Uma das primeiras cenas de Agent Carter é uma em que ela anda contra uma multidão de homens, um símbolo do que a série se propôs a mostrar colocando a personagem Peggy Carter em um programa só seu. Uma das últimas cenas mostra Peggy discursando como ela não precisa e não quer a aprovação dos homens. Nada mais correto e justo com uma personagem que já mostrava qualidade no primeiro filme do Capitão América, e aqui deixa ainda mais claro que é muito mais poderosa do que os desavisados podem pensar.
O último episódio da série termina com maestria uma jornada começada logo no primeiro episódio, sem inserir floreios ou muitas coisas paralelas. Totalmente focado em ação, ele funciona sozinho tão bem quanto os últimos episódios, mostrando o desfecho da situação envolvendo Howard Stark e a organização Leviathan de forma satisfatória. Só esse fato já tornou o episódio bom e a série legal, mas, para felicidade geral da nação, o resultado de toda a trama desses 8 episódios foi muito maior.
Agent Carter tinha dois objetivos iniciais bem claros: aprofundar Peggy Carter (Hayley Atwell) e o universo Marvel. O primeiro não precisou de muito para ser atingido, pois logo nos primeiros episódios já conseguimos ter uma noção muito melhor de quem é essa agente especial, que não se importa com todas as tentativas, por parte de outros agentes, de denegri-la. Ela queria fazer seu trabalho, não para mostrar para seu chefe ou seus colegas que ela era boa, mas porque assim queria fazer e ponto. A cena em que Peggy diz não se importar com o que os homens pensam dela, fosse antes ou depois de ela salvar o dia, resume claramente esse ponto. Um ponto importante para se passar adiante, por sinal, pois muitos homens ainda acham que as mulheres devem fazer as coisas para agradá-los, apenas isso, na pura filosofia do “sirva-me um sanduíche”. Ver Peggy vencer inúmeros desafios, não aceitando desaforo de ninguém, é uma felicidade diante da ainda falha demonstração da mulher nesse universo recheado de heróis masculinos. Sem a necessidade de inserir um romance, sem a necessidade de tornar tudo mais bobo, sem tirar nenhuma dignidade dela através de estereótipos falhos.
O segundo ponto, de ampliar o universo, também foi atingido com o maior dos louvores ao final dessa temporada. Tudo que parecia confuso no decorrer da história acabou fazendo sentido no final, como a organização Leviathan, os homens mudos, a batalha de Finow e o misterioso Ivchenko. Absolutamente tudo se conectou em uma grande teia de acontecimentos de gerar orgasmos nerds nos fãs mais espertos da Marvel. Uma faísca que havia se iniciado no Soldado Invernal e ganhado alguma força em Agents of S.H.I.E.L.D. aqui se tornou um incêndio, com a revelação do vilão Dr Faustus, especialista em hipnose e responsável por experimentos como o do personagem Soldado Invernal e da Sharon Carter, por exemplo, tornando cada vez mais interessante as possibilidades para os futuros filmes e séries da Marvel, ainda mais com a presença de Zola na cena pós-crédito.
Toda a qualidade do roteiro, que gerou esses pontos acima, já torna uma série boa, mas Agent Carter conseguiu ir ainda mais longe com o cuidado que a produção de arte da série teve em nos transportar para a NY dos anos 40. Desde o primeiro episódio, nós nos deparamos com um visual e trilha sonora muito bem selecionados, misturando o jazz daquela época com letreiros de neon, muita art déco e um belo trabalho de figurino. Até mesmo as invenções de Stark, que vemos ao longo dos episódios, apresenta um visual que mistura o retrô daquela época com as ideias absurdas que eles tinham de como seria o futuro. Some isso ao trabalho de roteirização e atuação, com bons diálogos e momentos, e você tem uma série que o faz entrar na pele de Peggy Carter rapidamente.
Agent Carter se mantém fiel ao universo Marvel, ampliando-o com uma qualidade ímpar. O aprofundamento psicológico de Peggy é feito sem pressa, respeitando ao mesmo tempo a sua obstinação e força com o seu amor por Steve, sem nunca errar na balança. É uma série que demonstra o poder das personagens femininas de quadrinhos para todos que duvidavam da qualidade delas, nos deixando ansiosos por séries como A.K.A. Jessica Jones e Supergirl ou os vindouros filmes da Mulher Maravilha ou Miss Marvel. Parece que alguns “nerds” terão que rever seus conceitos…