O programa Canal Livre, que foi exibido originalmente na afiliada da Rede Bandeirantes em Manaus, foi criado em 1996, permanecendo no ar até 2009. Apresentado por Wallace Souza, um ex-policial militar, a atração levava ao ar matérias sobre a cena policial local (sem se preocupar com a exposição de corpos e muito sangue) e fazia denúncias de utilidade pública, cobrando as autoridades da cidade; ao mesmo tempo em que entretia sua plateia com brincadeiras e com atrações dignas de um programa de auditório. O Canal Livre foi um verdadeiro sucesso na capital amazonense e catapultou o nome, não só de seu apresentador, como também de seus familiares, que, a partir da notoriedade que ganharam, ingressaram em carreiras políticas.
A trajetória de Wallace Souza teve um viés a partir de 2008, quando o ex-policial Moacir Jorge Pereira da Costa, mais conhecido como “Moa”, denunciou Wallace e seu filho Raphael de serem os líderes de uma organização criminosa que assassinou diversos criminosos e traficantes de droga, com o objetivo de alavancar a audiência do Canal Livre e, consequentemente, de passarem a controlar a cena do crime em Manaus.
Wallace negou até o dia de sua morte, em 27 de julho de 2010, que tivesse qualquer tipo de associação com o tráfico e com o crime organizado, apesar das investigações da força-tarefa responsável pelo inquérito.
O seriado Bandidos na TV, dirigido por Daniel Bogado, nos retrata justamente essa história. Dividida em sete episódios, a série conta com ricos depoimentos e imagens de arquivo dos envolvidos nesta trama: Wallace Souza, seus filhos e familiares, jornalistas que cobriram o caso, profissionais da equipe do Canal Livre, policiais envolvidos com a força-tarefa. As reconstituições do inquérito, da realidade na qual o programa surgiu e da atual situação da cena-crime em Manaus são alguns dos pontos altos desta obra.
Chama a atenção em Bandidos na TV o fato de que o seriado não tem o objetivo de condenar ou inocentar a figura de Wallace Souza. A montagem dos episódios caminha bem para trabalhar, junto à plateia, a construção de uma verdadeira dúvida razoável sobre a culpabilidade do apresentador/político. A verdade é que, nem Wallace era tão inocente assim (sim, ele tinha relações bem escusas com figuras bastante complicadas) e nem a força-tarefa conseguiu realizar um trabalho contundente e que convença a gente. No final, Bandidos na TV nos incita a fazer uma reflexão básica: vale tudo pela audiência? Vale tudo por uma notícia? Vale tudo por um sonho (o de Wallace era se transformar em Secretário de Segurança Pública do Estado do Amazonas…)?