Obra-prima da TV brasileira atual. Dois autores estreantes deram show de competência: os alicerces e filões mais tradicionais do folhetim foram reescritos com roupagem e ambientação novas. Como se isso já não bastasse para a realização de uma boa novela, deram, diariamente, uma verdadeira aula de história do Brasil. Através do herói Zé Maria (Lázaro Ramos), pode-se revisitar a Revolta da Chibata, por exemplo. Falou-se ainda da formação das favelas no Rio de Janeiro, base para a abordagem de outra Revolta, a da Vacina. Referências históricas também não faltaram, como a cena (inspirada em um fato real) na qual um negro aparece pintado de branco para, assim, ser aceito em um jogo de futebol. Lado a Lado foi, ainda, um deleite para quem aprecia uma história dramática bem contada. Impossível não se emocionar com a interpretação de Camila Pitanga, na pele da sofredora (mas nada piegas) Isabel, ou de Milton Gonçalves, o ex-escravo Afonso em sua delicada relação com a filha. Ainda o melhor momento da carreira de Patrícia Pilar, que construiu uma vilã tradicional, odiável, sádica, sem escrúpulos, mas absolutamente humana (onde facilmente se diferencia de Flora, vilã anteriormente interpretada pela atriz em A Favorita). Muitos foram os momentos catárticos de Lado a Lado, que pode não ter sido um grande sucesso de audiência, mas foi, sem dúvida, um momento de inquestionável bom gosto numa época em que qualidade televisiva se tornou artigo de luxo.