Em uma realidade na qual super-heróis são comuns no cotidiano, a relação social destes passa por um revés e começa a oscilar quando os dotados de poderes se corrompem e passam a promoverem a si mesmos. Sob o receio de deixar a população em risco, uma equipe chamada "the boys" é criada para controlar, sistematicamente, as ações do heróis. O grupo é liderado por Billy Butcher (Karl Urban), veterano de guerra e sujeito de poucas palavras, mas que esconde segredos que podem produzir um grande conflito entre os tão defendidos super-heróis e suas ações de fato.
Baseada em uma HQ de mesmo nome, THE BOYS desenvolve um grande amontoado de elementos sérios que afetam não somente a sociedade de modo geral, mas como as grandes corporações tendem a tratar seu público de forma puramente comercial. O mote que se desenlaça por trás do enredo volta-se, essencialmente, à maneira como o poder desconstrói os bons costumes, a ética e os valores pela vida e pelo próximo. As histórias paralelas que são desenvolvidas flertam de perto com temas como religião, política, homossexualismo e vários outros que surgem em menor escala, mas mostram do que o homem é capaz quando não há controle sobre seus atos.
Há também um grande amontoado de metáforas que cercam elementos da história, em especial os ditos heróis que temos mas não entendemos se deles precisamos, haja vista que não existe interesse efetivo no ato de ajudar, mas sim de promover a imagem para produzir renda e alavancar as ações da empresa que gerencia o grupo. Essa ótica duelista entre o bem e o mal fica cada vez mais nítida quando percebemos as capacidades midiáticas que a tecnologia concebe, veloz e repleta de recursos instantâneos.
Para liderar a narrativa fantástica, os produtores trouxeram acertadamente o ator Karl Urban, que aqui associa sua cara mal humorada a um desejo constante de frear a crescente onda de heroísmos questionáveis, sempre relacionando os recentes atos obscurecidos pela mentira ao ego dos poderosos. O grupo ainda tem os carismáticos Hughie Campbell (Jack Quaid), Mother's Milk (Laz Alonso) e Frenchie (Tomer Capon), todos eles bem aproveitados, tanto na relevância da história quanto no ótimo desenvolvimento pessoal de cada um, tornando-os plenamente importantes.
Do lado dos anti-heróis o elenco também é surpreendente, em especial o líder Homelander (Antony Starr), que impele um sujeito controlador, frágil e a amálgama máxima de sentimentos oscilantes que fogem ao seu controle diante do fato de ser, supostamente, imbatível. Temos também a representação feminina de Maeve (Dominique McElligott) e Annie January (Erin Moriarty), que são as participações mais interessantes, pois representam o que seria o início e o fim (frustrado) de anos exercendo aquela que seria a "profissão" herói. A rápida participação de Haley Joel Osment, além de Billy Zane e Seth Rogen diverte para os olhares mais atentos.
Como não poderia deixar de ser, a série é recheada de sequências de ação intensas, algumas inventivas e dignas de nota, talvez a melhor delas passada em um berçário, que leva a uma conclusão não menos que engraçadíssima. A série aproveita as capacidades dos heróis para roteirizar cenas de ação repletas de violência explícita com direito a pessoas explodindo, sendo partidas ao meio, membros cortados, ossos quebrados, fraturas expostas e muito, mas muito sangue cenográfico. O mais interessante que a violência quase sempre é contextualizada, enriquecendo ainda mais a história.
Anunciada com relativo alarde pelo canal Amazon Prime, THE BOYS surge como uma surpresa muito bem-vinda ao universo de seriados. Tem uma essência carregada de inteligência, que ao mesmo tempo mistura o desejo social por líderes e heróis enquanto os representa de maneira realista diante do poder relegado a eles. A psicologia tem grande força no contexto, sendo peça coesiva nas entrelinhas que misturam o ficcional com a interpretação real. É produto de entretenimento recheado de ação, emoção e intelecto.