Dragon Ball, criado por Akira Toriyama, é uma das obras mais emblemáticas da cultura pop japonesa e global. Após o desfecho da Saga Majin Buu, que marcou o final de Dragon Ball Z, a expectativa era alta para a continuidade da história de Goku e seus amigos. Dragon Ball Super, então, emerge como uma sequência alternativa que ignora Dragon Ball GT, uma obra que, embora tenha sido transmitida, é considerada não canônica. A série, que se iniciou com o arco "A Batalha dos Deuses" e prosseguiu com "O Renascimento de Freeza", apresenta uma série de desafios narrativos, artísticos e conceituais que merecem uma análise crítica aprofundada.
Dragon Ball Super introduz o conceito de divindades, uma ideia que expande o universo da franquia ao mesmo tempo em que suscita discussões sobre a lógica interna da narrativa. O primeiro arco, "A Batalha dos Deuses", trouxe Bills, o Deus da Destruição, e Whis, seu assistente. Essas figuras não só elevaram a escala de poder a um novo patamar, mas também reconfiguraram a dinâmica das batalhas. No entanto, a introdução de escalas de poder tão imensas e frequentemente inconsistentes gerou confusão entre os fãs. A capacidade de Goku e Vegeta de ultrapassar limites que antes pareciam insuperáveis compromete a coerência interna da história, tornando-a suscetível a críticas por sua falta de lógica.
Além disso, o retorno de vilões clássicos como Freeza, que é reimaginado como uma ameaça renovada no arco "O Renascimento de Freeza", levanta questões sobre a criatividade da narrativa. Embora essa estratégia possa apelar à nostalgia, a recorrência de antagonistas conhecidos sugere uma falta de inovação, restringindo o desenvolvimento de novos vilões que poderiam enriquecer o enredo. Em vez de expandir a mitologia da série, Dragon Ball Super parece se apoiar excessivamente em rostos familiares, comprometendo a possibilidade de explorar novas narrativas e temas.
Uma das críticas mais contundentes dirigidas a Dragon Ball Super refere-se à qualidade de sua animação. Desde os primeiros episódios, a série enfrentou uma enxurrada de comentários negativos sobre o estilo visual e a execução das cenas. A forma como Goku é representado na forma de Super Saiyajin 3, bem como outros quadros mal desenhados durante a Saga "Renascimento de Freeza", é emblemática de um problema maior que afeta a experiência do espectador.
Essa inconsistente qualidade da animação persiste ao longo dos arcos, com alguns episódios apresentando um padrão visivelmente inferior em comparação a outros. A crítica culmina em arcos como a Saga do Trunks do Futuro e Goku Black, onde a narrativa tentava oferecer profundidade emocional e uma trama envolvente, mas frequentemente era comprometida pela falta de uma execução técnica adequada. Embora o Torneio do Poder tenha proporcionado momentos de animação impressionante e elogiada, essa excelência parece ser a exceção, e não a regra. Essa discrepância na qualidade visual mina a imersão do espectador, que espera uma continuidade na excelência técnica que caracterizava as obras anteriores da franquia.
Uma das críticas mais relevantes sobre Dragon Ball Super refere-se à representação de Goku, que parece ter se distanciado de suas características fundamentais. Em Dragon Ball Z, Goku era um lutador não apenas poderoso, mas também estratégico e responsável, preocupado com as consequências de suas ações. No entanto, em Dragon Ball Super, ele é frequentemente reduzido a uma caricatura, enfatizando o humor e a comédia pastelão em detrimento de sua profundidade emocional e intelectual.
Esse deslocamento de caráter é especialmente evidente quando Goku parece priorizar a luta acima de qualquer outra consideração, ignorando suas responsabilidades e a segurança dos outros. A busca incessante por desafios e o desejo de lutar sem entender as consequências de suas ações contradizem o desenvolvimento que o personagem havia apresentado ao longo da saga anterior. Essa nova abordagem desconsidera a complexidade moral que uma série como Dragon Ball poderia explorar, resultando em uma narrativa que, em muitos momentos, parece superficial.
Dragon Ball Super, apesar de suas ambições e da tentativa de continuar um legado que cativa milhões, enfrenta desafios significativos. A introdução de novos conceitos, como deuses e escalas de poder, é frequentemente comprometida pela falta de lógica e consistência. A qualidade da animação, que oscila entre momentos brilhantes e falhas evidentes, prejudica a experiência do espectador, enquanto a desconexão com a essência dos personagens, em particular Goku, levanta questões sobre a direção criativa da série.
Portanto, a resenha de Dragon Ball Super não se resume a uma crítica negativa, mas sim a um apelo por uma reflexão mais profunda sobre o que significa continuar uma história tão amada. A série tem potencial para recuperar a essência que a tornou um ícone, mas isso exigirá uma reavaliação cuidadosa de seus valores narrativos e estéticos. Dragon Ball Super, em última análise, reflete uma luta entre a nostalgia e a inovação, um equilíbrio que a franquia precisa encontrar para não se perder em sua própria história.