Espiar a vida em Estocolmo, na Suécia, já um bom motivo para ver Areia Movediça. A série também é boa, ainda que a narrativa tenha ficado muito recortada para suportar a forma escolhida de narrar a história. Os episódios se desenvolvem em feedbacks que se obrigam a não mostrar todo o enredo, mantendo o suspense: só no fim fica sabendo o que exatamente ocorreu.
A série que é recente, de dois mil e dezoito, mostra contornos da vida de jovens suecos de classe média alta em torno da Escola que frequentam e onde se dá o tiroteio que conduz o enredo. A jovem protagonista, Maya, de 18 anos é muito linda, olhos claros, cabelo bonito, um encanto. Curiosamente, ela perde parte de sua beleza deslumbrante porque tem dentes tortos e um tanto amarelados. Sua melhor amiga, também bonita, padece do mesmo mal.
Dá para perceber que mesmo em nosso terceiro-mundismo temos práticas odontológicas muito melhores do que aquelas que se vê na Suécia e, se sabe, em boa parte da Europa. Aqui o filho de qualquer pessoa da classe média tem acesso a aparelhos corretivos e processos de branqueamento dental que melhoram a aparência de todos.
Para quem, como eu, é da área jurídica, é estimulante espiar o processo judicial sueco, onde crimes contra a vida são julgados por juízes togados, não por juris populares, como no Brasil e na América. A vida da protagonista, antes em lugares de paisagens maravilhosas, termina numa cela de presídio, melhor do que a casa de grande parte dos nosso nacionais.
Há pequenas soluções carcerárias que poderiam ser adotadas por aqui. Por exemplo: o preso quando levado fora do Presídio, usa sobre sua roupa um cinto grosso de couro, que faz as vezes de algema, porque prende as mãos e braços junto ao corpo, altura da cintura. Entre nós, pessoas mesmo algemadas podem agredir, fazendo movimento conjunto dos braços, ainda que preso a algemas. O cinto resolve.
Há muitas outras curiosidades que se vê entre o rico mundo nórdico e o nossa empobrecida sociedade, mas sem dar spoiller, gostaria de me ater a um detalhe que me encantou. Como se sabe, um julgamento termina com o discurso do acusação e da defesa, analisando a prova e as circunstâncias do crime. Entre nós – USA também – isso se faz com encenação discursada, gritos para dramatizar o argumento, verdadeiro teatro forense.
No julgamento sueco a representante do Ministério Público e o advogado da defesa com a palavra, apresentam seus argumentos tão somente com a força de convencimento que podem ter pelo emprego da lógica capaz de demonstrar culpa ou inocência. Ninguém grita, ninguém dramatiza. Pausadamente, falam, apresentando seus argumentos.
Ao contrário do que por aqui já se escreveu, achei a decisão justa e o trabalho da parte que obteve vitória, excelente, ainda que o critério recortado da série impedisse de exibir mais amplamente fatos e procedimentos.
Gostei e recomendo.