Heroes foi concebido por Tim Kring com a intenção de se aproximar dos comics. E nisso a série funciona. Heroes é sobre pessoas que descobrem que têm poderes, como voar, ficar invisível, controlar o espaço-tempo(!) etc.
Mas a série só engrena a partir do sétimo episódio, quando as semelhanças com os quadrinhos se tornam evidentes. Se você conseguir chegar até lá, parabéns. Pois os episódios antes disso são muito chatos. Um ponto fraco do roteiro nessa fase é não obedecer a uma receita básica de história de heróis: não há um inimigo.
Soma-se a isso a demonstração excessiva do poder de alguns heróis, como a líder de torcida (Claire) e o japonês (Hiro). Ela tem o poder de se regenerar, mas nos primeiros capítulos você acha que na verdade ela é de vidro, pois a qualquer chance ela cai e se quebra toda; só pra regenerar depois e mostrar que “ela tem o poder”. E, acredite, ela cai muito nos primeiros episódios. Já Hiro, o japonês, tem seu poder demonstrado apenas por seu ponto de vista: quando ele o usa, todas as coisas ao seu redor param e só ele se movimenta no quadro. Isso acontece quando ele pára o espaço-tempo. Por várias vezes a gente vê Hiro se mexendo e mudando coisas na cena enquanto tudo está parado ao seu redor... Várias, várias, várias vezes. Várias mesmo. Não estou exagerando. Várias! Juro. Só no episódio 11, para alívio dos espectadores, alguém tem a idéia de mostrar isso diferente: do ponto de vista de outra pessoa. E funciona como as trucagens usadas por George Meliés: em um piscar de olhos, as coisas mudam ao seu redor e você nem sabe o porquê.
Eu não vou falar sobre como os personagens se encontram. Sim, pois vejam: a série se passa simultaneamente em Nova Iorque, Midland (Texas) e Las Vegas. E os personagens se encontram amiúde, sabe? Como se tudo acontecesse na cidade de Esperança, ou qualquer outra do interior. Fulano tá voando e resolve pousar no meio do deserto. E adivinhe quem ta lá no meio do deserto, exatamente no lugar onde fulano resolveu pousar? Sicrano! Que coisa. Aí Beltrano tá numa highway fugindo de uma louca e vê um acidente à frente, resolve parar e ver o que aconteceu. E quem foi que tava na mesma highway e teve a mesma idéia e tá lá vendo o acidente?? Sicrano!! Que coisa! É mais fácil acertar na mega-sena. Fora aquela impressão de “Ué! Todo mundo tem um poder? Todo mundo é especial?” Você se sentirá um lixo por não compartilhar disso com eles.
Mas as semelhanças com os quadrinhos é uma das coisas boas da série. Aliás, um dos heróis tem o poder de pintar o futuro. Quando ele faz isso em telas, as pinturas se assemelham mais a Frank Miller que a Goya.
O episódio 11 é o divisor de águas de Heroes. Antes disso, toda a história gira em torno de um evento futuro que foi pintado pelo artista aí de cima. E, é preciso dizer, antes do onze é tudo meio medíocre. Mas depois disso a série engrena de verdade. Aparece até um carinha que é a própria personalização do mal. Tá, é clichê, mas depois de onze episódios de heróis lutando contra... contra o que mesmo? Você já estará sentindo falta do “cara mau”.
Mesmo assim, Heroes consegue ser uma boa sacada. Não é por acaso que virou frisson. E mesmo prevendo futuras complicações para a série na segunda temporada por causa desse poder de Hiro de viajar no tempo, vale a pena conferir a primeira. Sim, porque um enredo com idas e vindas no tempo se torna demasiadamente complexo e chato para o espectador. Espero que Heroes não se torne uma luta de futuro contra passado. Ah, mais uma coisa! Vale a pena também dar uma conferida na atriz que faz Claire, a “menina de vidro”: muito gata! Quem me dera fosse ela naquela ilha deserta...