Baseado em uma história real, a série Inacreditável, criada por Susannah Grant, Michael Chabon e Ayelet Waldman, segue a investigação de um crime aparentemente perfeito: um estuprador em série ataca mulheres vulneráveis, que moram sozinhas (e em cidades diferentes) e que, de alguma forma, deixam brechas em aberto nas suas residências, facilitando o ataque. O estuprador que age durante a série é um sujeito inteligente, que não deixa rastros, que não comete erros e que observa atentamente cada uma de suas vítimas antes de decidir agir.
Os oito episódios da série são divididos em duas linhas narrativas. Na primeira, que se passa em 2008, acompanhamos os desdobramentos do primeiro crime cometido pelo estuprador, contra a jovem Marie Adler (Kaitlyn Dever, excelente). Na segunda, que se passa em 2011, acompanhamos duas investigadoras da polícia do Colorado, Grace Rasmussen (a maravilhosa Toni Collette) e Karen Duvall (Merritt Wever, igualmente excelente), que, após descobrirem elementos em comum entre seus casos, decidem unir forças para ver se desvendam o grande mistério e chegam ao paradeiro do criminoso.
É interessante perceber, nos elementos do roteiro, algumas abordagens bastante sutis, como, por exemplo, as diferenças entre as investigadoras (que se identificam com suas vítimas, que se desdobram para encontrar um fato novo, uma pista nova, algo que as deixe mais próximas da resolução deste quebra cabeça) e os investigadores (que são menos pacientes com as vítimas, que desistem do caso na primeira encruzilhada); a maneira como familiares e amigos encaram as vítimas (muitas vezes, julgando-as pelas reações frias e não compreendendo a situação que elas passaram); e, principalmente, como sofrer um ato de estupro pode ser um ponto totalmente definidor na vida de qualquer mulher (que vai lidar com o sentimento de culpa e com a solidão de ter que encarar a retomada da existência, dentro de uma rotina que a trazia segurança, mas não traz mais).
Como seriado, Inacreditável é um programa com uma trama muito bem construída e que prende a atenção do público. Além disso, a série chama a atenção pela capacidade do seu elenco e, mais ainda, pelo fato de que a trama – apesar de abordar um tema muito delicado – nunca cai no sensacionalismo. Este é mais um acerto da Netflix, que, somente em 2019, entregou para o seu assinante séries excelentes, como esta e Olhos que Condenam – e, em breve, estreará a terceira temporada de The Crown.