(DES)ENCANTO nos leva a acompanhar a história da princesa Bean e seus amigos Luci (um demônio) e Elfo (um elfo !?) no reino de Dreamland. O trio que adora viver situações atípicas regradas com muito álcool e quase nenhuma fábula, planeja simplesmente viver a vida sem qualquer propósito que carregue seriedade, mas apenas diversão e porque não, bebida sem restrições.
Criada pelo satírico mago do humor negro Matt Groening, esta deliciosa série da Netflix é um amontoado gigantesco de referências e piadas carregadas do politicamente incorreto. Desde sarcasmos com a realeza, casamentos, conflitos paternais, histórias da carochinha, sexismo, violência e religião são tratados sem pudor, embora na maioria das vezes sejam mais sutis do que escancarados, presença certa da mão de Groening nesses pontos. O carisma da protagonista, mesmo sendo adepta da preguiça, permite ao expectador não só torcer pelo seu sucesso a cada nova empreitada, mas também diverte esplendorosamente por suas loucuras causadas sem qualquer receio.
É curioso como também foi acertadíssima a inclusão de dois quase protagonistas que acompanham Bean em seu cotidiano, mesmo sendo um demônio e o outro um elfo refugiado, os dois são simplesmente icônicos ao jamais fazer de suas presenças fator que subestime seu real significado, moldando na narrativa um elemento que funcione com uma espécie de parcela da personalidade "viva" da protagonista desta série.
A história que tira proveito de muitos elementos se desenvolve, na maior parte do tempo, de maneira ágil e inteligente, levando Bean a viver experiências que poderiam resultar em algo produtivo, mas sempre com reflexo negativo devido à sua dificuldade em levar algo efetivamente a sério. E tudo compilado por meio de uma animação 2D (misturado com 3D às vezes) primorosa e esteticamente brilhante, sempre abordando o ambiente e suas características de maneira sagaz. Destaque também deve ser dada à dublagem brasileira, que aqui faz um dos mais competentes e funcionais trabalhos nessa categoria, não somente pelas vozes adequadíssimas, com timbre e sarcasmos presentes de forma bem aparente, como também uso eficiente de jargões e piadas tipicamente brasileiras que funcionam apenas em nosso país.
No final das contas, a série com traços que lembram Os Simpsons é um obra eficiente e chama atenção por praticamente tudo a que se propôs apresentar, sejam elementos carregados de críticas sociais e brincadeiras com adolescência até diversão categoricamente rica para o público adulto, sem jamais deixar a peteca cair com o excesso ou a falta. (DES)ENCANTO é uma série, senão ímpar, destacável aos olhos de qualquer público. Que venha a segunda temporada.