A Marvel lançou nessa quinta-feira (3) seu último lançamento de 2016: Doutor Estranho. O filme de Scott Derrickson vem recebendo críticas medianas, mas é mais um sucesso de bilheteria garantido do estúdio. O que confirma o óbvio: as coisas já são bem diferentes de 40 anos atrás.
No dia 6 de setembro de 1978, a CBS exibia Dr. Estranho. O formato telefilme tinha motivo: lançá-lo na mesma plataforma em que seria transformado em série — como aconteceu com O Incrível Hulk e Homem-Aranha. Porém, as coisas não foram como o esperado.
A reexibição da cultuada série racial Roots, na ABC, foi um dos motivos, roubando grande parte de sua potencial audiência. Mas o principal causador do fracasso de Dr. Strange foi sua ambição. Segundo o THR, o público televisivo não estava preparado para a história cerebral e cadenciada de um psiquiatra que acaba envolvido numa batalha multisecular entre o bem e o mal.
Philip DeGuere foi o grande mentor do projeto. O diretor, produtor e roteirista teve um ótimo orçamento para realizar o telefilme em elaborados sets em Los Angeles e Nova York. E a trilha é bem avançada pra época, toda eletrônica. "Ele queria que tudo saísse realmente perfeito. Pelo telefilme, se podia ver que tudo foi realmente feito de um modo muito espetacular", disse a intérprete da vilã Morgan Le Fay, Jessica Walter.
A antagonista ganhou uma trama semelhante à do Barão Mordo nas HQs: Le Fay devia matar o Mago Supremo ou levar seu successor, Strange, para o lado do mal. Para tal, ela assume o corpo da estudante Clea (Anne-Marie Martin, mais conhecida por seu casamento com o cultuado escritor Michael Crichton), paciente do Doutor e seu futuro interesse amoroso — assim como a própria Le Fay.
A história é um tanto datada e tosca, como o visual setentista do galante e bigodudo Peter Hooten no papel principal. Porém, o elenco é elogiado até hoje. Tanto por nomes como John Mills, ator vencedor do Oscar que deu vida ao Mago Supremo (contraparte da Anciã vivida por Tilda Swinton em Doutor Estranho); como pela dedicação dos atores, que tiveram de se arriscar para que as cenas de efeitos especiais dessem certo.
"Ele sabia exatamente o que queria ao criar aquele conteúdo", diz o ator Frank Catalano sobre o cineasta Philip DeGuere. O problema é que, como o longa-metragem hoje mostra, suas ideias estavam muito à frente de seu tempo. No que tange à mentalidade das pessoas, como o THR pontuou, e, principalmente, em termos de recursos. Foi muita ousadia para pouca tecnologia.
"Eles estavam tentando descobrindo um modo de fazer aquilo funcionar. Houve muito tempo perdido, pois o que eles estavam tentando capturar não podia ser capturado", explica Clyde Kusatsu, intérprete de Wong. E ele relata uma mostra de que DeGuere foi competente no que pôde: "Eu não tive que andar por aí com túnicas exóticas ou qualquer outra coisa representando o misterioso Oriente", conta ele, revelando uma quebra de paradigma em relação aos estereótipos daquele tempo.
Clyde Kusatsu também foi todo elogios a Benedict Cumberbatch ("Ele foi um cavalheiro maravilhoso") e está muito animado com o lançamento de Doutor Estranho. Tanto pela iminente realização de um sonho que eles tentaram há 40 anos, como pelos olhos que se voltaram para o hoje cultuado Dr. Estranho, lançado em DVD, nos Estados Unidos, na última terça-feira.
Pena que Philip DeGuere, morto em 2005, não está mais aqui para ver o interesse que seu trabalho atrai. E para ser reconhecido pela coragem de realizar um longa-metragem que fracassou por ser tão inovador. Ah, se todos os jovens e bons cineastas, com tantos recursos, tivessem tamanha ambição...
Dr. Estranho
O cartaz principal do telefilme de 1978 sobre Stephen Strange. Bonito?
Dr. Estranho
Peter Hooten como o protagonista Stephen Strange.
Dr. Estranho
Anne-Marie Martin como Clea.
Dr. Estranho
Jessica Walter como a vilã, também conhecida como Morgana.
Dr. Estranho
Clyde Kusatsu como Wong.
Dr. Estranho
John Mills como o Mago Supremo.
Dr. Estranho
Material de divulgação do telefilme.
Dr. Estranho
Outro cartaz.
Dr. Estranho
O trailer!
Doutor Estranho
Que diferença...
Dr. vs Doutor
Tem nem comparação... Peter Hooten ganha de goleada!