A série La Casa de Papel, que foi criada por Álex Pina, é mais uma tentativa de se retratar um plano perfeito, sem falhas, que não deixa rastros e fica impune. No caso particular deste programa, o plano envolve a concepção, a preparação e a execução de um assalto à Casa da Moeda da Espanha, de onde os ladrões esperam sair com 2.400 milhões de euros.
O plano é, sem dúvida, ambicioso. Por isso mesmo, por trás dele, tinha que se ter uma figura perspicaz, misteriosa e inteligente como a do Professor (Álvaro Morte). É ele que reúne a equipe formada por oito ladrões – cada qual com sua especialidade – e que vão ser as engrenagens que colocarão em prática o plano concebido por ele.
Dividido em 19 episódios, o assalto à Casa da Moeda Espanhola nos é contado por meio de alguns recursos narrativos interessantes, como os flashbacks, que nos contextualizam nos momentos que antecederam o roubo e que mostravam a preparação dos ladrões para o assalto. Existe a preocupação do roteiro em construir bem as histórias pregressas de cada personagem, de forma a que possamos compreender o motivo pelo qual eles aceitaram participar do roubo. Essa construção se estende às personagens que compõem a equipe de policiais que está responsável pela resolução do caso, bem como a alguns reféns que se destacam no decorrer do assalto.
Uma série como La Casa de Papel tem que se apoiar em um roteiro muito bom, que não tenha pontas soltas e que mantenha presa a atenção dos espectadores. Durante boa parte da temporada, os roteiristas são muito felizes nisso; entretanto, a partir do momento em que os relacionamentos pessoais entre assaltantes, policiais e reféns se torna mais estreito, os furos começam a aparecer e o roteiro começa a ficar muito falho – em alguns momentos, por exemplo, o foco maior nos romances que nascem chega a prejudicar muito a narrativa.
Entretanto, La Casa de Papel se destaca por ser uma série que, por meio de um ritmo ágil, captura por completo a nossa atenção, ao ponto de que chega a ser impossível finalizar um episódio e não querer iniciar imediatamente outro. Um outro aspecto interessante da série é que a construção das personagens nos mostra uma linha muito tênue entre quem são os mocinhos e quem são os vilões – muitas vezes, essa linha se mistura e as personagens vão se alternando nesses papeis. Não se surpreenda se, com o sucesso que a primeira temporada do programa teve, os produtores decidam fazer uma segunda temporada da série – mesmo que a trama tenha sido concluída com sucesso, ao que se propôs neste primeiro momento, ao término do último episódio.