TEM SPOILERS!
Breaking Bad (3ª Temporada) 2010
É realmente impressionante o poder que esta série tem em nos surpreender e nos impactar em todas as temporadas. É absurdo como cada temporada de "Breaking Bad" é melhor do que a outra. É genial como tudo funciona impecavelmente na série, como o excelente roteiro, a magnífica direção, o elenco irretocável e as maravilhosas qualidades técnicas e artísticas.
Um ponto que eu sempre gosto de destacar em cada temporada é sobre o crescimento e o desenvolvimento da série, do roteiro e principalmente de cada personagem. Eu considero este como o principal fator para toda relevância e magnitude da série em uma visão geral.
Esta terceira temporada de "Breaking Bad" é absurdamente "FODA" em todos os sentidos. Eu fico cada vez mais impressionado como tudo funciona bem dentro da temporada, como tudo se liga e se conecta com perfeição em cada contexto da história, como cada personagem tem o poder em nos fazer amá-lo ou odiá-lo assim em questão de segundos, como cada episódio complementa o outro, sendo extremamente necessário e não uma encheção de linguiça (nem mesmo o episódio da mosca).
A temporada já inicia com o pé na porta com o primeiro episódio, que por sinal é um dos melhores da temporada. Logo somos surpreendidos com aquele cenário no México muito curioso com aquele ritual das pessoas se arrastando no chão até um altar, que por sinal nesse altar contém uma foto do Sr. Walter (Bryan Cranston). E nesse episódio entra um ponto muito curioso da segunda temporada, que é justamente o fato de observarmos que a colisão dos aviões no céu de Albuquerque se deu pela negligência de Donald Margolis (John de Lancie) por estar visivelmente transtornado pela morte de sua filha Janne (Krysten Ritter). Este é o cenário do início da terceira temporada: Skyler (Anna Gunn) e Walter estão separados e ela quer pedir o divórcio. Jesse Pinkman (Aaron Paul) está passando por uma reabilitação internado em uma clínica. O Walter Jr. (RJ Mitte) muda totalmente o seu semblante, pois ele se sente excluído da família por não saber o porque do pai ter saído de casa, sendo que ele ama esse pai que na temporada passada o chamava de herói. Enquanto Hank Schrader (Dean Norris) continua com sua incontrolável obsessão pela captura de Heisenberg.
Um ponto muito interessante é justamente todos aqueles depoimentos na escola das pessoas sobre o acidente aéreo. É ai que vemos o Walter visivelmente incomodado e abalado, por ele pensar que indiretamente ele é o principal responsável por toda aquela tragédia, por ele ter permitido que a Jane morresse quando ele não fez absolutamente nada para salvá-la. E é ainda mais incrível e bizarro como o Walter sempre acha que as coisas ruins que acontecem sempre pode ter um lado positivo, como aquele seu intrigante discurso na escola, onde visivelmente deixou todos incomodados.
Temos o ponto alto da temporada, que é justamente a cena do Walter revelando para a Skyler que ele é fabricante de metanfetamina. A partir daí Walter percebe que perdeu sua família e decide que quer dar um basta na produção de meta, porque ele não se vê como um criminoso.
Essa terceira temporada também serviu para integrar novos personagens na série, além de promover personagens secundários da temporada passada para o elenco principal. Este é o caso de Gus Fring (Giancarlo Esposito), que surpreende todos nós e ao Walter quando ele aparece com aquela proposta de 3 milhões por 3 meses de trabalho para ele, o que logo deixa o Walter completamente perturbado. Sem falar naqueles dois primos do Tuco (Raymond Cruz), Leonel Salamanca (Daniel Moncada) e Victor (Jeremiah Bitsui), que são completamente tomados pelo mistério e pela sede de vingança. Além da reaparição do Tio Salamanca (Mark Margolis), que é resgatado do asilo pelos sobrinhos.
A temporada segue nos surpreendendo ao nos revelar aquela cena no México nos mostrando como se deu aquela icônica cena da temporada passada, que é a cabeça do Tortuga (Danny Trejo) em cima da tartaruga. Outra cena emblemática é justamente quando o Walter conta para a Skyler sobre tudo que ele fez para levantar o dinheiro pensando no bem estar de sua família, que obviamente é ilegal. Por outro lado somos impactado com o Jesse ligando no celular da Jane somente para ouvir a gravação da voz dela. Ele realmente está inconsolado e por isso resolve voltar para a fabricação de metanfetamina.
Um dos pontos alto dessa terceira temporada está no desenvolvimento do Hank. Pois ele passa a tomar uma nova postura sobre as ordens que recebe em seu departamento, como no caso daquela recusa em ir para uma nova missão em El Paso (Texas) só para ficar no rastro do Heisenberg. Nessa parte temos uma sequência de cenas emblemáticas, que é a partir da cena da perseguição do Hank ao Jesse até o trailer, onde ele quase captura não só o Jesse mas também o Walter. Logo após temos aquela falsa notícia sobre de saúde da Marie (Betsy Brandt), o desespero do Hank e a destruição do lendário trailer.
O sétimo episódio é o meu preferido da temporada, que é justamente o episódio de crescimento e desenvolvimento do Hank. Eu vejo um crescimento absurdo do personagem, exatamente por ele sair daquela postura de agente certinho da DEA ao ir confrontar e espancar o Jesse. Hank está perdendo todo o seu controle de policial pela obsessão em chegar no Heisenberg. Aquela cena do tiroteio dos primos contra o Hank no estacionamento é sensacional, colossal, apoteótica. Sem dúvida é uma das melhores cenas de toda a história de "Breaking Bad".
O décimo episódio é um dos episódios mais contestado e mais polêmico de toda a temporada e toda a série. Muitos consideram o episódio como um completo filler - o famoso encheção de linguiça. Eu já vejo o episódio da mosca por outro lado, por uma outra perspectiva. Eu vejo como um episódio extremamente marcante e importante em toda a trajetória da série, principalmente por representar toda a culpa que o Walter carrega nas costas por suas decisões. Decisões como entrar para o mundo do tráfico ao decidir trabalhar criando sua própria metanfetamina, e principalmente a decisão em deixar a Jane morrer para teoricamente salvar seu parceiro Jesse. Eu acredito que a mosca é uma alusão para toda essa culpa que o Walter decidiu carregar, e justamente pela representação da mosca em ser um inseto que incomoda, que aborrece, que desafia, sendo exatamente a atual situação que o Walter se encontra com sua mente, se incomodando e se aborrecendo com seu remorso e seu sentimento de culpa. Toda aquela luta ali naquele laboratório não era do Walter com uma simples mosca que o estava incomodando, mas sim uma luta travada com sua mente, com esse sentimento pesando em suas costas. Não existe nada mais pesado do que um remorso, um sentimento de culpa, essa era a contaminação que o Walter dizia para o Jesse que a mosca estava fazendo naquele ambiente.
Eu achei um episódio importante, marcante, poético, comovente, reflexivo e extremamente necessário para todo o contexto da série. Sem falar naquela cena em que o Walter pede desculpas para o Jesse pelo o que ele fez com a Jane, mas indiretamente, sem o Jesse realmente perceber sobre o que ele estava falando. O episódio 10 é fenomenal!
Bryan Cranston e Walter White já virou uma única pessoa, isso é fato. Toda aquela mudança de postura e personalidade que observamos acontecer na temporada anterior aqui está cada vez mais aflorada. Walter já está totalmente imergido no seu lado sombrio, ambicioso, incontrolável e assassino. Só observarmos por exemplo aquela cena em que ele atropela os traficantes e depois atira contra o outro a queima roupa. Bryan Cranston é incontestavelmente um dos melhores personagens de séries de todos os tempos!
Falando dessa cena apoteótica em que o Walter atropela e mata os traficantes, temos mais uma interpretação monstruosa do Aaron Paul. Paul é outro que já está completamente encarnado no Jesse, e desde a temporada passada que vemos todo o seu crescimento e todo o seu desenvolvimento, principalmente no que diz respeito a sua dramaticidade em cena. Já nessa temporada ele vai ainda mais além, ao mostrar todo o seu descontrole, toda a sua raiva, tomado pelo sentimento de culpa e de vingança. Uma apresentação completamente impecável de Aaron Paul.
Que a Anna Gunn interpreta a personagem mais "ame ou odeie" da série, isso sempre foi incontestável. Porém nessa temporada a Skyler ultrapassa todos os limites e chuta o balde sem dó. Eu sempre achei muito curioso todo o hater que se criou em volta da Skyler, e até confesso que nunca concordei mas também nunca discordei. Já nessa temporada é difícil defendê-la, até porque todas as atitudes que ela toma é contestável: primeiro ela se separa do Walter alegando que ele mente muito para ela (ok, eu entendo). Depois ela quer o divórcio e exige que o Walter não more mais em casa o distanciando de seus filhos. Depois que ela fica sabendo que o Walter fabrica metanfetamina ela o condena de todas as formas e ameaça denunciá-lo. Logo após ela decide trair o Walter transando com seu chefe e ainda vai como uma sínica contar a traição para o próprio Walter, como um engrandecimento do seu próprio ego. Já depois ela inventa toda aquela história de que o Walter é viciado em jogos e ganhou uma bolada, como uma forma para ajudar financeiramente a Marie com as despesas do tratamento do Hank. Depois ela já encabeça na organização da lavagem de dinheiro, induzindo o Walter a comprar o lava-rápido que ele trabalhou e ainda colocá-la como contadora da empresa.
O maior problema da Skyler é ser dúbia, mau-caráter, julgadora, querer ser a dona da verdade, quando na verdade ela não olha para o próprio "rabo" com suas atitudes. A Skyler condena o Walter pela decisão da fabricação de metanfetamina, que sim é errado, mas ela própria é conivente com a falsificação e a sonegação da empresa do Ted (Christopher Cousins), seu chefe/amante. As decisões e as atitudes do Walter são erradas, mas a Skyler é a última pessoa no planeta que teria moral para julgá-lo.
RJ Mitte volta a ter uma certa relevância na série com seu personagem Walter Jr. É interessante a forma fria que ele passa a tratar a Skyler pela sua decisão em afastá-lo do pai. Com isso ele se revolta sem saber os reais motivos. Ótima apresentação de RJ Mitte.
Dean Norris é estratosférico, magnífico, completamente impecável nessa temporada! Por tudo que eu já destaquei do seu personagem Hank mais acima, ele sobe cada vez mais de patamar dentro da série. Dean Norris é aquele ator perfeito para o personagem perfeito, isso é inegável!
Betsy Brandt finalmente volta a ter um destaque e uma relevância nessa temporada, visto que na anterior ela ficou bem escanteada. Após os acontecimentos envolvendo o Hank, a Marie toma para si todo o protagonismo desse caso e nos mostra uma ótima atuação mesclando sua veia dramática e cômica. O que dizer daquela cena em que ela tem a melhor estratégia para tirar o Hank do hospital; que é apostar que ela conseguiria fazer ele ter uma ereção. A cara do Hank saindo da sala na cadeira de rodas com a caixa de flores no colo é completamente impagável.
Na temporada passada eu comentei sobre a introdução na série de três figuras completamente icônicas em todo o universo de "Breaking Bad". Que são os atores Bob Odenkirk, Giancarlo Esposito e Jonathan Banks, que interpretam Saul, Gus e Mike. Nessa terceira temporada todos os três foram promovidos para o elenco principal da série.
Giancarlo Esposito traz o todo poderoso, o big boss, o manda-chuva Gus, que tem uma voz suave, uma postura sisuda e um discurso imponente, mas que esconde todo o seu poder e o seu lado mais letal.
Bob Odenkirk traz o charme e a pompa do Saul Goodman, aquele advogado engraçado e que sempre está tentando passar uma certa confiança mas sempre falha.
Jonathan Banks traz o Mike, que mescla seu lado de homem de confiança e braço direito, com o seu lado improvável de pai.
O último episódio da temporada é uma verdadeira montanha-russa de sentimentos. Pois é nele que temos todo mistério do Gus em relação ao que irá acontecer com o Walter. Também temos um certo protagonismo do Gale (David Costabile) em relação a sua provável (ou não) promoção no laboratório do Gus. Com isso cria-se um ambiente completamente instável tanto para o Walter quanto para o Jesse, que tem que obedecer uma ordem direta do próprio Walter em relação à vida do Gale. O décimo terceiro episódio da terceira temporada de "Breaking Bad" termina exatamente com um disparo do Jesse contra o Gale.
Por fim, a terceira temporada de "Breaking Bad" é incontestavelmente impecável! Aquela temporada perfeita em todos os sentidos e em todos os requisitos, que eleva o nível da série cada vez mais. Não é à toa que eu considero "Breaking Bad" como a melhor série de todos os tempos.
Vince Gilligan eu te amo!
[17/07/2023]