou o café e um jornal a pouco mais de 500 metros de sua mansão. Era o filho do meio, e cresceu junto a Santo (o mais velho) e Donatella (a mais nova). Uma quarta irmã faleceu aos 12 anos.

A grife nasceu em 1978, e as suas influências mais claras desde o início foram a mitologia grega e a arte de Andy Warhol. À medida em que a marca foi ganhando notoriedade, o estilista foi ficando mais conhecido entre os famosos e sua assinatura reconhecida como um divisor de águas na moda. Logicamente, sua morte movimentou toda uma gama de famosos, já que ele era amigo de personalidades que iam de Princesa Diana a Madonna, passando por Elton John, Michael Jackson e Naomi Campbell. Mas um artigo escrito por Holly Brumbach para o New York Times, e destacado por Orth, pontua que “à época de sua morte, ele era mais famoso pelas companhias com quem andava do que pelas roupas que criava.”

Seu legado ficou por conta destas ditas companhias, Donatella, Santo, e dos sobrinhos, que foram assumindo o controle executivo e criativo da grife após a sua morte. Por ser abertamente gay, Gianni figurava como um ícone do movimento LGBT junto ao namorado Antonio D’Amico, e era membro regular da comunidade internacional.

DONATELLA VERSACE

Então aos 42 anos, Donatella Versace é responsabilidade de Penélope Cruz. Assumiu o posto de diretora criativa da Versace em setembro de 1997, com metade da fortuna do irmão herdada por sua filha, Allegra, então com 11 anos. A proximidade de ambos foi até motivo de boatos, negados pela família em entrevista à VF.

“Eu tenho certeza que meu irmão nunca o conheceu”, afirmou veementemente em entrevista após o assassinato de Gianni, e a família nunca mudou esta versão dos fatos. Já quanto à série, também não são exatamente favoráveis e preferiram ficar distantes, chegando a afirmar na última semana que é uma obra puramente fictícia sem bases fincadas nos acontecimentos reais.

ANTONIO D’AMICO

O modelo italiano Antonio D’Amico era o namorado de Gianni à época de sua morte. Os dois estavam juntos desde quando se conheceram em 1982, em uma saudável relação que já durava 15 anos. No fatídico dia 15 de julho de 1997, ele estava tomando café na varanda da Casa Casuarina (ou Mansão Versace) no momento do crime, e em uma entrevista concedida recentemente após anos de silêncio admitiu que chegou a ouvir os tiros na hora.

Foi deixado com uma pensão no testamento de Versace, mas ainda assim seu relacionamento com a família não era exatamente dos melhores, o que a própria Donatella não fazia questão de esconder.

“Para o mundo, Gianni e Antonio eram um casal profundamente devoto e monogâmico — uma imagem que seria usada para repudiar a ideia de que Versace poderia ter conhecido ou se envolvido com alguém como Andrew Cunanan”, escreve Orth. “Ainda no início e em meados dos anos 90, Jamie Cardona [...] regularmente era requisitado para procurar [garotos de programa] para Versace e Antonio D’Amico [...], sempre secretamente e através da entrada dos fundos da mansão.”

JEFF TRAIL

Ex-oficial naval da Marinha dos Estados Unidos, Jeff Trail nasceu e foi criado no Condado de DeKalb, em Illinois, e morreu aos 28 anos, em 29 de abril de 1997. O tenente foi a primeira vítima de Cunanan, e estava trabalhando como vendedor de gás propano em uma companhia à época de sua morte.

Jeff foi amigo e possivelmente amante de Cunanan — que chegou a desenvolver uma estranha obsessão pelo rapaz que era alvo de suas idealizações. “De muitas formas, Jeff era tudo o que Andrew não era. Desde o começo, Andrew era altamente possessivo com Jeff [...] Jeff era leal e seguidor das leis e cumpridor de suas palavras; fazia amigos com facilidade e adorava ser requisitado; odiava ficar sozinho. Gostava de cozinhar, jogar cartas, sentar ao redor da fogueira e conversar”, pontua ‘Vulgar Favors’. E, embora fosse veementemente contra qualquer uso de drogas ilícitas, recusava-se a acreditar que o dinheiro de Andrew (ou parte dele) vinha do tráfico.

A Trail, seguiram-se, na ordem, David Madson (ex-namorado de Cunanan, vivido por Cody Fern), o milionário Lee Miglin (Mike Farrell), o coveiro William Reese e, por fim, Gianni Versace.

BASTIDORES E RECEPÇÃO

Apesar de ser a segunda temporada da série antológica, The Assassination of Gianni Versace havia sido anunciada como a terceira, e antes dela viria a história do furacão Katrina, que destruiu Nova Orleans em 2005. Parte do elenco de Katrina havia sido anunciado, incluindo Annette Bening, Dennis Quaid e Matthew Broderick. Não se sabe ainda se eles permanecem no projeto, mas a companheira inseparável número 1 de Ryan Murphy já foi adicionada ao terceiro capítulo. Ela mesma, Sarah Paulson.

Oficialmente, a ordem foi invertida porque as filmagens de Versace estavam mais adiantadas que as de Katrina, mas posteriormente Murphy e o CEO do FX Networks, John Landgraf, revelaram que houve uma mudança no direcionamento criativo: “A expectativa é muito alta nessa franquia, e não estávamos confiantes o suficiente sobre para onde iríamos com tudo aquilo”, explicou Landgraf à imprensa em agosto do último ano. “Simultaneamente, havia uma ideia para um pivô criativo, que deixarei Ryan anunciar quando ele sentir que é o momento certo. Acho que vocês verão quando ele contar que é uma ideia muito, muito empolgante, e agora estou mais confiante criativamente do que eu estava antes.”

Enquanto isso, a segunda temporada já vem causando a sua impressão com a crítica especializada norte-americana. Escreve o crítico do The Hollywood Reporter:

“Apesar de eu ter tido minhas dúvidas quando comecei a assistir, The Assassination of Gianni Versace: American Crime Story mostra por que Murphy e companhia pensaram que esta era uma história que valia a pena ser contada na antologia. O encontro trágico de Gianni Versace, encarnação do Sonho Americano, com Andrew Cunanan, destoante combativo do Sonho Americano, faz sentido tematicamente, mesmo que nem sempre na narrativa da história.”

O elenco de O Assassinato de Gianni Versace: American Crime Story conta ainda com Max Greenfield (New Girl) no papel de Ronnie, amigo de Cunanan; Dascha Polanco (Orange Is the New Black) como a Detetive Lori Wieder; Judith Light (Transparent) como Marilyn Miglin, entre outros. A temporada estreia no Brasil em 18 de janeiro, às 23h, no FX.