Tráfico Além de Escobar.
Impossível deixar de citar que NARCOS, série co-produzida por José Padilha e protagonizada por Wagner Moura, chamou a atenção do mundo pela imensurável qualidade documental implícita na obra. A expectativa por sua continuação era grande, já que o último episódio deixava claro que teríamos muito ainda para ver, o que certamente esta sensacional segunda temporada entrega para deleite dos fãs.
O primeiro episódio da Season 2 de NARCOS tem início exatamente onde a primeira terminou, com a fuga de Pablo Escobar da prisão El Catedral. Nesses minutos iniciais já podemos perceber que um nos maiores narco-traficantes do planeta representa do ponto de vista da intimidação, principalmente pela discrepância com que ele "enfrenta" um grupo de soldados sem usar qualquer arma, apenas argumentos. Mas muito ainda estaria por vir...
A temporada tem por objetivo mostrar como foram 18 meses de caçada a Pablo Escobar (Wagner Moura) após sua inusitada fuga da prisão construída por ele em território colombiano. Escobar mostra-se ainda mais cruel, já que sua postura para mostrar poder e exigir respeito envolve derramamento de sangue em grande quantidade, principalmente de civis inocentes. As descrições que vão sendo ilustradas corroboram ainda mais para enaltecer sua índole brutal, sendo inclusive defendida por pessoas que mal percebem os riscos que correm ao se aliarem a alguém tão perigoso.
Nesta nova temporada, fica nítido a preocupação dos produtores em elevar a presença de dois elementos cruciais: política e rivais do tráfico. Escobar faz grande uso de suas artimanhas para convencer os políticos de que ele detém autonomia para fazer o que bem entender, rendendo momento delicados entre pessoas importantes na história, como é o caso do Horacio Carrillo (Maurice Compte), homem importante no combate às ações do traficante colombiano; e também de Gustavo de Greiff (Germán Jaramillo), figura da alta cúpula governamental responsável por grandes conflitos de interesse entre o presidente César Gaviria (Raúl Méndez) e o Grupo de Busca ao narco-traficante. Os rivais de Escobar também ganha mais espaço do que nunca, já que os cartéis esternos a Medellin, principalmente de Cali, também movem seus interesses na caça ao rival.
O conteúdo documental surge em escala reduzida nesta segunda temporada, naturalmente devido ao menor intervalo abordado, mas isso não deixa espaço para problemas, pois as poucas aparições de material gravado na época já conseguem deixar bem evidentes grandes dificuldades encontradas pelas autoridades colombianas, além da crueldade cada vez mais implícita nos atos de Pablo. Em contrapartida, tal material também serve de reforço para ilustrar os atos do grupo paramilitar que ficou conhecido como Los Pepes. São deles as maiores e mais brutais ações para "auxiliar" na derrocada do império de Escobar, punindo sem piedade aqueles que, de alguma maneira, estão ligados ao grande vilão da série.
Steve Murphy (Boyd Holbrook) e Javier Peña (Pedro Pascal) retornam como agentes do DEA com uma dedicação que extrapola o bom senso, deixando com que suas vidas fiquem em segundo plano mesmo que gerem consequências sérias e quase permanentes. A atuação da dupla cai muito bem, pois o entrosamento observado em cena mantém o mesmo nível da temporada anterior, deixando-nos torcendo por eles a cada instante de dificuldade. Mas apesar das boas atuações, quem carrega NARCOS nas costas é o brilhante Wagner Moura. O ator aqui é capaz de interpretar um personagem que oscila com sentimentos que pairam entre a dócil atenção paterna até o prazer por matar um inimigo de forma fria e cruel. Seus olhares e reações a cada novo problema mostram como um astro torna-se gabaritado por sua performance fenomenal, deixando que os holofotes estejam sempre sobre ele, independente de ser o bom ou mal.
Apesar do grande foco ser nas ações do governo e o traficante, há uma deliciosa e perspicaz tratativa abordada pelos roteiristas para pontuar como os agentes norte americanos lidam com os problemas que surgem como barreiras nas investigações. Percebemos a arrogância de agências que são literalmente adeptas da máxima de que os fins justificam os meios, ainda que isso resulte em ações fora do controle.
Já perto do fim de seus 10 episódios, a série consegue ser capaz de nos colocar, ainda que de forma amena, na torcida pela sobrevivência de Escobar, muito disso pela performance fantástica de Moura, mas o senso de realidade volta a tona quando nos deparamos com as lembranças das atrocidades causadas pelo bandido e, como já disse certo personagem outrora interpretado por Wagner Moura: "bandido bom é bandido morto".
A segunda temporada de NARCOS conclui sua tarefa com crédito e satisfação inegável ao espectador. Seu caráter documental com pitadas de ficção dão ao material um toque único e raramente fantasioso, cujo resultado só deixa ainda mais claro que a guerra contra o narco-tráfico estão longe de ser terminada, algo que as próximas temporadas estarão encarregadas de mostrar.