Há exatos 80 anos nascia um cantor que iria mudar para sempre o rumo da música popular no século 20: Elvis Presley (1935 - 1977). Aquele que viria a receber o epíteto de Rei do Rock - há quem discuta se o título é justo ou não - emergiu no interior do humilde estado de Mississippi, um dos mais pobres dos Estados Unidos, para ganhar o mundo com sua voz grave, sua dança que chocava os guardiões da moral e bons costumes na época e suas canções sobre amor e espiritualidade, que passeavam por gêneros como rock, blues, pop e gospel.
Historiadores do rock divergem sobre qual seria primeira música de rock de todos os tempos, mas muitos defendem que a pedra fundamental do gênero é a gravação de "That's All Right (Mama)", lançada por Elvis em 1954. À parte do debate sobre o pioneirismo, é inegável que a influência do cantor impactou toda uma geração. "Não existia nada antes dele. Elvis era a nossa maior referência. Nada me influenciou tanto. Sem ele não haveria Beatles", disse John Lennon em certa ocasião.
Com o passar do tempo, o estilo rebelde do Elvis dos anos 50 foi dando espaço ao visual excêntrico e inconfundível do artista que encarnou com facilidade a persona de membro da realeza da música que o público lhe concedeu. "A imagem é uma coisa e o ser humano é outra... É muito difícil viver de acordo com uma imagem", disse o Rei em uma coletiva de imprensa em 1972.
Apesar de ser primordialmente lembrado por seus dotes musicais, Elvis Presley também teve uma carreira como ator relativamente vasta. Fã de James Dean e Marlon Brando, o astro não atuou em nenhum filme aclamado pela imprensa, mas era considerado pelo diretor Don Siegel um ator sub-aproveitado, que poderia ter rendido muito mais se tivesse a chance de viver papéis mais desafiadores. Ainda assim, a obra cinematográfica de Presley rendeu trabalhos marcantes em produções que tem seu valor, como Prisioneiro do Rock and Roll (1957), Ama-me com Ternura (1956) e Balada Sangrenta (1958).
A voz de Presley se silenciou no dia 16 de agosto de 1977, quando o artista sofreu um ataque cardíaco depois de anos de uso abusivo de medicamentos controlados. Julgando por sua importância na cultura popular mundial, declarar que Elvis não morreu não é uma conspiração ingênua, mas sim uma sensata constatação diante do legado do Rei do Rock.
Ama-me com Ternura / Love Me Tender (1956) A estreia de Elvis nos cinemas foi num filme ambientado durante a Guerra Civil Americana (1861 - 1865). O astro interpreta Clint Reno um homem que se apaixona pela esposa do irmão, um soldado declarado morto durante o combate. Entretanto ele estava vivo e quando o militar volta para casa se inicia conflito em família. Foi produzido um número recorde de cópias de Ama-me com Ternura, que custou 1 milhão de dólares (quantia que foi "recuperada" pelo estúdio nos três primeiros dias em que o filme esteve em cartaz devido a alta procura do público). Relatos apontam que a histeria das audiências durante as sessões era tão grande que era impossível ouvir os diálogos. O longa metragem popularizou a canção "Love Me Tender".
A Mulher que Eu Amo / Loving You (1957) Depois do sucesso de Ama-me com Ternura, a carreira de ator de Elvis prosseguiu no drama musical A Mulher que Eu Amo, onde ele interpreta um pacato entregador que chama a atenção de um músico de country e de uma jornalista por causa de sua bela voz. O jovem cantor é incentivado a iniciar uma carreira, mas os caminhos da fama logo o deixam dividido entre o amor de duas mulheres. Este foi o primeiro filme em cores em que Elvis atuou e também o primeiro em que ele deu um beijo cenográfico. O longa conta com a participação especial de Vernon Presley e Gladys Presley, pais do cantor. Depois que sua mãe morreu, Elvis nunca mais assistiu ao filme.
Prisioneiro do Rock and Roll / Jailhouse Rock (1957) O drama musical Prisioneiro do Rock and Roll trouxe uma das cenas mais icônicas da filmografia de Elvis, no momento em que se encena um número de dança na prisão enquanto o cantor rebola ao som da música "Jailhouse Rock". Apesar de não ter sido creditado, foi o Rei do Rock que idealizou a coreografia. A gravação da cena foi supervisionada por ninguém menos que Gene Kelly. O longa aproveita do mito do jovem rebelde, popularizado nos anos 50 por James Dean, para trazer Elvis no papel de um ex-presidiário que recomeça sua vida como um astro do rock.
Balada Sangrenta / King Creole (1958) Elvis assume em Balada Sangrenta um papel que foi oferecido incialmente James Dean, interpretando um jovem conturbado que depois de fracassar nos estudos está em busca de um rumo na vida. Ele precisa de dinheiro para sustentar seu pai, por isso inicia uma carreira de cantor no clube noturno King Creole. Os holofotes sobre o cantor chamam a atenção de um gângster dono de uma casa noturna rival que se obcecou pelo artista. O filme traz a direção de Michael Curtiz, cineasta vencedor do Oscar por seu trabalho no clássico Casablanca. Reza a lenda que Elvis disse "agora eu sei como um bom diretor é" para Curtiz assim que as filmagens de Balada Sangrenta terminaram. Depois da morte de Elvis, em 1977, Walter Matthau, que atuou no filme do filme, elogiou bastante o trabalho de seu colega em cena: "Ele era um ator instintivo. Muito brilhante. Muito inteligente. Ele não era um punk. Ele era muito elegante, calmo, refinado e sofisticado". Balada Sangrenta costuma ser apontado como o melhor filme da carreira de Elvis.
Estrela de Fogo / Flaming Star (1960) Ambientado no estado de Texas no final do século 19, Estrela de Fogo é um dos destaques da carreira de Elvis no gênero do faroeste. O cantor interpreta um caubói mestiço, filho de um homem branco com uma mulher indígena. Quando as hostilidades entre os brancos e os natvos da tribo Kiowa se acirram, Pacer Burton (Presley) terá de decidir de qual lado ficar, mesmo que isso implique numa luta contra seu próprio irmão. O papel de Elvis no filme foi originalmente escrito tendo Marlon Brando ou Frank Sinatra como intérpretes ideais.
Coração Rebelde / Wild in the Country (1961) Elvis interpreta Glen Tyler, um homem envolvido romanticamente com três mulheres distintas e repleto de crises pessoais que encontra na literatura uma maneira de lidar com seus problemas. O roteiro original de Coração Rebelde trouxe uma cena em que o personagem do cantor comete suicídio ao final do filme, mas a o trecho horrorizou o público em uma sessão-teste e foi alterado.
Em Cada Sonho um Amor / Follow That Dream (1962) Baseado no romance "Pioneer Go Home", de Richard Powell, Em Cada Sonho um Amor traz Elvis no papel de Toby Kwimper, filho mais responsável de uma família itinerante de caipiras em busca de moradia. Quando eles decidem construir sua residência em um terreno vazio no estado da Flórida, inicia-se uma disputa pela posse do local, envolvendo o governo, os Kwimper e bandidos.
Amor a Toda Velocidade / Viva Las Vegas (1964) Celebrado pela sintonia em cena entre Elvis e atriz Ann-Margret, Amor a Toda a Velocidade traz o cantor no papel de Lucky Jackson, um piloto que viaja até Las Vegas para participar de uma conceituada corrida. Ao chegar lá, Lucky descobre que seu carro precisa de reparos e dá um jeito de levantar o dinheiro necessário para pagar o mecânico. Ele consegue a quantia com facilidade, mas logo perde o dinheiro quando é empurrado na piscina do hotel por uma mulher que está mexendo com seu coração (Margret). A partir daí, ele terá de se desdobrar para recuperar a grana, conquistar o amor da moça e vencer a corrida.
Louco por Garotas / Girl Happy (1965) Elvis interpreta um cantor - para variar - na comédia romântica musical Louco Por Garotas. O personagem dele é contratado para vigiar os passos da filha do poderoso dono de uma boate de Chicago enquanto ela está de férias no litoral da Flórida. Por causa da Beatlemania e do sucesso dos filmes A Hard Day's Night: Os Reis do iê iê iê e Help! os produtores acharam que os artistas solo como o Elvis poderiam estar fora de moda, por isso o personagem do cantor é retratado como o vocalista de uma banda.
Ele e as Três Noviças / Change of Habit (1969) "Quando o Rei do Rock encontra a Rainha da Comédia o romance dita a regra". Esse foi o slogan de Ele e as Três Noviças, encontro cinematográfico de Elvis e atriz Mary Tyler Moore. O astro interpreta um médico que se apaixona por uma bela mulher que ele acreditva ser uma enfermeira sem saber que ela era uma freira. O interesse dele é correspondido por ela, que fica dividida entre se entregar ao romance e sua vocação religiosa. Ele e as Três Noviças foi o último trabalho de Elvis como ator. A partir de 1969 ele voltou a se dedidcar exclusivamente à música. Anos depois de finalizar o filme, o diretor William A. Graham afirmou em entrevista que o cantor foi "o homem mais gentil" que ele já conheceu.