The Walking Dead: Daryl Dixon (1ª Temporada) 2023
"Daryl Dixon" é uma série de televisão americana criada por David Zabel (roteirista da lendária série noventista "ER") para a AMC, baseada no personagem de mesmo nome da série "The Walking Dead". É o quinto spin-off e a sexta série de televisão da franquia "The Walking Dead", compartilhando continuidade com as outras séries e ambientada após a conclusão da série de televisão original.
Daryl Dixon (Norman Reedus) é um dos principais personagens da série "The Walking Dead", sendo um dos poucos que participou de todas as 11 temporadas. Daryl é o irmão mais novo de Merle Dixon (Michael Rooker) e logo de cara ele já se torna um dos melhores amigos de Rick Grimes (Andrew Lincoln), logo nas primeiras temporadas da série principal. É interessante notar que no início da série o Daryl tem um comportamento mais incerto, mais dúbio, o que vai despertando incertezas no Rick e seu grupo, até pelo fato do seu irmão, que é uma figura maquiavélica. Porém, logo ele começa a conquistar as pessoas, assim como a própria Carol (Melissa McBride), e começa a ganhar a confiança do grupo, se tornando assim um dos principais personagens da série. Logo após a morte (ou desaparecimento) do Rick da série o seu protagonismo cresce notoriamente, o colocando praticamente como o principal líder e personagem da série até o final da última temporada.
A série "Daryl Dixon" é mais um spin-off derivado da série principal que traz uma continuação direta de um personagem importante da franquia, após a trama se ramificar em diferentes produções. Que nos mostra como continua a vida do personagem abordando os seus acontecimentos após o final da série principal, assim como aconteceu com o Rick, a Michone (Danai Gurira), o Negan (Jeffrey Dean Morgan) e a Meggie (Lauren Cohan).
O interessante aqui é o fato da série levar a trama para outro continente fora dos EUA, que sempre foi o local que se passou toda a série principal durante longos anos. A história é ambientada 12 anos após o início do contágio e para nos elucidar nos mostra os primeiros dias do apocalipse por meio de flashbacks (o que é interessante). Daryl acorda em uma França sem saber de fato como chegou até ali e por quê ele saiu de Commonwealth e chegou até Paris. Logo vamos nos ambientando com um cenário devastado e morto (assim como o próprio EUA), onde ele conhece novas pessoas, novos problemas, fazendo novas conexões que acaba interferindo e dificultando cada vez mais o seu plano de voltar para os EUA.
Um ponto que eu achei curioso é o fato da série focar na expansão da contaminação zumbi em um cenário fora dos EUA, assim como também temos novas variantes dos zumbis, o que os deixa ainda mais violentos e letais, os transformando praticamente em uma espécie de zumbis mutantes. Logo temos de volta aquele velho e conhecido Daryl que está novamente destroçando os zumbis e enfrentando todos os seus demônios, na medida que ele é incumbido de proteger um jovem muito inteligente que é visto por um grupo religioso como o futuro Messias destinado a guiar a humanidade para uma renovação. Este jovem é Laurent (Louis Puech Scigliuzzi), que se tornou praticamente uma lenda na região e o foco de diversas facções em toda a França.
E este é justamente o ponto de partida da série, o Daryl concordando em ajudar a conduzir o jovem para um local seguro em troca de uma ajuda para ele retornar ao EUA. Dessa forma a chegada do Daryl desencadeia uma violenta cadeia de eventos que toma conta daquele local. E aqui entra um ponto extremamente curioso na série, o fato de não ser somente o Daryl que sustenta grande parte da trama, pois temos a presença de Isabelle Carriere (Clémence Poésy, a Fleur Delacour da franquia "Harry Potter"). Isabelle é uma freira obstinada e membro de um grupo religioso progressista que encontra Daryl, sendo ela uma espécie de novidade, ou uma carta na manga dos roteiristas da série para nos contar uma nova história tão impactante como dos principais personagens da série original. Que sinceramente eu não sei bem se funcionou como eles premeditavam.
De início estamos perdidos tanto quanto o Daryl naquele local, mas logo descobrimos que ele foi capturado e levado pelo Oceano Atlântico antes de chegar à costa da França. E aqui eu vejo que a série subestima um pouco o que já conhecemos sobre o personagem Daryl Dixon, seja pelo fato dele ter sido um hábil caçador e líder de grupos em vários momentos da sua vida. Por ele já ter enfrentado todo tipo de dificuldades e ser inteligente o bastante para conseguir ter se livrado de todas elas. Porém, a série inicia mostrando um Daryl completamente perdido e inexperiente, por mais que ele tenha acabado de chegar em um local que ele sequer consegue se comunicar com o idioma nativo do lugar. E digo isso justamente pela série não se desprender do seu conteúdo principal, que é os cenários apocalípticos infestados de zumbis, e acho que nem poderia né, pois estamos falando justamente do universo "The Walking Dead". Mas novamente temos um Daryl que é capturado e preso, como já aconteceu com ele algumas vezes lá atrás, o que me dá a impressão da série querer continuar bebendo da mesma fonte que deu certo lá atrás porém em uma cenário diferente. Acho que faltou um pouco de ambição e ousadia dos roteiristas nesse ponto.
A verdade nua e crua é a seguinte: eu sou fã de "The Walking Dead" do início ao fim da série, considero a série como a minha segunda melhor série da vida, sou órfão da série e adoro o fato de termos novos spin-offs derivados da série original para podermos acompanhar mais dos nossos personagens. Mas uma coisa eu não posso negar, na sua grande maioria os spin-offs praticamente são continuações da mesma história de "The Walking Dead" e não derivados da história. Isso aconteceu na série "Dead City", aconteceu na série "Daryl Dixon" e tenho certeza que também acontecerá na série "The Ones Who Live" (que eu ainda não assisti). Os spin-offs de "The Walking Dead" funciona como um episódio da série principal apenas mudando cenários e alguns personagens. Isso é ruim? Não! Dependendo da visão de cada um, pois tem pessoas que já estarão saturados dessa temática de gangues e zumbis. Eu como um fã da série original não me incomoda os spin-offs continuarem dentro dessa temática, pelo contrário, acredito que muitas coisas ainda funcionam justamente por este fator, mas eu acho que não precisaria seguir os mesmos passos dos personagens da série original, como acontece com o Daryl, poderiam se reinventar de alguma forma. Pelo menos é assim que eu vejo toda a história da série "Daryl Dixon".
A principal diferença que eu vejo entre os dois spin-offs da série "The Walking Dead" é o fato de "Dead City" nitidamente querer dar continuidade em um contexto que ainda não foi resolvido na série original, que é o embate entre a Maggie e o Negan, que por sinal funciona muito bem na trama. Já "Daryl Dixon" parece querer apenas implementar o personagem em um novo local, com uma nova comunidade, com uma nova língua, com os mesmos problemas que ele já enfrentou diversas vezes, mas sem muitas razões óbvias e coerentes, a não ser fugir dali e retornar para a América. O que me dá a impressão de quererem focar apenas em um Daryl Dixon aventureiro.
Por outro lado a série traz um frescor até interessante nas partes que nitidamente eles querem humanizar o personagem Daryl Dixon de alguma maneira. E isso se dá pelo fato de termos uma abordagem sobre o sentindo da vida dentro da série, ou seja, se ainda vale a pena lutar pelo inevitável, pelo inalcançável, pela própria sobrevivência, isso falando justamente do personagem principal diante de todo aquele cenário, que nos passa a sensação de ainda estar sobrevivendo unicamente pela pessoas ao seu redor. E aqui já entra uma parte que me remete a chegada na série da Carol, que teve um pequeno contato com o Daryl no final dessa temporada e será peça importante dentro da série em sua próxima temporada.
Sobre o elenco:
Norman Reedus é personificação do Daryl Dixon que aprendemos a amar durante todos os longos anos da série original. Pra quem é fã da série poder rever o Norman atuando mais vezes como o Daryl é extremamente gratificante. E aqui temos um Daryl sendo Daryl exatamente como ele sempre foi. Agora eu estou muito curioso em como será o Daryl na segunda temporada, uma vez que ele estará ao lado da sua eterna amiga Carol.
Clémence Poésy é mais um frescor da série, sua personagem é boa, é interessante, é promissora, é funcional. Nessa primeira temporada ela consegue dividir bem o protagonismo com o Norman, conseguindo chamar a responsabilidade para si e sustentar boa parte da trama principal.
Já o Louis Puech Scigliuzzi traz um personagem que é bem contestável e questionável, pois no fundo ele fica devendo em suas principais motivações dentro da série, o que o coloca muita das vezes como um personagem superficial, falho e bem chato.
O resto do elenco é formado por Laïka Blanc-Francard - Sylvie - uma freira amiga de Isabelle e uma estudante no convento.
Anne Charrier - Marion Genet - uma líder de um grupo paramilitar de sobreviventes na França.
Romain Levi - Stéphane Codron - uma figura que desenvolve uma rixa pessoal com Daryl.
Adam Nagaitis - Quinn - o pai biológico de Laurent, e uma figura poderosa que ganhou poder como comerciante do mercado ilegal e dono de uma boate underground após o apocalipse.
E claro que não poderia faltar a nossa inigualável Melissa McBride, que faz uma comunicação pelo rádio durante uma cena de flashback com o Daryl no final da temporada.
E por falar em Melissa McBride: a primeira temporada foi planejada para apresentar a personagem Carol sob o nome da série "The Walking Dead: Daryl & Carol" (que particularmente eu acho que seria sensacional), mas Carol foi eliminada da série devido a problemas logísticos envolvendo a Melissa McBride. Dessa forma, em julho de 2023, antes do lançamento da primeira temporada, a série foi renovada para uma segunda temporada, que será intitulada "The Walking Dead: Daryl Dixon – The Book of Carol" , e contará com Melissa McBride como personagem regular da série, em um retorno ao conceito original da série. Uma terceira temporada também está em desenvolvimento.
Tecnicamente a série é muito boa, muito bem produzida, até por contar com nomes importantes dentro do universo "The Walking Dead" como Angela Kang, Scott M. Gimple e Greg Nicotero. O desenvolvimento da série é muito bem feita, muito bem acertada pela equipe de direção de arte, uma vez que temos belos cenários de uma França degradada pelo apocalipse zumbi. Além dos ótimos cenários, temos uma bela ambientação, uma ótima fotografia, uma boa trilha sonora, uma boa edição, um ótima direção, tudo muito bem planejado e trabalhado. Tecnicamente a série não fica devendo em nada dentro do universo de "The Walking Dead".
No mais: a primeira temporada de "Daryl Dixon" é promissora, é interessante, é funcional, que por mais que não construa um derivado da série principal e soe como uma continuação nos mesmos moldes, ainda assim a série consegue expandir o universo do personagem, consegue galgar novos rumos para as próximas temporadas, e muito por apostar em uma trama mais certeira, com poucos episódios certeiros, que necessariamente não precise ficar se alongando em vários episódios.
Daryl Dixon é um personagem extremamente importante e relevante dentro do universo de "The Walking Dead", tanto que ele não existe nos quadrinhos e está ai até hoje, do início ao fim da série principal e agora com a sua série própria.
- 25/05/2024