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    Roberto Gómez Bolaños: Uma retrospectiva da vida e obra do criador de Chaves e Chapolin

    Um ano sem o "Pequeno Shakespeare", o Chaplin latino-americano.

    Há exato um ano, o mundo perdeu um grande ídolo: Roberto Gómez Bolaños. Dotado de um humor ágil, para todas as idades e que viria a se provar atemporal, o escritor fez jus ao título de Pequeno Shakespeare. Baseando suas criações num herói nada super ou num simples menino de rua, Chespirito conquistou a América Latina com tipos ao mesmo tempo modestos e complexos, fazendo uma crônica ora bem-humorada, ora comovente da vida cotidiana em todo o continente.

    Conheça os melhores episódios de Chaves

    Chaves, Chapolin, El Chanfle, Chapatin. Inspirado em Charles Chaplin, Roberto Bolaños moldou sua própria arte e conquistou o mundo. Enriquecida por influências históricas, literárias e cinematográficas, sua obra ficou famosa em 90 países e 50 idiomas. Esta trajetória ganha uma breve retrospectiva acima, com imagens que contextualizam o crescimento pessoal e profissional de um pequeno sonhador no México eternizado como um grande nome da dramaturgia mundial.

    Roberto Gómez Bolaños

    Uma breve retrospectiva em homenagem à vida e à obra de Roberto Bolaños, a seguir:

    Roberto Gómez Bolaños nasceu na Cidade do México, no dia 21 de fevereiro de 1929.

    Filho da secretária bilíngue Elsa Bolaños Cacho e do pintor, cartunista e ilustrador Francisco Gómez Linares, Roberto sonhava em ser jogador de futebol ou lutador de boxe. Por influência do pai, um de seus hobbies era pintar.

    O criativo Roberto Bolaños logo abandonou a formação em engenharia elétrica, rumando para o rádio e televisão, nos anos 50. Sua estreia como ator aconteceu em 1960.

    Seu foco, porém, era a função de roteirista. A riqueza e a versatilidade de suas histórias rendeu-lhe grandiosa comparação com William Shakespeare. Assim nasce o apelido que Roberto Bolaños carregou por toda a vida: Chespirito.

    Chespirito é convidado a ser um dos precursores da televisão mexicana, em 1968. Seu primeiro projeto foi o programa "Los Supergenios de la Mesa Cuadrada", que discutia em tom de paródia temas da atualidade.

    Sua primeira grande criação foi o Dr. Chapatin. O médico idoso e impaciente fazia piadas sobre as cartas enviadas por supostos telespectadores, dando-lhes respostas absurdas. Uma espécie de Seu Saraiva do México.

    A paródia às mesas redondas também marca o surgimento do Professor Girafales. Além de seu intérprete, Rubén Aguirre, Chespirito teve aqui sua primeira colaboração com Ramón Valdés e María Antonieta de las Nieves.

    Surge também Cidadão Gómez, comédia baseada num personagem ingênuo e intrometido que nada tinha a ver com o clássico Cidadão Kane.

    Em 1970, Chespirito cria o seu primeiro sucesso internacional: o Chapolin.

    Curiosamente, a concepção original previa um personagem de uniforme verde.

    A emissora, no entanto, só oferecia quatro cores de tecido: azul, preto, branco e vermelho. Por eliminação, o atrapalhado herói virou o Chapolin Colorado.

    Bolaños trabalha o ludismo do personagem vivendo um sonho de infância.

    Mas nem tudo foram flores. Chespirito chegou a se machucar de verdade durante as gravações de Chapolin.

    No ano seguinte, em 1971, Roberto Bolaños cria o seu personagem mais importante: Chaves.

    Chaves marcou o auge da carreira de Roberto Gómez Bolaños. Um trunfo da série é o seu grande elenco.

    Chaves anotou a grande média de 8,3 milhões de espectadores por episódio em seu ano de estreia.

    Rapidamente, o elenco de Chaves passou a excursionar por países em que fazia sucesso.

    E então passou a haver rusgas diversas entre o elenco de Chaves.

    A principal delas foi entre Roberto Bolaños e Carlos Villagrán. Os meninos que sonhavam em ter uma bola quadrada tinham desavenças pessoais e criativas na vida real, levando Villagrán a deixar o seriado com seu personagem, um dos mais populares de Chaves: Quico.

    Durante muito tempo, a razão pessoal apontada foi o envolvimento de Roberto Bolaños com Florinda Meza, que teve Carlos Villagrán como primeiro namorado. Eles assumiram em 1977 um relacionamento que se iniciou no começo da década de 70.

    Assim teve fim o primeiro casamento de Roberto Bolaños, com Graciela Fernández Pierre.

    Graciela foi a mãe dos seis filhos de Roberto Bolaños.

    No âmbito profissional, Chaves seguiu em frente com reformulações no elenco.

    Ramon Valdés foi um dos dissidentes do grupo. Após idas e vindas, o intérprete do Seu Madruga juntou-se a Carlos Villagrán na série solo do Quico e em apresentações ao vivo do personagem.

    El Chanfle (1979) marcou um das últimas colaborações entre Bolaños, Villagrán e Valdés. Cada vez mais controladora, Florinda Meza é tida como pivô do afastamento do trio das produções de Chespirito.

    A Televisa queria um longa-metragem de Chaves. Roberto Bolaños negou o pedido por questões criativas. Então, fez um filme sobre uma de suas paixões: o futebol.

    Você sabia? El Chanfle é o verdadeiro filme que na versão brasileira é tratado como o filme do Pelé.

    Chaves — em seu formato tradicional, solo — acabou em 1980. Roberto Bolaños pensou em dar um fim trágico para o personagem, que morreria em decorrência de um atropelamento. Ele foi dissuadido por sua filha, que alertou Chespirito sobre os perigos da decisão.

    Em vez disso, Bolaños incluiu Chaves na segunda fase do Programa Chespirito, reunindo esquetes de seus principais personagens.

    Um dos destaques da atração era o Chómpiras (no Brasil, Chaveco), cujo nome verdadeiro era Parangaricutiridolfo Parangaricutigodinez.

    Uma das referências desse nome bizarro é Parangaricutirimícuaro, palavra mágica da varinha de condão da Bruxa Baratuxa.

    O segundo nome homenageia Godinez, personagem mais popular do irmão do Chespirito, Horacio Gómez Bolaños.

    Outro personagem do Programa Chespirito foi Chaparrón, um personagem louco que ficou conhecido no Brasil como Pancada Bonaparte (referência direta a Napoleão, claro).

    Uma curiosidade bem interessante é que o personagem deu lugar a Chaves. Roberto Bolaños decidiu criar seu principal sucesso depois que Rubén Aguirre deixou o esquete estrelado pelo Chaparrón.

    Roberto Bolaños seguiu investindo no cinema. Após a continuação de El Chanfle, ele dirigiu e estrelou Don Ratón y Don Ratero. A comédia de 1983 é uma paródia aos filmes de gângsteres.

    No ano seguinte, uma paródia aos filmes de faroeste: Charrito - Um Herói Mexicano.

    E você já se perguntou por que todos os personagens principais de Roberto Gómez Bolaños têm um "CH" como marca registrada?

    Chaplin! Apesar de seu apelido ser derivado de Shakespeare, a principal influência de Chespirito foi o comediante britânico — cujo principal personagem, aliás, também é famoso por um pseudônimo no diminutivo: Carlitos.

    O Garoto é apontado como a principal influência de Bolaños na criação do homônimo Chavo.

    Chespirito reuniu o elenco de Chaves em homenagem a Carlitos.

    Roberto Bolaños também explorou diversas influências literárias em sua obra. Dom Quixote, de Miguel Cervantes, Branca de Neve, dos Irmãos Grimm, e Fausto, de Goethe, foram algumas das obras clássicas recontadas em Chapolin.

    Outra influência identificável na comédia de Roberto Bolaños é Peter Sellers. Na imagem, Ramon Valdés personifica um dos clássicos estrelados pelo comediante britânico: A Pantera Cor de Rosa.

    Laurel e Hardy também foram revisitados por Roberto Bolaños em versão mexicana de O Gordo e o Magro.

    Em 1988, morre Ramon Valdés, para o pesar de Chespirito. Apesar das desavenças, Roberto Bolaños revelou profunda tristeza pela morte do amigo.

    María Antonieta de las Nieves, por sua vez, reclama não ter recebido o mesmo carinho de Bolaños, com quem travou longa disputa judicial pelos direitos autorais da Chiquinha.

    Roberto Gómez Bolaños e Florinda Meza só oficializaram sua união em 2004, com uma grande festa na Cidade do México.

    Florinda Meza divulgou recentemente imagens de Roberto Bolaños nos últimos anos de vida.

    Além da pintura, o piano foi um dos hobbies praticados pelo versátil artista na tranqulidade do lar.

    Roberto Gómez Bolaños morreu no dia 21 de novembro de 2014, com uma parada cardíaca decorrente de problemas respiratórios crônicos. Ele estava em sua casa em Cancún, ao lado da esposa Florinda Meza.

    Homenagens ao ídolo latino-americano invadiram a internet.

    Chespirito inspirou anônimos...

    ... e personalidades.

    "Roberto não se vai. Permanece em meu coração, e no coração de tantos outros a quem fez feliz. Adeus, Chavinho. Até sempre." — Edgar Vivar

    Assim, Roberto Gómez Bolaños ficou eternizado, em cores vivas, na memória de seus milhões de fãs.

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