Que o figurino, a maquiagem e a montagem dos cenários são de excelente qualidade, para não dizer impecável, logo no começo da obra já é possível se conferir. Com o desenrolar da produção de 8 episódios na primeira temporada, Bridgerton garante uma atenção cativante e um ótimo entretenimento. Não há uma trama aflita ou um grande suspense de fato, mas sim, puro e qualitativo entretenimento, além de uma atemporal e necessária representatividade. Baseada nos livros de Julia Quinn e produzida por Shonda Rhimes, a série da Netflix, Bridgerton, aborda romances, feminismo e o desabrochar da sexualidade e maturidade feminina durante o rigoroso, hipócrita e elegante cotidiano da chamada “alta sociedade” da Regência Britânica no século XIX. Com Viscondes, Duques, Ladys e a própria Rainha, a série exibe as libertações e os aprisionamentos na própria forma de se portar e viver na sociedade. Ambientada nesse período histórico, a obra não é totalmente fiel aos fatos da História e nem a todos os detalhes dos livros em que se baseia. Além de não ser um problema, é uma das maiores qualidades da produção. Com parte do elenco negro interpretando altíssimos papéis e posições na sociedade da época, fato, na realidade, inverídico, a série se mostra uma produção atual da mesma maneira que atemporal. Não é um documentário e nem mesmo um “programa de época”, mas sim uma produção que se inspira em conceitos históricos para, na verdade, focar em montar hoje uma produção artística justa e sã para ser assistida agora e no futuro. Com relacionamentos arranjados, gravidez “censurada”, romances proibidos, não correspondidos, alguns extremamente platônicos e outros até libertinos, escondidos dos olhos dissimulados da alta sociedade, a obra da Netflix é uma pomposa ficção envolvente para muitos públicos maduros. Bridgerton apresenta atuações propositalmente contidas e outras necessariamente extravagantes, uma excelente representação das formalidades do período. A inocência e a perda dela por parte da evolução de seus personagens são alguns dos pontos convidativos dessa produção despretensiosa de grandes suspenses, mas com alto investimento narrativo, para não falar do financeiro. De forma iluminada, com minuciosos detalhes tradicionais e fortes críticas sociais, a série envolve apresentando a imoralidade enrustida dos “clubes de cavalheiros” quase tão bem explorada quanto seu foco principal: as imposições restritivas à figura feminina, com grande e necessária voz no século XIX bem como agora em pleno século XXI. Ainda que haja submissões na história, Bridgerton evoca levantes empoderados para muitos núcleos, e faz isso com uma produção muito atrativa.