Iluminadas (Shining Girls)
"Iluminadas" é uma série original Apple TV+ baseada no romance de 2013, 'The Shining Girls', da escritora sul-africana Lauren Beukes. A série é estrelada por Elisabeth Moss, Wagner Moura e Jamie Bell. Leonardo DiCaprio, Jennifer Davidson e Lindsey McManus atuam como produtores executivos, assim como a própria estrela da série, Elisabeth Moss. A autora do romance, Lauren Beukes e Alan Page Arriaga também são os produtores executivos. A adaptação foi criada e escrita por Silka Luisa, que também é produtora executiva e showrunner da série.
Kirby Mazrachi (Elisabeth Moss) é arquivista do Chicago Sun-Times. Anos atrás, ela foi brutalmente atacada e deixada para morrer, mas seu agressor nunca foi encontrado. Hoje ela ainda está traumatizada pela agressão e luta para entender sua realidade que continua mudando. Determinada a encontrar seu agressor, ela descobre um assassinato que tem uma notável semelhança com seu próprio ataque. Kirby pede a ajuda do repórter Dan Velazquez (Wagner Moura) e juntos eles descobrem vários casos arquivados de assassinatos semelhantes e começam a caçar um misterioso serial killer.
Quando eu soube que o Wagner Moura iria estrelar uma série junto com a Elisabeth Moss eu fiquei bastante animado e interessado em conferir. Wagner Moura é um belíssimo ator nacional que deu muito certo em Hollywood e não estrelava uma série desde "Narcos", 2017. Por outro lado a toda poderosa Elisabeth Moss é a grande protagonista da série, uma atriz que admiro e amo em praticamente todos os seus trabalhos - como a própria série "The Handmaid's Tale", que pra mim é simplesmente uma das melhores séries que eu já assisti na vida, juntamente com a Moss, que pra mim entrega um dos seus melhores trabalhos da carreira.
"Iluminadas" é uma série diferente de todas as séries que eu já assisti, pois aqui temos um enredo que é baseado (adaptado) em um livro (que eu não li) e justamente por isso nos traz uma trama que está imersa no suspense, no drama, no mistério, no investigativo, com uma boa dose de ficção científica, com histórias envolvendo viagem no tempo e se destacando principalmente como um thriller com serial killer. A série também se destaca por ser intrigante, psicodélica, maniqueísta e principalmente complexa (no maior estilo Nolan). Somos jogados em um verdadeiro labirinto ficcional construído pelo roteiro onde temos que colocar a cabeça pra pensar e tentar desvendar os seus enigmas. A série não tenta se explicar a todo momento, o que definitivamente nos obriga a criar teorias e tentar encaixar todas as peças do quebra-cabeça envolvendo o espaço-tempo.
Não vou negar que a principio eu fiquei um pouco perdido tentando decifrar e montar todo aquele quebra-cabeça, pois aqui temos uma trama ambientada em uma Chicago dos anos 80 que nos confronta com o assassino que escolhe suas vítimas cuidadosamente e as persegue até alcançar o objetivo de matá-las (fazendo suas vítimas a cada década). Realmente temos uma trama bastante original com um roteiro muito coeso misturando suspense e ficção científica do início ao fim, e o ponto mais positivo é que os dois gêneros são perfeitamente mesclados, sem ficar forçado ou óbvio, principalmente pelo fato de acompanharmos um serial killer que viaja no tempo para fazer suas vítimas - um ótimo suspense policial fictício.
Tecnicamente a série é incrível!
O roteiro é perfeito, a direção é ótima, a montagem é excelente, a edição é muito bem organizada. Temos uma bela fotografia, uma ótima trilha sonora (que se destacava justamente por soar bastante original), uma direção de arte muito competente, que soube mesclar muito bem cada cenário e objetos de cenas em suas respectivas décadas - perfeito!
Posso afirmar que Elisabeth Moss é uma das melhores atrizes dramáticas da sua geração.
Aqui temos uma Moss em seu auge (mais uma vez), que nos espanta com a sua atuação de uma mulher que sobreviveu a um ataque de serial killer e que tem sequelas por causa disso. Desde o primeiro episódio a Moss já nos pega pelas mãos e nos carrega por um mundo misterioso e completamente inesperado, e junto com ela vamos desvendando cada ponto dessa curiosa trama. Sensacional, Elisabeth Moss como sempre é a escolha perfeita para protagonizar thrillers (basta lembrar de O Homem Invisível e Nós), mas se você quiser um drama ela também dá um verdadeiro show (basta lembrar da série The Handmaid's Tale).
Wagner Moura também está incrível. Como não se impressionar com a tamanha entrega de Wagner em seu personagem Dan? Dan era um personagem solitário, vazio, frio, que tinha seus problemas com a bebida e vivia em uma verdadeira luta com seus traumas. A dinâmica entre Wagner Moura e Elisabeth Moss é de encher os nossos olhos e sustenta muito bem a trama, pois ele nos entrega uma ótima atuação e só nos confirma o excelente ator que ele é. Destaque para as cenas que ele conversa com seu filho em inglês e logo em seguida em português - incrível!
Wagner Moura e Elisabeth Moss viraram amigos ao contracenarem juntos (eu adorei saber disso).
Jamie Bell (Rocketman) completa muito bem o trio sensacional de "Iluminadas". Jamie incorpora o serial killer Harper com uma excelência extrema - o criminoso, que a princípio, acreditava que suas ações eram impossíveis de rastrear, até Kirby sobreviver. Jamie deu vida a um personagem sádico, maquiavélico, introspectivo, misterioso, complexo, intrigante, e sua atuação condizia perfeitamente com todo esse propósito que lhe foi imposto, pois realmente o Harper era um sociopata - pra mim uma atuação perfeita, daquelas pra ser aplaudida de pé!
Como já mencionei, a princípio eu fiquei um pouco perdido com o propósito e o direcionamento da série, mas com o passar dos episódios eu fui buscando entender e decifrar com algumas interpretações...e vamos lá pra elas:
Começando com o fato da morte de Dan, que a princípio eu achei desnecessária mas logo depois compreendi. Kirby achou o endereço da casa na carteira do Dan no necrotério, que a levou até a casa para enfrentar o Harper e o destruir (se é que realmente ele foi morto, pois não tivemos esta certeza), ou seja, a morte de Dan não foi em vão.
Acredito que a casa não funcionava apenas como uma máquina do tempo mas também poderíamos considerá-la como uma espécie de entidade demoníaca (ou algo do gênero), que parecia obter o poder de se apossar do dono do momento, ou seja, a princípio o dono era o Harper e no fim a dona era a Kirby. Como vimos na luta entre Kirby e Harper, ela parecia conhecer bem a física daquele local, o que nos dá a entender que ela já estava ali por algum tempo. Também percebi que o primeiro dono da casa se matou enforcado e o segundo era totalmente transtornado.
Naquela cena (do último episódio) que a Kirby acerta um tiro no ombro do Harper, ele implora para que ela o deixasse vivo, o que pra mim já estava claro que a casa não obedecia mais o Harper e sim a Kirby, pois logo em seguida a sua realidade se altera. O que me leva a entender que a Kirby não quis matá-lo para deixá-lo vivo sofrendo com a sua realidade mudando em todo o momento, como ela ficou em todo esse tempo, uma espécie de castigo que ela impôs para ele, passar por tudo que ela passou.
Eu realmente não entendi o porque da casa escolher o Harper para ser o assassino, não sei se a casa de fato transformava todos em assassinos, ou apenas escolheu o Harper por ele ser uma pessoa medíocre e egocêntrica, que necessariamente tinha tudo para se tornar um assassino, e visto que seu passado já lhe condenava desde o flashback que vimos ele matando um aliado para sobreviver na guerra.
Harper parecia querer matar as mulheres que estavam em ascensão, como a própria Kirby, ou de fato a casa lhe obrigava a fazer isso (não sei), mas o porquê ele matava e deixava objetos dentro delas eu realmente não consegui entender este propósito.
Por outro lado não consegui compreender muito bem toda aquelas mudanças de realidades que ocorria com a Kirby e o Harper, e eu sempre observava as mudanças que ocorria principalmente nos cabelos da Kirby, acho que realmente eram apenas mudanças aleatórias.
Acredito que realmente existia uma forte conexão entre Harper, Kirby e a casa.
Infelizmente parece que não teremos uma 2ª temporada, pois ainda não foi nada confirmado pelo Apple TV+. Ao que tudo indica, o projeto já havia sido ocasionalmente referido como uma 'série limitada' ou 'minissérie' em entrevistas e até pelos envolvidos. Mas eu posso apostar que a série será notavelmente bem quista nos próximos festivais de premiações, principalmente em questões de elenco, pois o trio em destaque realmente deu um show.
"Iluminadas" é uma série excelente, que me fez sair da minha zona de conforto e me obrigar a desvendar vários enigmas com o passar de cada episódio. É uma série muito inteligente, muito dinâmica, muito sagaz, que nos entrega uma trama muito competente e nos instiga a querer ir cada vez mais além. Realmente até hoje em questões de séries eu nunca tinha assistido nada parecido. Pra mim a série não ganha a nota máxima unicamente por conter alguns pontos dentro da trama que me deixou um pouco perdido, mas que de certa forma nem é um problema da série e sim das minhas próprias interpretações. [10/08/2022]