A série "I Am Not Okay With This", uma produção original da Netflix baseada na banda desenhada de Charles Forsman, estreou em fevereiro de 2020 com grande expectativa. No entanto, após apenas uma temporada, foi cancelada, uma decisão influenciada em parte pelos impactos da pandemia de COVID-19. Essa decisão deixou muitos espectadores desolados, já que a série trazia consigo um enredo promissor e um elenco talentoso, que poderia ter se desenvolvido muito além do que foi mostrado na curta primeira temporada.
Ambientada em um cenário de drama adolescente, a série segue Sydney Novak (interpretada por Sophia Lillis), uma jovem que lida com os desafios típicos da adolescência – bullying, inseguranças, problemas familiares – enquanto descobre, de maneira gradual e desconcertante, que possui habilidades sobrenaturais. O equilíbrio entre a abordagem realista das lutas cotidianas e os elementos de fantasia, que exploram o desenvolvimento dos poderes de Sydney, foi um ponto central do potencial da série. "I Am Not Okay With This" era uma fusão entre o drama adolescente e o mistério sobrenatural, que dialogava diretamente com o público jovem ao misturar questões de identidade, amadurecimento e traumas emocionais.
Nesse contexto, o potencial da série era imenso. A narrativa conduzia o espectador por um caminho de descobertas emocionantes, tanto no nível pessoal da protagonista quanto no âmbito sobrenatural, deixando várias perguntas em aberto. O ponto mais intrigante, sem dúvida, foi o final da primeira temporada, que trouxe uma revelação perturbadora e uma promessa de continuação – uma promessa que, infelizmente, não foi cumprida. O gancho dramático deixou muitas pontas soltas, tornando o cancelamento da série uma decisão ainda mais frustrante para os fãs, que ansiavam por respostas.
O cancelamento de "I Am Not Okay With This" pode ser, em parte, atribuído à pandemia de COVID-19, que trouxe desafios significativos para a indústria de entretenimento, especialmente em termos de logística de filmagem e produção. Embora a série tenha sido bem recebida pelo público e pela crítica, a Netflix enfrentava incertezas sobre a retomada das gravações e custos associados a novas temporadas em um cenário de pandemia, o que acabou impactando a decisão de cancelar diversas produções, incluindo esta.
Contudo, é importante considerar que o cancelamento não se deveu apenas ao contexto externo. A Netflix é conhecida por sua política de avaliar o retorno financeiro de suas produções e, infelizmente, séries que atraem um nicho mais limitado de público, como foi o caso de "I Am Not Okay With This", acabam sendo sacrificadas em favor de produções mais amplamente populares. Isso levanta um questionamento sobre os critérios que a plataforma utiliza para julgar o sucesso de suas séries. Não seria válido investir em uma produção que, embora não tenha tido um público massivo logo de início, mostrou um potencial narrativo e emocional capaz de desenvolver um público fiel ao longo do tempo?
Em termos narrativos, a série trouxe uma exploração cuidadosa dos desafios emocionais e psicológicos de uma jovem lidando com o luto, a descoberta de sua sexualidade e o peso de poderes que ela não compreende. A atuação de Sophia Lillis foi um dos pontos altos da série, conseguindo transmitir a vulnerabilidade e a complexidade de Sydney de forma sensível. Ao lado de Wyatt Oleff (Stanley Barber), a química entre os personagens foi convincente e trouxe um alívio cômico sutil em meio ao peso das tensões emocionais que permeiam a trama.
Outro ponto positivo foi o formato enxuto da série, com episódios curtos que mantinham um ritmo ágil e não se alongavam desnecessariamente. Isso ajudou a criar uma narrativa compacta e direta, sem grandes desvios, embora tenha contribuído também para a sensação de que faltava mais desenvolvimento em algumas tramas paralelas e no próprio arco principal.
O maior problema deixado pelo cancelamento abrupto de "I Am Not Okay With This" foi, sem dúvida, o final em aberto. A primeira temporada culminou em um clímax que prometia expandir a mitologia do mundo criado pela série e explorar mais a fundo a origem dos poderes de Sydney, bem como o misterioso homem que a persegue. Contudo, sem uma segunda temporada para continuar essa linha narrativa, os espectadores foram deixados com um sentimento de incompletude. Esse é um dilema recorrente nas plataformas de streaming, onde muitas séries com grande potencial são cortadas antes de atingirem seu verdadeiro ápice, frustrando o público e desperdiçando o investimento emocional que os espectadores colocam nas histórias e personagens.
"I Am Not Okay With This" era uma série que, sem dúvida, tinha muito a oferecer. Seu enredo original, a sólida atuação do elenco e o equilíbrio entre o drama adolescente e o mistério sobrenatural poderiam ter resultado em uma produção marcante para a Netflix. No entanto, o cancelamento precoce, motivado tanto por fatores externos (como a pandemia) quanto por decisões internas da plataforma, impediu que a série atingisse todo o seu potencial. Em um cenário onde tantas produções são descartadas por não alcançarem imediatamente o status de “hit”, resta o questionamento sobre o que poderia ter sido de "I Am Not Okay With This" se tivesse sido dada a ela uma segunda chance de desenvolver sua narrativa e seu público. Para os fãs, fica a decepção de uma história promissora interrompida antes de sua conclusão.