Assisti as 3 temporadas da série. Tenho muitas observações a fazer e uma delas se volta às falhas da construção do roteiro e da continuidade da trama. Essas falhas, além de deixarem lacunas, enfraqueceram as passagens da obra e geraram impactos na narrativa diante da vivência do telespectador.
Mas sobretudo o que mais me incomodou foi o final
(alerta de spoiler). Que final foi esse?! Uma série imensa e com estrutura para gerar fechamentos elabora um final sem qualquer firmamento. As atrocidades acometidas por determinados personagens não foram descobertas (poderia citar inúmeros exemplos), explicações não foram dadas (uma mulher que estava em cárcere na mansão da família inimiga e nenhuma explicação foi fornecida), personagens foram abandonados na trama (o ex namorado de Serena simplesmente passou a existir) e todos os finais foram dramáticos. Simplesmente no final da série todos vivenciaram desgraças e tiveram finais desesperadores. Entendo que estamos falando de um conteúdo de drama, mas me pergunto se construir uma trama sem equilíbrio e que permanece quase que 100% no clímax não é enjoativo e cansativo de se assistir. Devido à banalização dos acontecimentos dramáticos a emoção se perde e o que sobra é o tédio e/ou uma expectativa contínua de que algo de ruim irá acontecer. Para além de críticas voltadas à construção do roteiro/narrativa e continuidade tenho críticas à maneira com que a violência contra a mulher foi tratada na série. É evidente que houve uma normalização por parte dos autores. Claro, fatores culturais precisam ser levados em consideração, já que estamos falando de uma obra proveniente de um país baseado em costumes antigos e pautados em tradições patriarcais e machistas. Mas para além de costumes me refiro à romantização voltada à construção das condutas de determinados personagens e à forma com que a produção normalizou a violência sofrida pelas mulheres. A trama não gerou nenhuma crítica ao que Felipe causou ao psicológico de Paula.
Felipe morreu
sem sequer reconhecer os erros que cometeu e sem pedir míseras desculpas por tê-la tratada como um consolo e por tê-la envolto em um relacionamento tóxico e extremamente abusivo. Afonso, quando chateado com Suellen, simplesmente tentou enforcá-la diante de todos e a única reação que houve foi um breve espanto por parte de alguns moradores da casa, que em seguida esqueceram do ocorrido. Kássio vivia espancando e torturando a esposa e as filhas. E o que a trama faz? O transforma em um personagem "engrançacinho" e passa a sentir um breve carinho por suas filhas e esposa. E o que dizer do Sr. Raí, que desconsiderou totalmente a tentativa de violência física que Felipe quase causou em Serena, a ponto de não entender o motivo de sua saída da casa. E o que dizer sobre Felipe, o grande protagonista? O desdobramento do personagem de Felipe foi completamente problemático. Era um homem violento, egocêntrico, abusivo, obsessivo. Será que a série promoveu aprendizados e trouxe alguma elucidação com relação a esse comportamento e aos impactos que essa e outras condutas refletem na sociedade? Novamente, não falo sobre cultura, falo sobre como a produção constrói a história. Não se pode colocar agressores como personagens "engraçadinhos" e mocinhos que prometem "melhorar". Qual impacto isso causa na sociedade, com ênfase na causa da mulher? Os pontos positivos que encontrei foram: atuação dos personagens, trilha sonora, história.