TEM SPOILERS!
The Last of Us (1ª Temporada)
"The Last of Us" é uma série criada por Craig Mazin e Neil Druckmann para a HBO. Baseado no videogame de 2013 desenvolvido pela Naughty Dog, a série se passa em 2023, vinte anos após uma pandemia causada por uma infecção fúngica em massa, que força seus hospedeiros a se transformarem em criaturas semelhantes a zumbis e colapsa a sociedade. A série segue Joel (Pedro Pascal), um contrabandista encarregado de escoltar a adolescente Ellie (Bella Ramsey) através de um Estados Unidos pós-apocalíptico.
A série foi filmada entre de julho de 2021 a junho de 2022, com sua estreia acontecendo no dia 15 de Janeiro de 2023. É a primeira série da HBO baseada em um videogame e é uma produção conjunta da Sony Pictures Television, PlayStation Productions, Naughty Dog, the Mighty Mint e Word Games. Neil Druckmann, que escreveu e codirigiu o jogo original, ajudou Craig Mazin na redação do roteiro dos nove episódios da primeira temporada. A trilha sonora foi composta por Gustavo Santaolalla (compositor argentino vencedor de dois Oscars) e David Fleming.
Primeiro vou contextualizar:
Uma das minhas maiores paixões na vida são os videogames. Jogo videogame desde os meus 10/11 anos e de lá pra cá eu venho acompanhando os jogos e os consoles de geração em geração. Tudo isso pra deixar claro que as minhas três franquias preferidas dos games são "Resident Evil", "Tomb Raider" e, claro, "The Last of Us". "The Last of Us" (parte 1 e parte 2) estão entre os melhores jogos que eu já joguei em toda a minha vida, juntamente com "Resident Evil 3: Nemesis" (1999) e "Tomb Raider: The Last Revelation"(1999). Também considero a franquia "The Last of Us" como a melhor franquia de jogos exclusivos da Sony.
Como um eterno fã dos videogames, eu sempre esperei uma adaptação no mínimo condizente com a proporção dos jogos, que pelo menos conseguisse manter a essência e a magnitude da obra original dos games. E digo isso dentro de um contexto geral, pois eu entendo e compreendo que uma adaptação obviamente nunca irá seguir à risca da obra original, porém, eu defendo o fato de criar, de mudar, de usar uma liberdade criativa e expandir o universo criando histórias paralelas de personagens secundários (ou até mesmo dos principais), mas uma coisa eu não abro mão em uma adaptação; tem que manter a essência do jogo, tem que respeitar o universo original que já está eternizado, pois obviamente mesmo sendo uma adaptação, mas se não existisse o jogo a série jamais existiria.
Dentro desse universo das adaptações de jogos de videogames, posso afirmar que nunca tivemos uma adaptação no mínimo boa (tirando a adaptação de "Silent Hill", que sim, é ótima), pelo contrário, ao longo dos anos todas as tentativas sempre foram em vão, sempre foram verdadeiras tragédias, verdadeiras catástrofes. Como exemplo principal eu cito todas as adaptações da franquia "Resident Evil", e principalmente a série da Netflix, que é absurdamente horrenda.
Não vou negar que quando ouvi os rumores que iriam criar uma série sobre "The Last of Us" eu já fiquei com os dois pés atrás. Pois com todas as experiências horríveis que eu passei com as adaptações durante todos esses anos, seria normal eu ficar desconfiado. Porém, eu vi uma luz no fim do túnel quando descobri que a série seria desenvolvida pela HBO (que eu respeito muito) e não pela Netflix, e que o criador do jogo (Neil Druckmann) estaria participando ativamente de toda produção, e até iria dirigir um episódio. A minha empolgação aumentou ainda mais quando junto do Neil estaria trabalhando o Craig Mazin, simplesmente o criador de uma das melhores minisséries da HBO - "Chernobyl" (2019). A participação direta do Craig iria ser um diferencial principalmente nos cenários da série, até porque os cenários de "Chernobyl" são excelentes e totalmente condizentes com a série "The Last of Us", pois ambos se passam em cenários pós-apocalípticos.
O primeiro episódio é simplesmente excelente, um dos melhores de toda a série. Um ponto interessante é o fato da série iniciar no ano de 2003 e não em 2013 como no jogo, pois após passar 20 anos da morte da Sarah seria 2023, que é o ano atual em que a série estreia na realidade, e não 2033 como no jogo original. Achei muito interessante a decisão de desenvolver e apresentar melhor a parte da Sarah (Nico Parker), visto que no game realmente não temos um grande desenvolvimento dessa parte, sendo uma parte mais básica. Fizeram dessa forma para dar mais carisma e mais humanidade para a personagem e depois nos atingir com toda uma carga dramática com sua morte. Mesmo já conhecendo do jogo a cena em que a Sarah morre, eu ainda me emocionei na série, pela veracidade dramática aplicada nessa parte - esta cena é perfeita! A parte da Sarah é perfeita, excelente, tem um desenvolvimento muito mais abrangente que no jogo - eu adorei!
O primeiro episódio teve pequenas mudanças que agregaram ainda mais para a narrativa da série em relação ao jogo; como o fato que na série eles venderam as baterias e não as armas como no jogo, que é o ponto de partida para todo desenvolvimento inicial e a decisão da missão de levar a Ellie. Nesse primeiro episódio somos impactados por um Pedro Pascal que traz um Joel mais paizão inicialmente e mais fechado, desconfiado e carrancudo 20 anos depois. A Bella Ramsey já mostra estar muito segura na personagem, mostrando aquele lado durão e desbocado da Ellie do jogo.
O segundo episódio é exatamente o episódio dirigido pelo Neil Druckmann, onde temos um começo muito interessante com a atenção que deram sobre o desenvolvimento do fungo na Indonésia ainda em 2003. Temos aquela conversa com a professora de micologia, onde temos uma noção de toda propagação do fungo e como ele se desenvolveu, algo que não existiu no game e que encaixou perfeitamente na série. Este é um episódio que nos mostra mais da intensidade dos cenários pós-apocalípticos da série (aquela observação que eu fiz do Craig mais acima). A cena do embate com os Clickers (Estaladores) é excelente e muito fiel ao jogo, um mérito do Neil Druckmann, que escolheu fãs do jogo para interpretar os Clickers. A morte da Tess (Anna Torv) foi diferente do game, porém foi mais pesada, mais dramática, ficou boa. Esta cena me soou como o velho clichê do modelo de morrer como herói (heroína), que deu sua vida em prol da salvação.
Já o terceiro episódio é o mais discutido de toda a série, o mais controverso, e na minha opinião, o mais fraco.
Muito interessante a atenção que deram em mostrar as partes de como tudo ocorreu nos primeiros dias de infecção. Mostrando que muitas pessoas que foram mortas sequer estavam infectadas, simplesmente mataram porque não tinham espaço para todos e mortos não são infectados.
Uma coisa que nós fãs sempre pedimos era uma espécie de DLC do jogo que mostrasse mais a história e tivesse um aprofundamento em alguns personagens secundários, como é o caso da Tess e o próprio Bill. Nesse episódio de fato temos uma narrativa que foge totalmente do jogo, que é apresentar e desenvolver a história do Bill (Nick Offerman), e consequentemente a sua ligação com o Frank (Murray Bartlett). Temos uma abordagem em volta de como era a vida do Bill inicialmente, como ele enfrentava a solidão daquele mundo devastado, por outro lado temos a inclusão do Frank, onde suas histórias se ligam e se amarram para sempre. Porém, devo confessar que a mudança que fizeram na história do Bill pra mim foi muito frustrante, pois tiraram todo o peso e toda a importância do Bill pro Joel na série, pois no jogo ele salva o Joel da morte, lutam juntos para sobreviverem, tem uma rusga e um embate com a Ellie. Sem falar na parte em que o Bill aconselha o Joel a tomar cuidado em quem ele confia, pra não confiar demais na Ellie, não abdicar da sua vida em prol dela. Tudo isso conta muito para o pensamento e o desenvolvimento do Joel, e até as suas próprias decisões, pois ele já estava começando a ver a Ellie com outros olhos. Ou seja, tiraram todo esse peso narrativo na série e romantizaram muito o Bill, sendo que no jogo ele é mais casca grossa, mais linha dura, mais carrancudo, dado a tudo que ele enfrentou sozinho durantes anos.
Eu achei até válido toda a intenção em construir um episódio inteiro dedicado a nos contar a história do Bill e consequentemente do Frank, mas na minha opinião eles erraram, deram um bola fora, principalmente na decisão do Bill morrer junto com o Frank (o que é totalmente diferente do jogo) e não ter a ligação direta com o Joel e os embates verbais com a Ellie, que sim, isso também conta muita para a formação dela no jogo.
Toda a história desse episódio o transformou em um um grande Filler, que não avança a história pra lugar nenhum, sendo um episódio à parte mas em detrimento da história maior. Um episódio completamente irrelevante para o contexto geral da série, pois aqui a trama maior perde e a gente sabe que é uma decisão influenciada pelo processo cultural do momento. Querendo ou não é uma lacração, mesmo usando todo o contexto homossexual do Bill e do Frank que já existe no jogo, mas não deixa de ser uma lacração. O Neil já sabia e já esperava quando decidiu mudar totalmente este episódio, o próprio disse que esperava que alguns fãs ficassem chateados com a mudança da história devido à divergência da narrativa do jogo.
No comecinho do episódio quatro enfim temos a cena que tanto esperamos no episódio anterior; que é justamente a icônica cena do carro, quando a Ellie acha a revista com as páginas grudadas do Bill - ficou uma cena extremamente perfeita, eu adorei! Nesse episódio temos a ótima cena em que o carro do Joel é alvejado pelos inimigos. Também temos a cena em que a Ellie salva o Joel do inimigo usando uma arma pela primeira vez (primeira vez com o Joel no caso). No jogo isso acontece bem mais pra frente (acho que no hotel). Esta cena ficou excelente, você ver como a Ellie agiu unicamente pelo impulso de salvar o Joel, e depois ela fica comovida quando o Joel mata o cara. Nesse episódio também temos a inclusão da líder de um movimento revolucionário em Kansas City, Kathleen (Melanie Lynskey). Kathleen foi uma criação original da série (ela não existe no jogo), sendo que o seu principal objetivo é buscar vingança contra o Joel. O final desse episódio é excelente, mostrando que a Ellie e o Joel já estão criando um forte laço de amizade, de carinho e de proteção. Justamente por o episódio terminar com a Ellie contando aquele péssimo trocadilho do "suculento", quando ambos caem na risada.
Pra mim o episódio cinco é disparado o melhor de toda a série!
Temos toda a abordagem da história do Sam (Keivonn Woodard) e do Henry (Lamar Johnson), que de fato é uma parte criada na série e inexistente no jogo. Nesse episódio temos o maior embate da série contra uma horda de infectados, por sinal uma cena excelente, ouso a dizer que é uma das melhores sequências de toda a série. Todo o desenvolvimento dessa cena é magnífica, desde o Joel indo até o local daquele sniper e toda sequência que se inicia. A cena da aparição do primeiro (e único) Baiacu na série é fenomenal, excelente, absurda. Aquela cena aparecendo a mão do Baiacu e ele saindo daquela cratera é estupida, é FODA!!! Toda a caracterização do Baiacu é maravilhosamente fiel ao jogo, e ele ataca com a violência na mesma proporção do jogo - brutal! Ainda temos a ótima cena com a "Estalinho" perseguindo a Ellie no carro, e logo na sequência ela atacando e matando a Kathleen, eu vibrei nessa hora. A "Estalinho" marca a presença da primeira criança infectada na série, magistralmente bem interpretada pela contorcionista e ginasta Skye Cowton, de apenas 9 anos de idade. Ela realmente impressionou à todos com a sua capacidade de movimentação. O final desse episódio é completamente fiel ao jogo e é uma das cenas mais pesadas e dramáticas de toda a série, quando temos o Sam virando um infectado e atacando a Ellie e seu irmão o matando a sangue frio. É uma cena tão bem construída, tão bem interpretada, principalmente pela perda da sanidade do Henry pelo o que ele tinha acabado de fazer, o levando a loucura de se suicidar na frente de todos, o que deixa a Ellie completamente assustada e em choque. Episódio maravilhoso!
O episódio seis é muito bom, pois temos um salto de 3 meses na história, o que os obriga a enfrentar o duro inverno e suas consequências. Finalmente o Joel encontra o seu irmão Tommy (Gabriel Luna), onde temos outra parte completamente fiel ao jogo, que é justamente toda a parte que envolve o vilarejo que o Tommy vive junto com a Maria (Rutina Wesley). Nesse episódio temos aquela cena emblemática do Joel conversando e desabafando com o Tommy sobre ter que levar a Ellie até os Vagalumes, o que mostra o seu lado mais humano, mais sensível e mais dramático. Uma parte muito curiosa desse episódio é uma pequena aparição assim do nada de uma figura que possivelmente poderia ser a Dina de "The Last of Us - Parte 2". Esta foi uma cena que gerou uma enorme repercussão mundo afora, onde o próprio Neil Druckmann se pronunciou vagamente em seu Twitter com a trending "was that Dina?" A atriz que fez a aparição e que provavelmente poderá ser a Dina, é a atriz Paolina van Kleef. No final desse episódio o Joel é ferido gravemente na luta contra um inimigo ao tentar fugir de cavalo com a Ellie. No jogo o Joel é ferido quando ele cai de um andar no chão e é atravessado por um ferro, ao lutar com um inimigo em uma espécie de Shopping.
O episódio sete é inteiramente baseado na DLC do jogo "Left Behind". É um episódio bem morno, bem chatinho, assim como a própria DLC, que por si só já é bem chatinha (tirando as partes que a Ellie está em busca dos remédios no helicóptero caído). Temos toda a abordagem da Ellie com sua amiga Riley (Storm Reid) naquele Shopping, entre todas as brincadeiras e diversões, chegando até ao improvável beijo da Ellie na Riley, o que mostra que a Ellie já tinha um desenvolvimento lésbico desde pequena, e que foi mais aflorado e desenvolvido na parte 2 do jogo. Nesse episódio eu senti falta da parte que a Ellie sai para buscar alguma forma de ajudar o Joel e encontra o helicóptero, na série ela já costura o Joel direto sem essa busca. É um episódio completamente fiel à DLC, pois tudo que acontece na série com a Ellie e a Riley é exatamente igual no jogo.
O episódio oito é outro episódio excelente, mostrando toda a parte daquela seita dos canibais. Este é um episódio pesado, incomodo, que desafia a Bella Ramsey como Ellie, que a obriga a sobreviver sozinha e longe do Joel. Aquela cena final quando ela parte pra cima do David (Scott Shepherd) com toda a sua fúria aflorada é assustador e magnífico. Uma parte bem fiel ao jogo e que nos mostrou como a Bella Ramsey sempre foi a personificação da Ellie do jogo. É interessante que nesse episódio temos um crossover com a participação do ator Troy Baker, que foi o ator que emprestou a voz e a captura de seus movimentos para o personagem Joel no jogo original. Aqui ele faz o James, o braço direito do líder do culto canibal David.
O episódio nove marca o final dessa primeira temporada e é outro episódio muito bom, apesar de ser bastante corrido. Logo no início temos uma cena que me deixou completamente impactado e maravilhado, pois eu não esperava que na série tivéssemos uma abordagem da Anna, a mãe da Ellie. E aqui quem faz a Anna é a atriz Ashley Johnson, que deu a voz e fez a captura de movimento da jovem Ellie no jogo original. Achei super interessante a série trazer um contexto sobre a mãe da Ellie, já que no jogo não temos nada parecido. Saber que a mãe da Ellie foi mordida e morreu por esta causa me desperta uma pergunta: será que foi por isso que a Ellie nasceu imune? Outra cena lindíssima é a cena da girafa (que por sinal é igualzinho no game). Uma cena que desperta o lado sensível e inocente da Ellie, que até então vinha em um episódio completamente introspectiva e reflexiva pelos acontecimentos passados. Outro ponto muito peculiar nesse episódio é a aparição da atriz Laura Bailey como uma das enfermeiras que estão na sala de cirurgia da Ellie. Laura Bailey é a atriz que interpreta a Abby em "The Last of Us - Part 2". De fato ela não interpretará a Abby na série, mas a sua participação nessa temporada é uma baita honra como foi para o Troy Baker e a Ashley Johnson.
O elenco é um dos pontos mais positivos da série!
Bella Ramsey é o maior acerto da série, pois é incrível como ela se doou para a personagem, como ela estudou a personagem, como ela incorporou a personagem, e olha que ela nunca tinha jogado o jogo, o que aumentou ainda mais o seu desafio. Inicialmente eu vi pessoas reclamarem da aparência da Bella em relação a Ellie do jogo, que eu até entendo, visto que realmente a atriz não se parece com a Ellie original. Mas isso da aparência pouco importa e eu jamais duvidei do talento e da qualidade da Bella no papel da Ellie, e eu não estava enganado, pois ela destrói completamente sendo a Ellie. A Bella Ramsey pegou o timming perfeito da Ellie do jogo, conseguindo exibir aquela postura durona, desbocada, que falava palavrão quase toda a hora, que se sentia rejeitada, se sentia acuada como um animal em perigo, que se mostrava frágil e vulnerável em determinadas partes, que precisava da proteção e da atenção do Joel. A Bella Ramsey é uma belíssima atriz, talentosíssima, e não é de hoje (só lembrar da sua personagem em "Game of Thrones"). De fato ela está completamente caracterizada na personagem. Você olha para a Bella Ramsey e você vê a Ellie - é incrível!
O que falar do Pedro Pascal sendo o Joel? Completamente perfeito, nitidamente ele nasceu para viver o Joel. Pedro Pascal incorpora o Joel em um nível absurdo, que me deixou embasbacado, um talento sem igual. É incrível como o Pedro tem o dom para atuar, pois inicialmente podemos observar aquele paizão com sua filha Sarah, logo após a passagem de 20 anos já observamos um Joel duro, fechado, amargurado, carrancudo, com feridas abertas pela vida durante todos esses anos. Depois passamos a acompanhar aquele desenvolvimento do improvável vínculo que vai se criando entre o Joel do Pedro e a Ellie da Bella. Assim como no jogo, é interessante notar o desenvolvimento do relacionamento dos dois, pois inicialmente o Joel via a Ellie como uma carga que ele precisava entregar, sem nenhum tipo de sentimento, apenas dever. Mas com o passar do tempo a relação entre eles começa a crescer, começa a mudar, começa a nascer um carinho, uma atenção, um vínculo, e justamente pelo fato do Joel ter esse trauma de ter perdido a filha daquela forma brutal como foi. No último episódio observamos exatamente todo esse carinho e sentimento de proteção de uma pai com sua filha, pois ao saber que a Ellie seria sacrificada para obter a improvável cura, ele parte em busca de salvar a sua nova filha. Pedro Pascal é um excelente ator (mesma coisa da Bella, só observar o seu personagem em "Game of Thrones"), tanto ele quanto a Bella estão perfeitos e triunfais em seus respectivos papeis. O que me deixa animado pelo relacionamento dos dois para a próxima temporada, mas ao mesmo tempo completamente triste - vocês entenderão.
Completando o elenco temos:
Anna Torv (das séries "Fringe" e "Mindhunter") como a ótima Tess. Ela foi perfeita sendo a Tess, conseguiu expor aquele lado mais durão e desafiador da Tess do game. Gabriel Luna ("O Exterminador do Futuro: Destino Sombrio") esteve muito bem como o Tommy, o irmão mais novo do Joel. Merle Dandridge (da série "Greenleaf") agregou muito bem na série sendo a Marlene. Nos poucos episódios que ela apareceu ela desenvolveu muito bem a sua personagem, sem falar naquele embate no último episódio com o Joel com a Ellie nos braços. Nico Parker ("Dumbo") é uma graça, um doce de atriz, que deu vida de forma brilhante para a Sarah, a filha do Joel. Aqueles 20/30 minutos iniciais do primeiro episódio serviram para nos apresentar todo o seu talento, toda a sua desenvoltura, nos fazer criar uma grande empatia pela personagem e consequentemente pela atriz.
Murray Bartlett (da série "The White Lotus") viveu o Frank de uma forma magistral e totalmente poética, e incrível toda a sua poesia de um personagem em um mundo pós-apocalíptico. Assim como o próprio Nick Offerman (da série "Confusões de Leslie") que viveu o Bill, que também mostrou o seu lado solitário e amargurado inicialmente, mas com a chegada do Frank pode viver a sua maior paixão de toda a vida. Juntos eles construíram o episódio mais poético da série, com atuações esplendorosas, compenetradas, ricas, sensíveis e totalmente poéticas. O fato do episódio ter sido o pior em minha opinião não tem a menor responsabilidade dos dois atores, muito pelo contrário, eles estiveram perfeitos. O problema maior está na decisão de construção do episódio, que obviamente não partiu deles.
Melanie Lynskey ("Não Olhe Para Cima") fez a personagem Kathleen. Ela esteve ok até onde sua personagem foi. Lamar Johnson ("O Ódio que Você Semeia") maravilhoso com o Henry. Aquela cena em que ele mata o irmão infectado e depois se suicida é brutal, e ele tem uma atuação completamente impecável. O mesmo vale para o pequenino Keivonn Woodard, que deu vida ao Sam. Keivonn é uma criança surda na vida real e esse fator trouxe um peso ainda maior para o seu personagem na série, principalmente na cena em que ele conversa através da escrita com a Ellie - cena impactante e maravilhosa. Storm Reid ("O Homem Invisível") viveu a Riley de forma magistral. As partes em que ela contracenou com a Bella Ramsey foram incríveis, com aquele contraste entre o divertido e o cômico, com o peso do drama logo após serem mordidas - bela apresentação da Storm Reid na série. Scott Shepherd esteve excelente como o canibal David. Toda aquela sua postura de religioso, de pregador, de líder que era seguido pelas pessoas daquele grupo, foram totalmente condizentes com sua atuação. Rutina Wesley (da série "Queen Sugar") trouxe a sua personagem Maria ao ponto alto de toda história. Ela esteve muito bem ao contracenar com o Pedro, a Bella e o Gabriel. Troy Baker (ele também foi o Booker DeWitt no game "BioShock Infinite") muito bem como James. Ashley Johnson (da série "Blindspot") completamente perfeita ao dar vida para a Ellie no jogo original, e mais perfeita ainda ao dar vida para a mãe da Ellie na série. Ou seja, ela esteve excelente em dose dupla.
Um dos principais acertos da série é desenvolver e abordar partes que ficaram faltando no jogo ou mal explicadas, e nisso a série faz com perfeição. O fato dos poucos infectados e a falta de mais combates, que muita gente reclamou na série, eu até concordo, realmente teve poucos combates e poucos infectados. Porém, a série não é unicamente sobre infectados (zumbis), tem toda uma construção e uma desconstrução por trás, tem toda uma humanização, drama, traumas, perdas, é uma série sobre o ser humano, seus conflitos e suas perdas em um mundo pós-apocalíptico, que obviamente também inclui os infectados como parte da história. No jogo temos um boa mescla nesse quesito, mas de fato temos mais ação e mais combates, já a série foca mais no drama e no desenvolvimento de personagens do que propriamente na ação.
Tivemos algumas mudanças de etnia na série em relação ao personagem original do jogo, como é o caso das atrizes que fizeram a Sarah e a Maria, e o ator que fez o Tommy. Por outro lado também tivemos a inclusão e a diversidade, como no caso do pequenino Keivonn Woodard. Eu considero todas essas mudanças como pontos positivos na série.
Um diferencial da série foi o uso de pouquíssimo CGI ao longo de toda a história, pois praticamente tudo era maquiagem, como os próprios Clickers. A série fez o uso de dublês em algumas cenas, como no caso da excelente cena do Baiacu, que muitos pensavam ser o uso do CGI, mas não, ali era realmente um ator embaixo de várias próteses - magnífico! A própria criança infectada (a Estalinho), muitos achavam que era CGI, sequer imaginavam que era uma talentosíssima atriz mirim.
Pegando esse gancho do CGI e das maquiagens, temos uma série absurdamente perfeita no quesito técnico e artístico. Pois tínhamos belíssimos cenários totalmente condizentes com a temática da série, um excelente mérito da equipe de direção de arte. A própria cinematografia da série é perfeita, traz uma fotografia que contrasta o belo e o horror ali lado a lado. A trilha sonora é magnânima, maravilhosa, uma trilha sonora muito fiel ao jogo. Tecnicamente a série é uma obra-prima!
"The Last of Us" foi extremamente aclamado pela crítica, que elogiou as performances, escrita, design de produção e trilha sonora; vários a consideraram a melhor adaptação de um videogame. Nos canais lineares e HBO Max, a estreia da série foi assistida por 4,7 milhões de telespectadores no primeiro dia - o segundo maior para a HBO desde 2010 - e mais de 22 milhões em doze dias; em março, os primeiros cinco episódios tiveram uma média de quase 30 milhões de espectadores. Em janeiro de 2023, a série foi renovada para uma segunda temporada. Em uma conversa com a GQ, os cocriadores Neil Druckmann e Craig Mazin falaram sobre seus planos para a segunda temporada da série e revelaram que uma terceira temporada está nos planos. Sobre a continuação da série, eu realmente concordo que para abranger todos os eventos e os acontecimentos da parte 2 do jogo, no mínimo tem que ser em duas temporadas.
Finalmente eu chego ao fim do meu maior texto já escrito em toda a minha vida cinéfila. De fato, todo o amor que eu tenho por este jogo eu jamais poderia (ou conseguiria) escrever um texto básico, eu realmente teria que ser detalhista e profundo em comparação com o jogo e com a série. Já que para escrever esse texto eu assisti todos os episódios no seu áudio original lançado aos domingos, e durante a semana eu revia novamente o episódio com a dublagem original do jogo, que por sinal estava impecável.
Confesso que faltou muito pouco para eu considerar a série como uma obra-prima, pois o nível de fidelidade na adaptação que temos aqui é algo que eu nunca vi em toda a minha vida cinéfila. Porém, alguns pequenos detalhes (que eu não posso deixar passar) me fizeram desconsiderar esta possibilidade que esteve tão perto. Mas isso não é nenhum demérito, muito pelo contrário, a série pode até não ser considerada uma obra-prima, mas é relevante, revolucionária, influente, importante no cenário, uma verdadeira base de inspiração para várias outras séries que virão por ai. É fato que a série "The Last of Us" inovou e revolucionou o conceito e o cenário do universo das adaptações, seja ela de jogos de videogames, livros, peças teatrais, contos, passagens, qualquer tipo de obra. Posso afirmar que esta série ficará para sempre como base e conceito das próximas adaptações, principalmente adaptações de jogos de videogames.
Eu já considero a série "The Last of Us" como um clássico, que ganhará ainda mais reconhecimento e relevância com o passar do tempo, e acaba de entrar para a minha seleta lista de séries da minha vida. Com certeza já pode ser considerada como um verdadeiro "marco" no cenário das adaptações de videogames. E eu afirmo com 100% de certeza que a série "The Last of Us" é a melhor adaptação de um jogo de videogame para um conteúdo audiovisual de toda a história. Sem mais! [15/01/2023 até 12/03/2023]