O anime "Jujutsu Kaisen", dirigido por Sunghoo Park e produzido pelo renomado estúdio MAPPA, tornou-se rapidamente um fenômeno no mundo dos animes, conquistando uma vasta legião de fãs. Seu sucesso deve-se, em grande parte, à sua animação tecnicamente impecável e às sequências de ação intensas e bem coreografadas. No entanto, uma análise mais minuciosa revela uma obra que, apesar de seu brilho estético, carece de profundidade narrativa, desenvolvimento de personagens e coerência em seu sistema de magia, fatores essenciais para uma obra de fantasia se consolidar como um clássico no gênero.
Desde o início, é perceptível a forma como "Jujutsu Kaisen" aposta em personagens caricatos e histriônicos, que se esforçam em cativar o espectador por meio de atitudes exageradas e personalidades que, à primeira vista, parecem irreverentes. No entanto, ao contrário de outras produções do gênero, como "Naruto" ou "JoJo’s Bizarre Adventure", onde o exagero no comportamento dos personagens é justificado por arcos narrativos complexos e profundos, em "Jujutsu Kaisen", essa excentricidade torna-se superficial e repetitiva. O protagonista, Yuji Itadori, e seus aliados frequentemente recaem em estereótipos já conhecidos e desgastados, com poucos momentos de real evolução ou aprofundamento psicológico.
Comparando com "Naruto", um dos grandes marcos do gênero shonen, é notável como a série de Masashi Kishimoto consegue transformar personagens inicialmente caricatos em figuras emocionalmente complexas. Personagens como Rock Lee, Shikamaru e Gaara, que poderiam ser facilmente descartados como meras figuras de apoio, desenvolvem-se ao longo da trama de maneira rica, revelando passados trágicos, conflitos internos e filosofias de vida que os tornam multidimensionais. O mesmo não pode ser dito de "Jujutsu Kaisen". Ao longo de sua narrativa, os personagens, que já iniciam como figuras exageradas, apenas se tornam mais forçados, sem oferecer ao espectador uma evolução emocional que justifique suas ações ou motivações.
Além disso, o sistema de poderes em "Jujutsu Kaisen" é um ponto de crítica considerável. Em animes de fantasia, a criação de um sistema de magia coerente e bem estruturado é um dos pilares que sustentam a verossimilhança do universo narrativo. Obras como "Fullmetal Alchemist" e "Hunter x Hunter" são exemplos de como um sistema de poderes bem delineado pode enriquecer a narrativa, criando não apenas uma lógica interna sólida, mas também tornando as batalhas mais estratégicas e envolventes. Em "Jujutsu Kaisen", o conceito de "energia amaldiçoada" é introduzido de forma superficial, com explicações vagas e muitas vezes convenientes, o que enfraquece o impacto das lutas. As habilidades dos personagens parecem surgir de forma aleatória, sem uma construção sólida que permita ao espectador entender as limitações ou potencial de cada técnica, resultando em batalhas visualmente impressionantes, mas narrativamente vazias.
Outro aspecto que reforça a superficialidade da obra é a ausência de uma construção de mundo mais elaborada. Embora o anime seja ambientado em Tóquio, essa escolha parece mais uma solução conveniente do que uma decisão criativa bem fundamentada. A ambientação urbana contemporânea, apesar de ser um recurso comum em muitas obras, carece de personalidade própria em "Jujutsu Kaisen". Não há um esforço visível para criar uma "lore" rica ou um universo com regras e histórias que transcendam a própria trama. Em contrapartida, animes como "Naruto" e "Bleach" investem na criação de mundos únicos e fascinantes, onde a ambientação é quase um personagem à parte, com suas próprias lendas, regras e mistérios. A falta dessa complexidade em "Jujutsu Kaisen" faz com que o anime pareça mais uma repetição de temas já explorados, sem oferecer nada de realmente inovador ou cativante em termos de cenário.
Quando analisamos a estética da obra, é inegável que "Jujutsu Kaisen" impressiona. As animações são fluidas, as lutas são eletrizantes e há um cuidado evidente com a direção de arte e o design de personagens. As sequências de ação, em particular, são extremamente bem executadas, com um uso primoroso de cores e movimentos que prendem o espectador. No entanto, essa estética, por si só, não é suficiente para sustentar uma narrativa de longo prazo. A beleza visual, embora impressionante, acaba sendo apenas uma camada superficial que esconde a falta de substância da trama. Em obras como "Jujutsu Kaisen", onde a ação é priorizada em detrimento da construção de personagens e enredo, o resultado é uma experiência visualmente deslumbrante, mas emocionalmente rasa.
Essa dependência excessiva da estética em detrimento de um enredo sólido e personagens bem desenvolvidos é o que leva muitos a compararem "Jujutsu Kaisen" a outras obras populares, mas criticadas por sua superficialidade, como "Crepúsculo". A analogia é válida no sentido de que ambas as produções foram amplamente consumidas por um público jovem, atraído principalmente pela aparência e pelo apelo visual de seus personagens, mas que, com o passar do tempo, acabam sendo reavaliadas de forma mais crítica. "Crepúsculo", por exemplo, foi um fenômeno de popularidade em sua época, mas hoje é frequentemente alvo de críticas por sua narrativa rasa e personagens mal construídos. A mesma sorte pode aguardar "Jujutsu Kaisen", caso o anime não consiga evoluir e oferecer mais substância além de suas impressionantes sequências de ação.
Em conclusão, "Jujutsu Kaisen" é uma obra que, apesar de sua animação tecnicamente impecável, carece de profundidade em vários aspectos fundamentais. Sua narrativa é superficial, com personagens que permanecem estagnados em seus estereótipos e um sistema de magia que não possui a coerência necessária para engajar o espectador. A escolha de ambientação também é pouco inspirada, e a dependência excessiva de uma estética visual impressionante acaba mascarando as fraquezas da trama. Embora seja inegável que "Jujutsu Kaisen" oferece uma experiência visual atraente, sua falta de substância narrativa pode acabar comprometendo sua longevidade e relevância a longo prazo.