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    Os filmes de Guillermo del Toro, do pior ao melhor

    Uma bela carreira marcada por exuberância visual, intensa criatividade e sincretismo de temas, influências e gêneros.

    O homem de sorriso fofo da foto acima é um grande cineasta: Guillermo del Toro, artista mexicano versátil no fazer cinematográfico e cuja cinefilia transborda numa rica articulação de referências e gêneros, em um sincretismo que sempre desagua no horror e na fantasia. Assim, ele mais acerta do que erra, com obras que emanam, invariavelmente, sua paixão pela sétima arte.

    Em homenagem ao seu cinema e à estreia de seu 10º longa-metragem, o aguardado A Forma da Água, na próxima quinta-feira (dia 1º de fevereiro), segue o nosso ranking de todos os filmes do diretor, do pior ao melhor.

     

    Os filmes de Guillermo del Toro, do pior ao melhor

    Qual será a posição do elogiado A Forma da Água em nosso ranking dos filmes de Guillermo del Toro?! Confira!

    10. Mutação (1997)

    Diferentemente do ambicioso e surpreendentemente bem-sucedido Cronos, seu primeiro longa-metragem, Guillermo del Toro oscila muito em Mutação. Sua premissa potente com inspiração nos filmes B e clássicos em diferentes tempos, como o então recente A Mosca, caminha desequilibrada entre sua origem fantástica e a "necessidade" de integrá-la à vida real, nem fazendo sentido aqui, nem potencializando sua essência a um nível suficientemente assustador. O excesso de subtramas e saltos temporais também torna sua narrativa irregular. Apesar disso, o primeiro filme em língua inglesa do cineasta mexicano prenuncia sua capacidade de construir atmosfera e suspense — elemento distintivo dos sustos fáceis nos filmes genéricos de diretores ruins.

    9. A Colina Escarlate (2015)

    A emulação do cinema de horror do italiano Mario Bava, a construção detalhada da maravilhosa mansão da Família Sharpe e o brilho com que o sobrenatural invade a telona são elementos que tornam A Colina Escarlate uma experiência gratificante, especialmente quando assistido no cinema. Por tudo isso, é pena que a fábula gótica de Guillermo del Toro possua uma seja tão simplória (algo fatal em filmes baseados na narrativa), nunca engrene, e seja prejudicada por um ritmo moroso que não se justifica e impede um maior engajamento do público.

    8. Hellboy (2004)

    Se alguém duvida do respeito que Guillermo del Toro tem pelo cinema como forma de arte, cabe lembrar: ele deixou a direção de Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban para o conterrâneo Alfonso Cuarón para levar às telas uma HQ sombria (em termos de publicidade e temática) sobre um personagem nascido no inferno. Pois ele acertou em cheio em realizar uma adaptação fiel em todos os sentidos — da história e personalidade à composição de cenários e enquadramentos — graças a duas escalações perfeitas: o criador do protagonista, Mike Mignola, como colaborador; e Ron Perlman como Hellboy.

    7. Blade 2 (2002)

    Hellboy foi um grande filme no momento de estabelecer um universo, mas pecou um bocado na hora de explorá-lo e criar um vilão à altura de seu protagonista. Blade 2 vem à frente no ranking exatamente por abusar de suas possibilidades, adentrando o submundo dos vampiros de forma mais incisiva e cotidiana (aprendemos que eles se beijam com giletes na boca para aumento de prazer), encadeando uma trama correta com sequências de ação eletrizantes, composta de cenas de luta muito bem coreografadas pelo mestre Donnie Yen, e colocando Wesley Snipes, impecável no papel, contra seres ainda mais bizarros, perigosos, e um temível antagonista com coração revestido de osso.

    6. Cronos (1993)

    Não se assuste com o visual decadente de Cronos. Muito embora o longa-metragem de estreia de Guillermo del Toro soe, de fato, um tanto datado, haja vista seu orçamento modesto, essa é exatamente a estética desejada e adequada ao cartão de visitas do diretor, em que apresenta seu apelo a um cinema fantástico que frequentemente se encontra com o mundo real (repare a arquitetura gótica do casarão do protagonista), aos filmes de vampiros e ao gênero de horror no geral, a discussões existenciais sobre vida e morte... Enfim, um trabalho modesto, até meio tosco, mas suficientemente envolvente e muito efetivo.

    5. Hellboy 2 - O Exército Dourado (2008)

    Um autor com a imaginação de Guillermo del Toro não é bem a cara do cinema blockbuster hollywoodiano. Não à toa Hellboy 2 - O Exército Dourado foi modesto em arrecadação, não alcançando os planos de um final em trilogia, e grandioso em termos criativos. Mais uma vez, o cineasta mexicano cria uma trama básica apenas correta, mas, diferentemente do original, aproveita o máximo de suas possibilidades: no subtexto, impondo questões sobre a coexistência entre mundos distintos (tão impossível quanto inconcebível, e tão fantástica quanto real) e outras mais intimimamente existencialistas, e no modo com que sua inventividade atua sobre o universo de Hellboy para representar visualmente (e de modo ao mesmo tempo sinistro e lindo) suas angústias mais profundas.

    4. Círculo de Fogo

    Um apaixonado por gêneros clássicos das mais diferentes cinematografias, Círculo de Fogo homenageia o clássico filme de monstro japonês de modo invariavelmente ousado, haja vista os parâmetros mais recentes de obras tokusatsu (de Godzilla a Jaspion) e até mesmo a franquia Transformers, nenhuma delas sendo um sinônimo de sofisticação cinematográfica. Sobre a primeira influência, o tributo é assumido com uma atmosfera urgente, apocalíptica e, veja só, apoteótica, vide a encenação da chegada de um Jaeger, dos céus e sob holofotes, para o segundo round de uma batalha eletrizante. Quanto à coincidência do segundo, é aula de cinema que ensina que robôs gigantes podem se digladiar com aliens ainda maiores, em ambientação escura, sem comprometer o entendimento da cena ou que o filme pareça uma aventura que trata o público como idiota.

    3. O Labirinto do Fauno (2006)

    A Alice da Espanha sem maravilhas do regime franquista é Ofelia, enteada de um militar abominável a serviço da ditadura com quem sua mãe se casa em troca de algum tipo de segurança. Diante dessa realidade deprimente, sombria, aterrorizante, deparar-se com um universo de fantasia habitado por monstros traiçoeiros, com poderes mágicos e planos escusos, torna-se uma aventura confortante — ou uma esperança frente a uma vida em que a repressão habita a própria casa. Além da jovem e talentosa Ivana Baquero como a protagonista, O Labirinto do Fauno traz Doug Jones (ator especializado em dar vida a criaturas mecatrônicas) em seu papel de maior destaque como o personagem-título e o horripilante Homem Pálido.

    2. A Espinha do Diabo (2001)

    Espécie de filme de origem de O Labirinto do Fauno, A Espinha do Diabo é uma belíssima alegoria sobre as conseqüências massacrantes da Guerra Civil Espanhola. O clima de desolação e dinâmica hostil e austera entre os internos de um orfanato refletem o estado de espírito de um povo oprimido pela ditadura. Seus habitantes, tão meninos quanto Carlos; sua existência, tão fantasmagórica quanto o espírito de Santi, morto brutalmente. Essa combinação entre realidade e fantasia, transformada em potente metáfora de um período lúgubre da história recente do nosso mundo, abriu em definitivo as portas de Hollywood para a arte de Guillermo del Toro.

    1. A Forma da Água (2017)

    Sim, estamos aqui para aumentar sua expectativa pela grande estreia da semana e favorito ao Oscar 2018 de melhor filme. Porque, sim, A Forma da Água é belíssimo. Para alguns, uma obra-prima. E tem todas as credenciais para sê-lo. Síntese da proposta de cinema de Guillermo del Toro, o filme é um sofisticado sincretismo de gêneros (romance, fantasia, terror, noir, com seus clichês operados com profunda autoconsciência e sem pena), referências ao cinema clássico e discussões de âmbito social, histórico e humano, todos em perfeita sintonia, encenados brilhantemente sob a luz de uma fotografia estonteante, repleta de sentidos. Material incrível, potencializado por um elenco maravilhoso, estrelado por Michael Stuhlbarg, Richard Jenkins, Octavia Spencer, Michael Shannon e pela assombrosa Sally Hawkins.

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