Cine Joia RioShopping: A melhor programação de cinema chega à zona oeste da Cidade Maravilhosa

O pequeno Cine Joia Copacabana foi reaberto em 2011 com um grande desafio: estabelecer um cinema de rua do circuito de arte numa indústria dominada por blockbusters e multiplexes. Quatro anos se passaram e a pequena pérola no subsolo de uma galeria conquistou a vizinhança, a cidade, o público e a imprensa especializada, sendo reconhecido pela Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro (ACCRJ). Desafio vencido, surge um novo: levar a melhor programação de cinema para a zona oeste da cidade.

O Globo

O Cine Joia RioShopping chegou há uma semana ao bairro da Freguesia, com um modelo bem definido para conquistar o grande público de Jacarepaguá: "Se nós já éramos bons estando limitados ao circuito de arte, imagine agora que podemos fazer uma composição dos filmes de arte com os filmes de estúdio", diz Raphael Aguinaga, disposto a acabar com essa ideia de que o Joia só passa "filme-cabeça". O proprietário promete brindar o público com o melhor dos dois universos.

O empresário demonstra toda a paixão que levou-o a deixar o mercado financeiro para se dedicar ao cinema. Aguinaga fala em detalhes sobre o Cine Joia RioShopping: revela as diversas atividades culturais e projetos sociais que realizará no espaço, descreve o mobiliário do local, conta planos de expansão da Vilacine (administradora do Joia), além de seu retorno ao cinema. Raphael Aguinaga também é cineasta, e dos bons.

O papo foi longo, mas bem legal. É animador ver uma pessoa atuar com uma visão inovadora e otimista sobre o cinema no Brasil. Confira e comprove:

Ponto integrado de cultura

"Quebra de paradigma". Assim Raphael Aguinaga define a inversão de lógica alcançada pelo Cine Joia, um cinema de rua convidado a ocupar o espaço do multiplex. A Vilacine promete não se acomodar e levar ao público do shopping uma programação diferente. Portanto, não se espante ao se deparar com projeções de videoarte, exibições de violoncelo ou apresentações teatrais no foyer do cinema. Apaixonado por poesia, Aguinaga quer realizar recitais dentro da Sala 1, antes do início de blockbusters.

Sustentabilidade

Detalhado no slideshow acima, o foyer do Cine Joia é um atrativo à parte. Sua área de 300m² é repleta de móveis recuperados por uma cooperativa de catadores, tratados por marceneiros e grafitados por artistas urbanos. E praticamente tudo ali está à venda!

"Você tem a dimensão do design original da cadeira, a dimensão da recuperação de uma coisa que estava descartada e que volta para o uso, a dimensão da arte urbana e da sustentabilidade, e da retroalimentação, já que você cria uma rentabilidade para uma cooperativa de catadores. Tudo dentro de uma sala de cinema. Por que não?!"

Prioridade: o espectador

Raphael Aguinaga reclama que acordos entre distribuidores e exibidores estavam atuando em detrimento do espectador. Assim, escalou uma equipe (liderada pelo programador e cinéfilo Raphael Camacho) incumbida de selecionar apenas os filmes bons. Então, Aguinaga definiu um plano que ele diz estar amadurecido hoje: "Toda a nossa filosofia e estratégia de negócios é baseada numa relação custo-benefício melhor para o espectador."

A equação de Aquinaga é simples: preço inferior, taxa de ocupação superior. "O Joia é o ingresso mais

barato da zona sul do Rio e opera com uma taxa de ocupação que é quase o dobro da média nacional, conta o empresário, que trata seu modelo como eficiente e sustentável mesmo em tempos de recessão (como o que vivemos hoje). Assim, ele também desfez o mito de que a população brasileira não vai ao cinema: "O tíquete que é alto."

"Programação premiada, precinho camarada"

O prêmio da ACCRJ permitiu a criação do simpático slogan. E sem propaganda enganosa! A política do Cine Joia é de não variação de preços. Não importa o dia, o horário ou o filme, o cliente do Joia sabe exatamente quanto irá gastar. Atualmente, a entrada inteira custa R$20 — e as promoções de "Todo mundo paga meia" são constantes. O combo de pipoca pequena e refrigerante 300ml custa 10 reais.

Democratização do acesso

A prática de preços acessíveis, visando a um lucro obtido pela quantidade, atua lado a lado com uma mentalidade de democratização do acesso. O público que vai ao cinema por um preço mais baixo também tem a oportunidade de ver o trailer de um pequeno filme argentino, como Papéis ao Vento, durante o trailer de um blockbuster do tamanho de Jogos Vorazes: A Esperança - O Final.

Num âmbito mais amplo, industrial, o Cine Joia dá espaço ao cinema brasileiro do circuito de arte, seja em pré-estreias, seja com a programação fixa do "Segundas Nacionais". Internacionalmente, a promessa é de mais mostras paralelas de diversos países, como Dinamarca, Alemanha e Israel. A próxima mostra será sobre o bom cinema argentino. Em breve, fique de olho.

Cinema como ferramenta de apoio à educação

"A indústria de exibição é muito pouco engajada, pouco solidária, e muito pouco atenta a questões sociais", lamenta Aguinaga, que acredita no cinema como plataforma de apoio a matérias ensinadas em sala de aula. O Cine Joia RioShopping pretende ampliar o projeto da matriz em Copacabana, que realiza exibições gratuitas de filmes educativos para seis escolas públicas do bairro.

Engajamento como posicionamento de marca

O Cine Joia realizará uma ação social de Natal que levará pelo menos 200 crianças ao cinema pela primeira vez. "Comercialmente, é prejudicial no curto prazo, porque você fecha uma sessão comercial para realizar uma sessão gratuita", Aguinaga reconhece, para então ensinar: "Apesar da gente fazer isso por princípio, a gente também vai construindo uma imagem que no futuro vai beneficiar a gente demais, mas num longo prazo."

Raphael Aguinaga dispensa um discurso radicalizado ou demagógico, e explica: "A gente é uma S/A. Empresa com fins lucrativos. Toda a nossa filosofia é um casamento da lógica econômica com a questão social — junto com a nossa paixão, que é o cinema." Anotou?

O Joia na Zona Oeste

A inserção do Cine Joia em Jacarepaguá se dará de diferentes formas paralelas à atividade exibidora. Além de parcerias com escolas da região, o cinema fechou acordo com o surfista Carlos Burle para a realização de um cineclube de surfe. Daí nasceu um apoio à campanha de limpeza da praia de São Conrado. A Vilacine também oferece planos especiais de produção e divulgação de comerciais para empresários locais, nos trailers do Cine Joia. Por fim, conversas com a Associação dos Moradores da região promete aproximar o público do novo cinema do bairro (que deverá servir como sede das reuniões da AM).

Contato com o público e expansão

"Eu respeito muito quem ainda separa um tempo para ir ao cinema", conta Aguinaga, reconhecendo a concorrência de tantas opções de entretenimento nos dias de hoje. Engajar a comunidade a "se apoderar das salas" é uma prioridade, e por isso os funcionários têm um contato tão próximo do público de Copacabana. Tal aproximação é resultado do comprometimento social do Cine Joia; o que, por fim, atua a favor da alta taxa de ocupação de seus cinemas. Toda essa combinação rendeu convites para o Cine Joia seguir sua expansão pelo Rio e outros estados  — o que pode acontecer em breve.

Raphael Aguinaga, cineasta

"Eu tô sempre fazendo o próximo filme. Sempre!", diz Raphael Aguinaga sobre seu outro projeto de grande prazer: a continuação de Juan e a Bailarina. A divertida história de um grupo de velhinhos que se desespera com a descoberta da ressurreição de Cristo é também ambiciosa, e prevista para ser uma trilogia. Segundo o cineasta, é preciso tomar o tempo necessário para apreender tudo que a vida tem a oferecer e poder passar uma boa experiência para o público. Ele está pronto. 

O próximo longa da trilogia terá história paralela à do primeiro filme, e mostrará quem é aquele homem e por que ele causou tamanha comoção mundial. A ideia de Aguinaga — que já tem um esboço do roteiro bem desenvolvido — é iniciar a pré-produção em 2016. Tempo suficiente para você correr atrás e conhecer o simpático (e por vezes ousado) Juan e a Bailarina.