"Blue Eye Samurai" chamou minha atenção pela recomendação de amigos e críticos, além do apelo natural à cultura japonesa, algo que sempre me atrai. Admito que sou mais um nerd moderno fascinado pelo Japão, então decidi dar uma chance à série.
A arte combina CGI, 3D e um estilo que lembra as animações da Disney dos anos 2000, como Atlantis e Planeta do Tesouro. Isso criou sentimentos mistos: por um lado, a nostalgia; por outro, a sensação de que o anime não tem uma identidade própria, ficando no meio do caminho entre clássico e moderno.
As cenas de violência variam entre o clichê do espadachim genérico e momentos de combate exagerados, como uma espadada mortal que derruba quatro pessoas ao mesmo tempo. O gore está presente, mas de forma semi-censurada, aparecendo brevemente, o que não prejudica a experiência. Nesse ponto, achei que dosaram bem.
Já a trilha sonora foi uma oportunidade perdida. Ao invés de músicas japonesas autênticas, temos uma mistura estranha: a icônica música de Kill Bill, rock dos anos 60 no estilo Elvis Presley e trilhas genéricas de ação e suspense. Nada marcante ou memorável. Ao final do último episódio, eu sequer conseguia lembrar das músicas. Uma trilha sonora impactante poderia ter elevado a série, mas aqui, infelizmente, ela passa despercebida.
Agora, o enredo. Aqui reside o maior problema. A história tenta seguir a jornada de uma protagonista que busca vingança, mas tropeça em clichês e inconsistências. Spoilers a seguir:
a trama começa com uma personagem que esconde sua identidade após sofrer abuso e bullying. Ela quer vingança contra quatro comerciantes estrangeiros que traficam armas e ópio no Japão. Descobrimos que um deles é seu pai, e a narrativa insinua que ele violentou sua mãe, que era gueixa. Até aqui, o objetivo parece claro, mas logo tudo desanda.
Por exemplo, a protagonista precisa de um barco para alcançar o castelo de um dos inimigos. Contudo, em vez de explorar isso, o roteiro simplesmente ignora a necessidade do barco, e ela chega ao castelo "a pé" porque a geografia magicamente muda. Além disso, a cada ferimento grave, ela magicamente se recupera após flashbacks ou memórias emocionais, o que acaba quebrando a imersão.
Os personagens secundários também sofrem com falta de consistência. Uma delas passa a série inteira buscando liberdade de um casamento arranjado. No final, quando finalmente conquista essa liberdade, decide aceitar o casamento. Foi um momento tão esquizofrênico que me fez revirar os olhos de frustração.
Outro ponto problemático é o tom forçado de "diversidade, igualdade e inclusão" (DEI) que domina as produções da Netflix. Embora essas pautas possam ser bem executadas, aqui elas são infantis e artificiais. Homens são retratados como burros, maus ou ambos, enquanto as mulheres são as únicas heroínas fortes e capazes. Esse desequilíbrio prejudica a naturalidade da narrativa, tornando-a previsível e caricata.
No geral, Blue Eye Samurai foi uma decepção. Desde a falta de uma trilha sonora marcante até as inconsistências gritantes no enredo e a abordagem superficial de temas modernos, a série não conseguiu entregar uma experiência satisfatória. Para mim, foi uma perda de tempo e um lembrete de que preciso ser mais seletivo com as produções da Netflix.
Nota: 4/10