Marilyn Monroe é um nome perfeito a se homenagear nos dias atuais. Nada bela, recatada e do lar, a estrela mostrou ao mundo, em plena década de 50, que o lugar da mulher é onde ela quiser. Trocou de casa, trocou de marido, trocou de nome — alterou todos os rumos de uma história fadada ao fracasso. A despeito de um fim trágico, quem poderá dizer que Marilyn não foi uma grande vitoriosa?
Acima, um resumo da vida e da carreira de Marilyn Monroe. Muito mais que uma artista de cinema ou um mero símbolo sexual, um ícone de resistência contra os traumas de uma infância difícil e a opressão de uma sociedade implacável; enquanto pôde. Confira!
Modelo, atriz, símbolo sexual, ícone pop e uma mulher muito, muito frágil. Marilyn Monroe faria 90 anos hoje. Relembre a vida e a carreira de uma das maiores celebridades da história do cinema.
Norma Jeane Mortenson nasceu no dia 1º de Junho de 1926, em Los Angeles. Ela só se transformaria legalmente em Marilyn Monroe em 1956, aos 29 anos, como que num ato de fuga de um triste passado. Essa linda criança teria uma infância nada bela, marcada por traumas de uma família tão desestruturada.
Gladys engravidou de Norma Jeane num período conturbado de sua vida, quando se separou do segundo marido, Martin Edward Mortensen. Consequentemente, Marilyn nunca soube quem seria o seu pai biológico. Mas o principal motivo de sua tristeza fora a distância que teve da própria mãe.
Norma Jeane cresceu sem saber que sua mãe tivera outros dois filhos. O primeiro marido de Gladys, Jasper Baker, fugira com o casal de filhos. Gladys nunca mais veria um deles, tenho morrido o menino. Ela também viveria longe de Norma Jeane. Sem tempo e dinheiro para sustentá-la, Gladys entregaria a filha caçula a pais adotivos. Gladys recupera sua guarda anos mais tarde, ao comprar uma casa. Em poucos meses (e seguindo um triste histórico famliar de problemas psicológicos), Gladys sofre um colapso nervoso. Norma Jeane viveria trocando de lares adotivos ao longo de sua tenra idade. E a imagem de sua mãe "gritando e rindo" a caminho do hospital psiquiátrico a perturbaria em toda a vida.
Marilyn dizia ter sido molestada por duas famílias pelas quais foi adotada. Uma dessas famílias teve de mudar de estado, a trabalho, e as leis da Califórnia impediam que Monroe fosse levada com eles. Uma jovem de 16 anos recém-completados, ela decidiu não mais voltar a um orfanato e casou-se com o filho de um vizinho, James Dougherty, 21. O matrimônio arranjado com alguém com quem não tinha a menor afinidade era angustiante: "Meu marido e eu quase não conversávamos. Isso não acontecia porque estávamos sempre com raiva, nós só não tínhamos nada a dizer. Eu morria de tédio", dizia Marilyn.
Desde pequena, Norma Jeane dizia que atuar era um sonho; um modo de fugir de sua dura realidade. Após primeiros trabalhos de fotografia (registrando mulheres operárias — sintomático), ela logo passaria à frente das câmeras. Seu sucesso como modelo cresceu quando a jovem passou a descolorir seus encaracolados cabelos de cor castanha. Nascia, assim, Marilyn Monroe — inspirada em Marilyn Miller, estrela da Broadway, com Monroe retirado do sobrenome de solteira de Gladys, sua mãe. Uma participação no filme Idade Perigosa (1947), um ano após se divorciar de James, marcaria sua estreia no cinema.
Marilyn dedicou anos em aulas de atuação, canto e dança. Ela também passaria boa parte do tempo conhecendo os bastidores da indústria — construindo laços profissionais e, segundo alguns biógrafos, pessoais com executivos de estúdio. Após fechar contrato com a Columbia Pictures, ela teria o seu primeiro papel principal em Mentiras Salvadoras (1948). Marilyn deu vida a uma cantora de coro que era cortejada por um homem rico.
O fracasso comercial de Mentiras Salvadoras fez Loucos de Amor (1949) ser considerado "o filme que descobriu Marilyn Monroe". Seu papel foi pequeno, mas a popularidade dos irmãos Harpo, Chico e Groucho Marx e o fato de ter participado na turnê promocional de Love Happy tornou o filme seu primeiro sucesso no cinema.
27 de maio de 1949. A poucos dias de completar 23 anos, mergulhada em dívidas, Marilyn Monroe finalmente aceitaria a ousada proposta do fotógrafo Tom Kelley de fotografá-la num ensaio nu. O que poderia virar uma mancha na carreira viria a se tornar um dos trabalhos fotográficos mais bonitos e históricos: Red Velvet ("Veludo Vermelho"). E um dos momentos de maior coragem de uma atriz de Hollywood. Intitulada "Golden Dreams", a foto em que a imagem acima é inspirada veio à tona em 1952, quando os executivos da 20th Century Fox se negavam a admitir que "Mona Monroe" era Marilyn. Ela convocou uma coletiva de imprensa e, diante de uma sociedade machista e uma imprensa ávida por fofoca, ela declarou: "Eu estava quebrada e precisava de dinheiro. Por que negar?" A honestidade e inocência da atriz conquistaram a opinião pública. Sua espirituosidade também. Perguntada se ela não teria nada ("had anything on") durante o ensaio fotográfico, ela respondeu que tinha, sim. Não tinha roupas, mas tinha um rádio ligado ("I had the radio on") ao lado. Assim que se faz um mito...
A situação financeira de Marilyn melhoraria definitivamente a partir de O Segredo das Jóias (1950), do lendário John Huston. O filme noir foi indicado a quatros Oscars: diretor, roteiro, fotografia e ator coadjuvante, a Sam Jaffe.
Os papéis secundários em filmes importantes continuariam em A Malvada (1950). Na foto acima, clássica, Marilyn surge sentada entre Anne Baxter e Bette Davis. Grande momento da Era de Ouro do Cinema Americano.
Só a Mulher Peca, de Fritz Lang, e O Inventor da Mocidade, de Howard Hawks: só em 1952, mais dois filmes de duas lendas do cinema. Com o direito de contracenar com Cary Grant.
A parceria com Howard Hawks rendeu o primeiro grande papel de Marilyn Monroe no cinema. Os Homens Preferem as Loiras (1953) fez muito sucesso e foi um dos responsáveis pelo primeiro Globo de Ouro honorário da atriz, eleita a favorita do público em 1954.
Como Agarrar Um Milionário foi o outro grande sucesso de Marilyn em 1953. O filme seguiu a linha de comédias com teor sexista dos anos 50, e marcou de vez seu (lamentável) estereótipo de "loira burra". Ainda assim, o filme de Jean Negulesco foi além, entrando na história do cinema como o primeiro filme rodado em CinemaScope.
O sucesso de Marilyn crescia proporcionalmente às polêmicas sobre sua figura. Nos bastidores, ela era tida como uma atriz difícil, que retardava as gravações com seu jeito metódico e atrasos constantes. Vinha à tona seu vício em medicamentos pare conter a ansiedade e a depressão. Em 1954, após um relacionamento com o grande diretor Elia Kazan (Sindicato de Ladrões), ela casou-se pela segunda vez, com o famoso jogador de baseball Joe DiMaggio.
Marilyn era a mulher mais popular do cinema e não recebia o tratamento devido de Hollywood. Ela recebia bem menos que outras atrizes e se queixava de ser explorada como sex symbol em comédias. Seu protesto teve resultados: ela conseguiu um novo contrato e trabalhou com o ator Robert Mitchum no faroeste O Rio das Almas Perdidas, de mais um grande cineasta: Otto Preminger.
A bem-sucedida colaboração de Marilyn Monroe com o genial Billy Wilder teve como momento mais icônico essa imagem. A cena do vestido voando corresponde ao filme O Pecado Mora ao Lado, adaptação do sucesso homônimo da Broadway. The Seven Year Itch também rendeu sua primeira indicação de atriz estrangeira no BAFTA.
A exposição da cena do vestido branco foi um golpe publicitário e tanto, mas teve efeitos negativos em sua vida pessoal. Joe DiMaggio não gostou nada da cena e o casal se separou depois de alguns meses de matrimônio. Durante a separação, ela viria a iniciar um relacionamento conturbado com o escritor (casado) Arthur Miller. A Fox repudiava o caso de Monroe com o dramaturgo por ele estar sendo investigado pelo FBI. A imprensa rejeitava o matrimônio entre "um intelectual e uma loira burra". Mesmo assim, eles se casaram. No dia seguinte, ela ainda decidiu se converter à religião do marido, o judaísmo — levando o Egito a censurar seus filmes. O casamento de Marilyn e Miller durou cinco anos, até 1961.
Marilyn conquistou o reconhecimento da crítica com o filme Nunca Fui Santa (1956). Em 1957, ela foi para a Inglaterra gravar O Príncipe Encantado. A produção foi caótica! Tema do recente filme Sete Dias Com Marilyn (2011), o período envolveu sua lua de mel com Arthur Miller, problemas de relacionamento com o diretor e protagonista Laurence Olivier, uso abusivo de drogas e o primeiro de sucessivos abortos. A carreira, no entanto, seguia em ascensão, rendendo-lhe mais uma indicação ao BAFTA de melhor atriz estrangeira.
Depois de um período sabático para se dedicar ao marido e à saúde, Marilyn voltou aos cinemas com uma das maiores comédias de todos os tempos: Quanto Mais Quente Melhor, de Billy Wilder. Os problemas de concentração no set e insegurança de Monroe continuaram, mas o trabalho final foi muito elogiado por todos. O filme acabou indicado a seis Oscars e vencendo três Globos de Ouro, incluindo um de melhor atriz para Marilyn Monroe.
Os Desajustados (1961) seria o último filme de Marilyn Monroe. Com direção de John Huston, roteiro de Arthur Miller e elenco estrelado por Clark Gable, Montgomery Clift e Eli Wallach, mas recepção morna nos cinemas.
Essa icônica foto de Marilyn com um bolo de aniversário dentro da limusine lembra polêmica envolvendo o Robert F. Kennedy. Biógrafos da atriz afirmam que a estrela teve mesmo um caso com o 35º Presidente dos Estados Unidos. Em 19 de maio de 1962, ela cantaria "Happy Birthday, Mr. President" em festa aos 45 anos de John Kennedy. A ausência da primeira-dama Jackie Kennedy intensificou as fofocas. O vestido de brilhantes usado por Marilyn Monroe na cerimônia entrou para a história como um dos itens de colecionador mais caros do mundo.
Marilyn Monroe viria a falecer apenas dois meses depois. Ela foi encontrada morta no quarto de sua casa em Los Angeles, por intoxicação por barbitúricos. Sua morte inesperada foi primeira página nos maiores jornais do país e chocou o mundo. Seu diretor em Nunca Fui Santa, Joshua Logan, apontou como ela foi uma atriz injustiçada. Apesar das desavenças, Laurence Olivier levantou que Marilyn fora "vítima" da perseguição da imprensa. Como as fofocas mesmo após a sua morte viriam a comprovar, com o surgimento de diversas teorias conspiratórias a respeito de seu falecimento. A realidade mais plausível é que a sua morte por overdose, acidental ou não, fora reflexo de uma vida de luta, tanto contra demônios pessoais, como para se manter sã numa indústria tão exigente, sexista, cruel.
Andy Warhol tinha pleno entendimento disso, e usou Marilyn como um dos principais ícones de contestação de sua pop art. Tal qual as "Latas de Sopa Campbell", a série dedicada a Monroe reflete sobre o consumo desenfreado do capitalismo. Como um enlatado, a atriz foi tratada como objeto e devorada pela mídia. Reproduzida incessantemente, apenas como superfície de si mesma, num retrato colorido porém borrado, capaz apenas de esconder as reais emoções da menina Norma Jeane escondida sob o ícone de Marilyn Monroe.
Assim, Marilyn Monroe tornou-se imortal. Como um símbolo sexual, sim, mas alguém que lutou o quanto pôde e venceu, apesar de todos os obstáculos de uma infância traumática, de todas as dificuldades impostas por uma sociedade opressora. Um signo de beleza enquanto viveu; um ícone de talento e resistência para todo o sempre.
Norma Jeane Mortenson nasceu no dia 1º de Junho de 1926, em Los Angeles.
A fascinante de história de Marilyn Monroe rendeu os mais diferentes filmes sobre sua vida. Em 2011, o diretor Simon Curtis realizou uma cinebiografia sob o ponto de vista de Colin Clark, encarregado de acompanhar a estrela no set britânico de The Prince and the Showgirl. Sete Dias Com Marilyn relata a relação da atriz com o coprotagonista Laurence Olivier e com seu marido, Arthur Miller, com quem passa lua de mel no Reino Unido. Uma investigação sobre a personalidade complexa (e o poder hipnótico) de Marilyn Monroe.