TEM SPOILERS!
Stranger Things (3ª Temporada)
Se compararmos essa terceira temporada com as duas anteriores, com certeza essa daqui é a mais leve, a mais cômica, a que chega mais perto de uma comédia. Mas de qualquer forma a série continua completamente imergida na essência oitentista, continua trazendo inúmeras referências da cultura pop dos anos 80.
A história começa no verão de Hawkins no ano de 1985. O grupo está de férias escolar só curtindo o novo Shopping Center que inaugurou na cidade, por sinal muito curioso este Shopping. O que logo de cara já me chamou atenção foi como o elenco "infanto-juvenil" cresceu. É muito nítido como eles cresceram da temporada 2 para esta, visto que a segunda temporada foi estreada em Outubro de 2017 e esta em Julho de 2019, obviamente todo esse tempo serviu para dar uma estivada no elenco mais jovem.
A temporada já inicia dentro daquela essência que é a marca registrada da série, que é justamente a amizade do grupo. Dentro desse grupo continua os relacionamentos e os embates, que sempre pressiona a amizade entre eles. É interessante notar que agora que eles cresceram eles tem outras preocupações e outros objetivos. Os meninos não querem mais ficar só no porão jogando cartas (como nas temporadas passadas), querem namorar as garotas. Já as garotas também querem se envolver com os meninos. Todo esse clima de azaração dentro do grupo cria rusgas entre eles, o que vai impactar em algumas decisões e até em algumas separações. Porém, quando a cidade se vê novamente tomada pelas ameaças do passado, o grupo precisa deixar de lado as suas diferenças e se unirem em prol de uma única causa.
Novamente temos a cidade envolvida em novas experiências do governo, o que logo impacta em novas personalidades estranhas que vão aparecendo por toda a cidade. Temos praticamente uma invasão russa na cidade de Hawkins, onde eles instalam uma base de pesquisa e cobaias com testes em uma grande máquina que está abrindo um portal para o Mundo Invertido. Um ponto que chama bastante atenção nessa terceira temporada é toda discursão política que vai se estabelecendo e envolvendo cada episódio. A temporada inteira é focada no embate entre os americanos e os russos, o que traz um aspecto mais atual mesmo a série se passando nos anos 80, e muito pelos seus diálogos, pela visão política, pelo comunismo, até mesmo nos vilões da temporada (isso é bem anos 80).
A terceira temporada de "Stranger Things" tem uma construção bastante intrigante nos primeiros episódios, que é justamente todos os acontecimentos envolvendo os ataques dos ratos que pareciam estarem envolvidos pela raiva. Depois vamos descobrindo sobre o devorador de mentes, que controla as suas presas e as transforma em hospedeiro. E justamente o devorador de mentes fica cada vez mais forte absorvendo as pessoas que ele possuiu naquela transformação em espécie de gosma. Dentro desse contexto finalmente deixaram o Will (Noah Schnapp) um pouco de lado para focarem em um novo possuído da temporada. Essa foi uma renovação bem funcional da temporada, trazerem um protagonismo justamente para o Billy (Dacre Montgomery), que assim como a Max (Sadie Sink), foram personagens que tiveram pouca relevância na temporada passada. Acredito que acertaram em transformar o Billy em uma espécie de vilão, e muito por ele já possuir aquela pinta de machão, o famoso porra-loca, que já enfrentava tudo em todos ao seu redor.
Achei muito bom toda a relevância e a importância que o Billy ganhou na temporada, o que combinou perfeitamente com todo o seu estilo. Assim como a nova personagem Heather (Francesca Reale), a salva-vidas do clube que também foi possuída pelo devorador de mentes através do Billy. A própria Max também ganhou mais relevância na série, principalmente ao construir aquela amizade com a Onze (Millie Bobby Brown) e ao se unirem contra os namorados e buscarem o paradeiro do Billy. Temos um novo grupo que se formou com o Dustin (Gaten Matarazzo), o Steve (Joe Keery), a Robin (Maya Hawke) e a Erica (Priah Ferguson). Este grupo serviu para a inclusão na série da nova personagem Robin, que trabalha junto com o Steve na sorveteria do Shopping, e própria Erica Sinclair, a irmã mais nova do Lucas (Caleb McLaughlin), que já havia aparecido na temporada passada, porém sem grande importância.
Finn Wolfhard ("Pinóquio por Guillermo del Toro") com uma participação ok como Mike, sempre atrás da Onze. Caleb McLaughlin ("Alma de Cowboy") traz novamente o seu Lucas criativo e sempre engraçado. Noah Schnapp ("O Halloween do Hubie") com um Will de certa forma até escanteado na temporada, até pelos próprios colegas do grupo, pois ele era o único ali que não tinha uma envolvimento amoroso com ninguém. Eu vejo o Will nessa temporada usado apenas como um refugo do que já havia acontecido nas duas temporadas anteriores, pois claramente ali ele teve mais relevância dentro da série, ou seja, aqui ele está totalmente secundário. Gaten Matarazzo ("O Dragão do Meu Pai") é disparado o melhor do grupo dos meninos, pois ele consegue manter aquele Dustin engraçado, carismático, mais participativo, e muito por nessa temporada ele fazer parte de outro grupo.
Millie Bobby Brown ("Godzilla vs Kong") sempre muito bem com sua destacável personagem Onze, dessa vez mais integrada no grupo (como aconteceu na primeira temporada), onde tem participações direta em todos os acontecimentos da história. Aquele episódio onde ela confronta o passado do Billy e da Max é muito bom, funciona como uma espécie de arco pessoal dos dois. Sadie Sink ("A Baleia") está mais participativa, mais integrada, mais relevante, traz uma Max mais familiarizada com o grupo e sem aquela arrogância que ela apresentou no começo da temporada passada. A linda Natalia Dyer ("Vozes e Vultos") está bem envolvida na história com sua personagem Nancy, e tem participações fundamentais com as primeiras revelações sobre aqueles ataques dos ratos. Assim como o próprio Charlie Heaton ("Os Novos Mutantes"), que trouxe um Jonathan que já está envolvido amorosamente com a Nancy e juntos formam aquela dupla infalível de improváveis repórteres investigativos.
Joe Keery ("A Grande Jogada") se achou perfeitamente no personagem Steve, pois na minha opinião ele tem a sua melhor apresentação e participação de toda a série. A formação daquele novo grupo foi fundamental para o crescimento do Steve dentro da série, pois ele parou de correr atrás da Nancy e se focou em um objetivo. A própria Maya Hawke ("Era uma Vez em... Hollywood") com sua personagem Robin contou muito para todo o crescimento e desenvolvimento do Steve, onde ela também tem um grande envolvimento na temporada e se destaca muito bem. Foi muito interessante acompanhar aquela espécie de calvário do Steve ao ter que trabalhar na sorveteria do Shopping e dividir seu ambiente justamente com a Robin, que ele ignorava e desdenhava. Porém, logo eles vão se envolvendo e se conhecendo onde rola aquela cena do banheiro na base russa, onde ambos vão se revelando um para o outro. Priah Ferguson ("A Maldição de Bridge Hollow") é uma graça ao interpretar a destemida Erica com muito carisma, que inicialmente só queria degustar os sorvetes e logo após ela ganha um grande destaque ao entrar para aquele novo grupo.
Como eu já destaquei, o Dacre Montgomery ("Power Rangers") nessa temporada ganha um protagonismo e uma grande relevância com seu personagem Billy, e ele dá conta do recado direitinho. David Harbour ("Viúva Negra") é sempre excelente com seu personagem Jim Hopper. Dessa vez ela está menos policial e mais detetive porra-loca que entra em qualquer lugar e enfrenta qualquer um (David Harbour é um excelente ator). A majestade Winona Ryder ("Cisne Negro") é sempre maravilhosa e sempre muito carismática. Dessa vez ela compõe uma Joyce menos sofrida, menos dramática, pois o problema aqui não girava em torno do Will como nas temporadas passadas. Isso contou muito para ela formar uma dupla imbatível com o David Harbour, onde a trocação de farpas entre eles era constante, mas no fundo tudo não passava de um grande sentimento que estava guardado.
Em questões técnicas e artística a série continua dando um verdadeiro show!
A trilha sonora novamente está impecável, novamente trouxe toda uma referência à essência musical dos anos 80, que já é uma marca registrada da série. O que dizer daquela cena maravilhosa do último episódio onde o Dustin e a Suzie (Gabriela Pizzolo) cantam "Never Ending Story" (Limahl). Os efeitos especiais sempre condizentes com toda a proporção e toda a magnitude da qualidade da série. A direção de arte sempre impecável, fazendo um trabalho absurdo, com detalhes riquíssimos entre as qualidades de todos os objetos de cena e principalmente dos cenários. A cinematografia é outro grande destaque tanto da série quanto da temporada, e aqui ela está muito bem representada com uma fotografia muito bem ajustada, muito bem destacada, um verdadeiro show. A série continua mostrando toda a sua qualidade com uma ótima montagem, com uma ótima edição, com uma ótima mixagem, com uma ótima direção de cada episódio. Nesse quesito não tem como, "Stranger Things" sempre se destaca como referência.
Na minha crítica da segunda temporada de "Stranger Things" eu havia falado sobre a irmã da Onze, a Kali (Linnea Berthelsen). Onde temos um episódio inteiro focado em uma espécie de arco pessoal da Onze que nos revela coisas do seu passado envolvendo a sua família, e justamente nos leva até a Kali e sua gangue esquisita. Pra mim aquele episódio é bem fraco e fora do contexto da série, onde eu disse que esperava que a Kali e sua trupe tivesse alguma relevância nas próximas temporadas, porque se fosse apenas uma mera participação seria bem frustrante. E não deu outra, nessa terceira temporada sequer citaram alguma coisa que remetesse aquele grupo. Não sei se na quarta temporada aparece alguma ligação com essa parte mencionada, eu acredito que não, portanto, foi sim uma mera participação completamente desnecessária e frustrante.
O último episódio é muito bom, pois temos aquele embate com a criatura exatamente dentro daquele Shopping recém inaugurado na cidade que eu havia mencionado. É um episódio chocante, revelador, impactante, comovente e emocionante, pois...
O que dizer daquela carta emocionante e reveladora que o Hopper deixa para a Onze, que nos deixa com lágrimas nos olhos. Assim como o final do episódio, onde o grupo de amigos e namorados se separam pela primeira vez com a família Byers indo morar em outra cidade juntamente com a Onze. A própria morte do Billy é bastante impactante para a Max e para nós espectadores, onde eu achei até questionável essa decisão, visto que ele tinha chegado na série na temporada anterior e não tinha tido nenhuma relevância, ai quando ele ganha seu protagonismo a série simplesmente tira ele do elenco. Agora surpreendente, impactante e desconcertante foi a morte do Hopper. Eu fiquei boquiaberto na hora, sem reação, em choque, pois eu jamais esperava esse acontecimento na série. Eu realmente achava que ele iria se desenvolver ainda mais, iria finalmente começar o relacionamento com a Joyce, que ele fosse um personagem que jamais sairia da história. Me surpreendeu demais, me deixou extremamente triste, pois eu já estou desacostumado de perder personagens que amamos, por justamente já fazer um tempinho que a série "The Walking Dead" terminou.
Vale ressaltar aquela cena pós-créditos que nos leva até uma base russa na própria Rússia, com acontecimentos que nos deixa curiosos acerca do que estar por vir na próxima temporada, e que me deixa com duas perguntas: será que o Hopper realmente morreu? Será que a Onze realmente perdeu os seus poderes telecinéticos?
A terceira temporada de "Stranger Things" é muito boa, mas é fato que ela é inferior as duas temporadas anteriores. Mas de qualquer forma é um temporada muito importante, atraente, reveladora, surpreendente, emocionante, que mesmo sendo uma temporada mais próxima do cômico com uma alta dose de comédia, mas não deixa de ser um drama totalmente imergido na fantasia e no terror. [18/03/2023]