Série “O Diabo em Ohio” e as seitas
Uma série de sucesso em canal de streaming é O Diabo em Ohio, onde se conta a história de uma garota, Mae, que foge de uma seita aparentemente satânica. Ela tem marcada em suas costas uma figura sinistra, um pentagrama desenhado de ponta-cabeça, que aparentemente foi feito com um punhal. Na fuga a menina também tinha uma faca ou punhal nas mãos, após passar por um vasto milharal. Encontra refúgio junto a psiquiatra Suzanne, que lhe acaba adotando. Ainda encontra uma amiga em irmã, filha da psiquiatra, que lhe anima e alivia após a crise. Criada em uma seita desde pequena, a menina Mae tem lembranças e flashes sobre a vida controlada, estando amarrada, submissa e limitada pela formação dessa seita, na qual a mãe parece ser influente e assim com a confiança ilimitada da menina Mae. Ela teria sido escolhida para algo especial, dentro da seita. Baseada em fato real, mas com alterações, mostra uma grande semelhança de lavagem cerebral e escravidão psicológica, presente em seitas, mesmo as que se dizem cristãs.
As seitas sempre prometem mais felicidade, um mundo melhor, mas cobram o preço. Afastam da família, porque a religião seria “verdadeira”, bem como colocam um monte de regras, proibições, uma vida mais “santa”, namoro só após casamento e outros absurdos. Na série se mostra isso numa espécie de satanismo, mas a história real seria baseada na vida de um “cristão”, que teria assassinado sua família e condenado a pena de morte. Como muitos americanos ditos “cristãos”, em seitas diversas, esse caso se baseou nessa e outras histórias reais, com fim trágico. No caso real uma menina teria fugido e sido criada por uma psicóloga, semelhante ao que é contado na série. Existem ainda seitas políticas, como a QAnon nos EUA, bem como outros grupos como aqui se passaram, como o integralismo, na época de Getúlio. Até um livro fala do culto a Trump. Mais recentemente outras seitas políticas surgem, com donos da verdade, milenarismos, previsões do fim do país e mais fake news, próprios de pessoas envoltas em fanatismo e superstição.
O Diabo em Ohio faz pensar sobre tudo isso. Há relatos de pessoas traumatizadas após a vida em seitas, perdendo muito de suas vidas, pelo excesso de regras e controle. Longe da verdade, as pessoas se veem iludidas pela seita, que lhes tira tudo, dinheiro, liberdade, sendo um verdadeiro diabo. A aparência de um bem, de algo elevado, muitas vezes esconde algo sombrio, ou mesmo um líder abusador. O caso da menina da série mostra alguém que assume o mal, talvez como defesa. A série leva para a curiosidade.
Mariano Soltys, filósofo e advogado - autor do livro Filmes e Filosofia