A Netflix parece ter uma grande dificuldade em acertar nas suas produções originais quando se trata de comédias. Friends From College, infelizmente, não é exceção à regra. Com oito episódios lançados de uma só vez, a série gerou grande expectativa após a declaração de Cobie Smulders de que a produção seria “uma versão mais sombria de How I Met Your Mother“. O marketing pode até ter sido certeiro, porém foi muito, mas muito mentiroso.
Friends From College se propõe a explorar a vida de seis amigos de Nova York que estudaram juntos na faculdade e que, após vinte anos, naquela famosa fase da meia-idade, voltam a ter contato cotidianamente de modo que suas diferenças e relações mal resolvidas começam vir à tona. Apesar de ser pouco original, a narrativa suscita curiosidade e a participação de Smulders, a eterna Robin de How I Met Your Mother, por si só, já vale dar uma chance à série. O problema é que a personagem de Cobie Smulders parece ser a única coisa que funciona em meio a episódios demasiadamente longos, sem ritmo e desprovidos de humor.
Dos seis amigos, Lisa (Smulders) é a única capaz de criar qualquer sintonia com o espectador. Além de dar a sorte de ser beneficiada pelo péssimo roteiro em algumas cenas, Smulders se esforça para tornar as situações críveis. O empenho da atriz, todavia, revela-se em vão em meio a um casting mal feito para uma série terrivelmente escrita e dirigida.
Keegan-Michael Key e Annie Parisse ocupam a tela na maior parte do tempo. O motivo? Apesar de seus personagens serem casados, eles possuem um affair desde a faculdade, isto é, há vinte anos – não vou nem entrar no mérito do quão controversa essa história é e como ela é mal desenvolvida nos episódios. A atuação de Key é, no mínimo, constrangedora. Cheio de caras e bocas e com trejeitos afeminados para um personagem que não condiz com essa personalidade, o Ethan de Key causa vergonha alheia. Parisse não consegue repetir a bom trabalho realizado na série dramática The Following e entrega uma Sam artificial. Dos três membros restantes da trupe que não foram mencionados até aqui, o único que possui momentos elogiáveis é Fred Savage. Bem tímido, nada demais.
Friends From College busca, de modo extremamente constrangedor e desesperado, criar situações engraçadas por meio do nonsense. Até quando tenta repetir o que já deu certo em outros shows, a série se sabota. E tudo isso com apelações desnecessárias como, por exemplo, um cara esfregando o pênis no telefone e piadas extremamente machistas. É uma missão árdua se manter ligado na narrativa da série justamente porque, além de não apresentar nada de novo, ela não possui sequer o subterfúgio de ser minimamente engraçada.
A nova série original é mais uma prova de que a Netflix, tão bem-sucedida em diversas séries dramáticas e adaptações, precisa de uma apuração melhor na hora de produzir seus conteúdos de humor. Friends From College é dispensável e erra em praticamente tudo que tenta fazer. Cobie Smulders, pelo talento e pelo carisma, não merecia estar envolvida com uma produção de qualidade tão duvidosa.