A Tormenta de Espadas é o livro mais sangrento da série de George R.R. Martin, assim, nada mais básico do que vender a quarta temporada de Game of Thrones como a mais chocante até então, sob o adorado tema “Valar Morghulis”.
Contudo, a sensação que se tem no final da temporada foi de que boa parte dela foi dedicada apenas a isso, uma vingança, rodeada por pequenos núcleos que poderiam ser mais aproveitados.
O crescimento no número de personagens e a vastidão de Westeros provavelmente dificultaram o trabalho dos roteiristas, mas muita coisa foi trabalhada de forma leviana, simplesmente para mostrar que o personagem estava ali. Isso se torna claríssimo em praticamente 90% dos momentos envolvendo Brandon Stark e seu grupo, culminando em cenas de puro preenchimento de tempo, não valorizando em nada a trama (não há exemplo maior disso do que a aproximação de Bran e Jon Snow na aldeia de Craster), além de ocupar tempo de tramas que poderiam ser melhor desenvolvidas. Outro exemplo claro é tudo que envolveu o núcleo de Pedra do Dragão, principalmente no que diz respeito à Melisandre. A personagem apareceu em raros momentos, sempre mal aproveitados, devida a sua curtíssima duração.
Outras tramas também tiveram desenvolvimentos entre altos e baixos, como a de Jon Snow e Daenerys, que flertaram entre momentos de curta e descartável duração com episódios praticamente focados neles.
E nesse ponto está o maior sucesso da temporada, episódios focados. Sempre que a trama deixava de viajar pelo mapa, havia tempo para que a série mostrasse o que ela tem de mais valioso: personagens bem desenvolvidos, atuações e diálogos impecáveis.
Não à toa, toda vez que a trama focava em King’s Landing, tínhamos um show de atuação e diálogos, principalmente envolvendo o núcleo dos Lannister, que tiveram os momentos de maior tensão da temporada, com a morte de Joffrey e Tywin, além de todo o julgamento de Tyrion e sua relação com os personagens. Os diálogos finais entre Tywin e Tyrion, a confissão do anão em seu julgamento, o derretimento da grande espada Gelo, são momentos que ficaram marcados não só na temporada, mas na série, tamanho o cuidado com que foram feitas.
E, entre todas essas coisas, tivemos personagens surgindo, crescendo, e nos deixando. O maior exemplo é Oberyn Martell, um personagem que, devido à bela atuação de Pedro Pascal, virou uma espécie de segundo Ned Stark no coração dos fãs da série, aquele personagem que você vê que terá um fim pesado, mas que não consegue acreditar nisso, que espera que, mesmo com todos os defeitos, ele conseguiria escapar das consequências de suas ações. E ele não foi o único, Tormund Giantsbane, Ygritte, Grenn, Mance Rayder, Lorde Baelish, todos tiveram seus momentos de brilho.
Outra série de erros e acertos vieram de seu trabalho visual. Os cenários nunca estiveram tão lindos, mas a coreografia da temporada deixou a desejar em quase todos os momentos envolvendo lutas. Com exceção do episódio dedicado a batalha da Muralha e o da luta entre Oberyn e Montanha, quase todas as coreografias eram quase risíveis, de tão simples e mal configuradas (com especial destaque para a batalha entre os desertores e os patrulheiros na aldeia de Craster).
Por fim, temos toda a temática da história, de que nada deveria ser leviano, de que tudo tem um motivo e uma consequência. Desde atos, até mortes, tudo gerou e gerará algo muito maior no futuro, seja a entrada de Dorne na história, seja o destino de Bran além da Muralha, ou o apoio de Stannis à Patrulha da Noite, não se deve ter dúvidas de que isso gerará algo. A única infelicidade nisso é que a temporada, em alguns episódios, se esqueceu dessa temática, entregando fillers totalmente dispensáveis.
Game of Thrones não nos entregou sua melhor temporada, como prometido, mas entregou momentos e episódios memoráveis, como o último desta temporada. Mortes que deixaram os fãs enlouquecidos de tristeza ou alegria, atuações sensacionais deram o tom de vários episódios. Resta-nos esperar que na próxima temporada eles aprendam com seus erros, entregando algo ainda melhor do que o que vimos até agora (preferencialmente com mais de Mance Rayder, que trouxe o melhor momento e diálogo do episódio com Jon Snow).