TEM SPOILERS!
Stranger Things (2ª Temporada)
A segunda temporada de "Stranger Things" continua excelente, mantém praticamente o mesmo nível da primeira, continua com a mesma essência oitentista ao dar continuidade na história que continua mergulhada no drama, na fantasia, no terror, um puro Sci-Fi estilo anos 80 com um ótimo alívio cômico, que nunca pode faltar.
Dessa vez a história se passa em 1984, um ano após os acontecimentos da temporada anterior, onde Will (Noah Schnapp) foi encontrado e resgatado do Mundo Invertido. Porém, ao final do último episódio da primeira temporada observamos Will cuspir dentro da pia do banheiro um tipo de larva, que obviamente seria alguma espécie de criatura do Mundo Invertido que estava alojado dentro dele, ou seja, esse era o gancho para a segunda temporada. E não deu outra, a segunda temporada parte exatamente desse acontecimento com Will, que foi resgatado e volta para sua família, porém, ele continua com uma forte ligação com o Mundo Invertido, algo que está vivendo dentro dele, que o faz sentir todas as reações, algum tipo de possessão maligna que o mantém aprisionado e diretamente ligado com o Mundo Invertido.
O primeiro episódio já inicia de forma curiosa e bastante misteriosa, ao nos apresentar uma gangue fugindo dos policiais e entre eles uma garota com os mesmos poderes telecinéticos da Eleven (Millie Bobby Brown). De fato esse era um ponto que eu fiquei pensando ao final da primeira temporada, que fatalmente eles poderiam incluir na série uma outra pessoa com os mesmo poderes da Eleven, talvez para competir ou rivalizar com ela. O episódio segue agora com mais descontração ao nos levar de volta à Hawkins, onde temos Will, Mike (Finn Wolfhard), Dustin (Gaten Matarazzo) e Lucas (Caleb McLaughlin) conhecendo uma nova garota recém-chegada na escola. Essa garota é Maxine / Max (Sadie Sink), que junto do seu meio-irmão Billy (Dacre Montgomery), são os novos integrantes que chegaram para esta segunda temporada.
O episódio ainda serve para nos mostrar como o Will ainda continua preso no Mundo Invertido e sendo constantemente observado pelo governo, algo como um estresse pós-traumático do ocorrido no ano anterior, ainda mais por ele agora se sentir rejeitado e ser tratado com indiferença pelas pessoas, que o chamam de aberração e Zumbi.
Esta segunda temporada nos dá a exata dimensão sobre todo o controle que o governo ainda continua impondo sobre Hawkins, ou seja, monitorando toda a cidade, grampeando todos os telefones, vendo tudo, escutando tudo, definitivamente uma cidade controlada pelos organizações governamentais. A temporada mostra uma parte bem interessante, que é o destino que a Eleven seguiu após os acontecimentos finais da temporada anterior, mostrando que ela ainda procurou o Mike. Achei muito boa a decisão do Jim Hopper (David Harbour) em adotar a Eleven, de alguma forma para tentar protegê-la das ameaças que a rodeava, e também pelo trauma que ele carrega por ter perdido sua filha. Mike e Nancy (Natalia Dyer) ainda estão lidando com as perdas de Eleven e Barb, respectivamente. Portanto temos algumas investigações em relação ao desaparecimento da Barb, até mostrando como seus pais estão lidando com tudo isso.
Dustin encontra seu novo animalzinho de estimação, que obviamente é um criatura originária do Mundo Invertido. Aquela relação que vai se construindo entre o Bob (Sean Astin) e o Will, mostrando como ele também sofreu em sua infância e até dando algumas dicas do que fazer para o Will. Temos aquele clima de romance no ar entre Joyce (Winona Ryder) e Hopper. Assim como os vários flertes entre Nancy e Jonathan (Charlie Heaton), até porque eles partem em uma missão em que ambos se ajudam, dessa forma acaba rolando um pequeno lance entre os dois. Começa uma disputa (bem hilária, eu diria) entre Dustin e Lucas por Max. Billy contraria Steve (Joe Keery). Steve começa uma amizade com Dustin, bem interessante por sinal. No laboratório todos já tomam conhecimento da existência das criaturas do Mundo Invertido, assim todos se ajudam e Eleven percebe que precisa fechar o portal e matar o monstro que está dominando Will, caso queira salvá-lo.
A inclusão na série da Max e seu meio-irmão Billy é positiva e agregou bastante, principalmente pela parte da Max, que chegou e já integrou perfeitamente com o grupo dos garotos. Sobre ela é interessante notar aquela história em que ela conta da sua família, incluindo sua mãe e seu pai adotivo, o que me leva a questionar sobre esse seu possível "irmão". Já sobre o Billy eu também acredito que foi um acerto da série, porém, nessa temporada ainda ficou devendo, ainda não pudemos entender o seu real propósito na série, que não seja apenas ser inteiramente um porra-loca arrumando briga e desafiando tudo e todos que se atravessa em seu caminho. Por outro lado o episódio que mostrou seu pai o enfrentando é bem interessante, o que me deixa ainda mais curioso sobre qual rumo o personagem irá tomar na próxima temporada, isso inclui também a Max.
Já sobre a Eleven temos dois episódios bastante curiosos: o quinto, onde mostra que ela fugiu dos domínios do Hopper e fui em busca da sua mãe, que está em um estado vegetativo. Nesse episódio passamos a entender um pouco mais sobre a história da Eleven e sua mãe. E temos o sétimo, que é justamente um episódio que foge um pouco do contexto da série, ao nos mostrar a Eleven em busca daquela garota que citei no início, a garota que também possui poderes telecinéticos. Nesse episódio descobrimos que a garota se chama Kali (Linnea Berthelsen), uma cobaia do laboratório Hawkins tendo ganhado o número 08 e sendo a irmã mais velha de Eleven. O episódio também serve para nos revelar que o nome verdadeiro da Eleven é Jane, que a Kali possui poderes telecinéticos diferentes da Eleven e até mais forte. Por outro lado também mostra a busca da Eleven (Jane) em achar respostas sobre o seu passado familiar, que obviamente envolve sua mãe, sua nova irmã e até seu pai.
Porém, devo considerar este sétimo episódio como o mais diferente da temporada, o mais fora de contexto, o mais questionável, sendo até o mais fraco. Toda aquela gangue que acompanha a Kali eu achei bem estranha e bem fora de contexto. Na verdade este episódio é inteiramente focado em um arco da Eleven, em que obviamente nos revela sobre essa trupe e a própria Kali, mas no meu ponto de vista é fora da narrativa, não agrega muita coisa na história que já estava sendo desenrolada antes mesmo desse grupo aparecer. Só espero que este grupo não morra na praia e tenha alguma relevância nas próximas temporadas, porque se for apenas uma mera participação será bem frustrante.
Sobre o elenco:
Os garotos Finn Wolfhard, Gaten Matarazzo, Caleb McLaughlin e Noah Schnapp sempre dão um show, continuam sendo excelentes em cada personagem. Gaten Matarazzo com seu ótimo Dustin, que teve episódios muito bons, principalmente a partir do seu encontro com o "Dart". Caleb McLaughlin trouxe um Lucas ainda mais participativo e hilário, principalmente naquela disputa pra ficar com a Max (e no final foi ele que conseguiu). Noah Schnapp traz um Will muito mais participativo nessa temporada, compondo episódios com uma alta entrega de interpretação, principalmente naquela cena final onde temos uma homenagem ao filme "O Exorcista", com a luta para libertá-lo daquela força monstruosa que o fazia de refém. Finn Wolfhard passa a temporada inteira sendo um Mike que ajuda diretamente seu amigo Will, porém, ele não consegue se desvencilhar das suas lembranças da Eleven.
Millie Bobby Brown mais uma vez excelente como a Eleven que já conhecemos e dessa vez indo até mais longe sendo a jane. Aquela cena que ela retorna para ajudar seus amigos e aparece do nada na frente de todos é muito boa. Nessa cena os olhinhos do Mike brilham de emoção ao rever a sua crush (e aquele beijinho no baile). Sadie Sink foi uma excelente escolha para viver a personagem Max, assim com o próprio Dacre Montgomery, que construiu um Billy com um propósito curioso e bastante questionável. Natalia Dyer (ainda mais linda que a primeira temporada) novamente integra uma Nancy que está lutando e buscando respostas, conseguindo se colocar de vez na série como uma personagem extremamente importante para a trama. Foi interessante acompanhar todo o desenvolvimento daquele triângulo amoroso entre ela, o Jonathan e o Steve. Por falar em Jonathan, Charlie Heaton cresceu muito no personagem e hoje nem é sombra daquele Jonathan que iniciou a primeira temporada, onde era zoado por todos ao seu redor. Assim como o próprio Joe Keery, que também teve um notável crescimento no seu personagem Steve, se destacando como fundamental para o grupo principalmente nos últimos episódios.
Winona Ryder já é a cara da série com sua personagem Joyce, que novamente mantém um altíssimo nível de atuação, sendo decisiva para o resgate e a libertação do seu filho Will. David Harbour novamente dá outro show na pele do destemido e corajoso Jim Hopper, nos mostrando em como ele se aplicava e lutava por uma causa, tanto na parte da Eleven quanto ao ajudar a Joyce. Como já mencionei anteriormente, está começando a nascer um possível romance entre Hopper e Joyce, que eu torcerei fervorosamente para que aconteça na próxima temporada, ainda mais depois da tristeza da Joyce por conta da morte brutal do Bob. Por falar em Bob, Sean Astin desenvolveu um ótimo personagem, sendo amável com a Joyce, brincalhão com o Will e até tentando desenvolver um vínculo afetivo com o Jonathan. Lamentei muito a sua morte, eu realmente queria que ele continuasse na série. Sem esquecer de mencionar a atriz Priah Ferguson, que deu vida a Erica Sinclair, a hilária irmã mais nova do Lucas.
Tecnicamente a série continua impecável!
Os efeitos especiais continuam excelentes. Uma fotografia prazerosa. Uma direção de arte muito bem ajustada e condizente com os anos 80. Por falar em anos 80, o que não falta na temporada são referências aos anos 80: como a referência ao clássico "O Exterminador do Futuro" e o icônico "Os Caça-Fantasmas", ambos lançados em 1984. Falando do filme "Os Caça-Fantasmas", temos aquela cena em que os garotos se vestem como os personagens do filme na noite de Halloween e discutem entre eles ao som da clássica "Ghostbusters" (Ray Parker Jr.). Por sinal uma cena excelente. No último episódio temos o baile da escola, onde temos as ótimas cenas em que os garotos procuram seus pares para o baile, rolam uns foras, uns desentendimentos e obviamente, uns beijinhos. Tudo isso ao som da clássica "Every Breath You Take" (The Police) e a maravilhosa e inesquecível "Time After Time" (Cyndi Lauper).
O episódio nove termina exatamente com aparição daquela gigante criatura das sombras tomando conta da escola e de toda cidade de Hawkins. O gancho perfeito para a terceira temporada.
A segunda temporada de "Stranger Things" é excelente, e muito por conseguir manter a essência, o ritmo e todo o clima da primeira. Apesar de estar um pouquinho abaixo da primeira temporada justamente por algumas decisões questionáveis do roteiro, mas em nenhum momento isso tira o peso e o brilho da série.
A série continua sendo maravilhosa e continua como uma das minhas séries preferidas. Pois além da série nos mergulhar em suas histórias com um contexto inserido no drama, na fantasia e no terror, além de nos proporcionar excelentes atuações e um ótimo roteiro, "Stranger Things" vai muito mais além de uma simples série de Sci-Fi ao nos trazer discursões acerca de transtornos mentais, ao nos fazer refletir em como as nossas fraquezas e nossos medos podem se virar contra nós - magnífico! [23/02/2023